A música foi a linguagem da despedida de Naná Vasconcelos

No funeral do percussionista, muita emoção e celebração das tradições e ritmos do Estado
Diogo Guedes
Publicado em 11/03/2016 às 4:08
No funeral do percussionista, muita emoção e celebração das tradições e ritmos do Estado Foto: JC Imagem


Foi uma despedida com mais música do que palavras. Talvez só o batuque e os ritmos pudessem dizer com precisão maior o que é perder Naná Vasconcelos, falecido na última quarta (9). Na manhã de quinta (10), depois de uma noite com "um minuto de barulho" em sua homenagem, uma multidão de familiares, amigos, parceiros e fãs – em suma, pessoas tocadas pela vida e pela obra do músico – fez do adeus ao percussionista pernambucano uma festa espontânea, diversa e emocionante.

A partir das 9h, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) hospedou cerimônia religiosa, conduzida por Pai Raminho de Oxóssi. Os cantos do candomblé regeram a primeira homenagem do dia a Naná. Logo depois, o grupo Voz Nagô, um dos que acompanhavam o músico nas aberturas do Carnaval do Recife, entoou loas em homenagem a ele. Depois, o Padre Rosendo também falou para os presentes.

No caixão, o corpo de Naná foi velado pela família, bastante emocionada, incluindo o irmão Erasto Vasconcelos, acompanhado de uma bandeira de Pernambuco com o escudo do Santa Cruz, seu time do coração. Assim que a cerimônia acabou, o cortejo, com maracatu, já esperava para levar o corpo para o Cemitério de Santo Amaro. Começava ali a bela festa de despedida de Naná, um retrato da generosidade e do trabalho que marcou o percussionista.

No caminho, a curiosidade e a homenagem dos passantes que viam aquela multidão celebrar as raízes e o legado de Naná. Pelo menos oito nações – Leão da Campina, Almirante do Forte, Bacnaré, Encanto de Alegria, Maracatu Porto Rico, Estrela Brilhante, Cambinda Estrela e Raízes de Pai Adão – aguardavam para fazer da frente do cemitério uma pequena amostra da força e do simbolismo da abertura do Carnaval. Até mesmo a icônica torcedora do Sport, dona Maria José, marcou presença no sepultamento.

Ao contrário da oficialidade de outros funerais de figuras públicas, a despedida de Naná foi feita de forma organizada, mas com espaço para várias vozes, muito batuque. No pequeno espaço dedicado para o enterro, amigos e admiradores se espremeram para tentar ver pela última vez o corpo do músico – vários jogaram rosas e flores de longe no caixão.

Grupo Voz Nagô homenageia Naná Vasconcelos na cerimônia de despedida do percussionista na Alepe #nanavasconcelos

Um vídeo publicado por Jornal do Commercio PE (@jc_pe) em Mar 10, 2016 às 4:38 PST

Os parceiros e discípulos de Naná não deixaram de expressar a emoção e a gratidão pela companhia e os muitos ensinamentos do percussionista. Lirinha, um dos mais emocionados, explicou que entender Naná era “fazer uma viagem pelos muitos elementos da música”. “Ele é a minha maior influência na unidade do regional com o universal. Ele fez uma música livre e libertou os instrumentos feitos por negros e pelos indígenas do fundo do palco: trouxe eles para a luz e o protagonismo”, comentou o músico.

Otto, também bastante triste, afirmou que “a grandeza de Naná não tem dimensão”. “Nana é rei. Ele é rei”, sintetizou. O Maestro Forró lembrou o último show com Naná, na abertura do Carnaval, quando o percussionista tocou com ele Rainha se Coroou no Marco Zero. “Foi um símbolo de grandiosidade", afirmou. Ainda estiveram presentes Canibal, Maestro Spok, Jomard Muniz de Britto, Maciel Salu, Galo Preto, Clayton Barros, Claudionor Germano, Belo Xis e Bella Maia, entre muitos outros

Entre as autoridades, prestaram suas homenagens a secretária municipal de Cultura Leda Alves, a presidente da Fundarpe Márcia Souto, o ex-secretário municipal de Cultura, José Roberto Peixe e o diretor de políticas culturais da Secretaria Estadual de Cultura, André Brasileiro. “Para Pernambuco é essencial manter o legado de Naná, o seu trabalho, através dessa geração de músicos e admiradores que ele gerou”, comentou Márcia.

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