Um dos shows mais aguardados no Recife este ano, o Aerosmith se apresenta na capital pernambucana no dia 21 de outubro, no Classic Hall. A alta expectativa tem um duplo motivo. Em primeiro lugar, a banda de Boston nunca passou pelo Nordeste. Além disso, é muito provável que esta será a última oportunidade de vê-los ao vivo.
Em entrevista ao programa de rádio The Howard Sterm Show, em junho, o vocalista Steven Tyler – que acaba de lançar Somebody From Somewhere, seu primeiro álbum solo – anunciou que a banda fará uma turnê de despedida em 2017 e depois encerrará as atividades. “Eu amo essa banda, de verdade, e quero tirar todas as dúvidas que alguém pode ter sobre isso. Somente duas bandas históricas estão na ativa hoje em dia com suas formações duradouras, os Rolling Stones e nós. Nós vamos fazer uma turnê de despedida, mas só porque chegou a hora”, declarou.
Mas até lá, o Aerosmith tem muita estrada pela frente e disposição. A turnê pela América do Sul vai passar pelo Brasil (três shows), Argentina, Chile, Colômbia, Peru e México. Em entrevista por telefone, o baterista Joey Kramer falou da expectativa para os shows do Brasil – e aproveitou para criticar a música atual.
JORNAL DO COMMERCIO – Você está no Aerosmith desde 1970, quando a banda foi formada. Quais as melhores lembranças que você tem de todo esse tempo com a banda?
JOEY KRAMER – Nós tivemos bons momentos o tempo todo. Todas as vezes que estávamos no palco era um grande momento e estávamos nos divertindo muito. Essa é uma pergunta difícil porque nós tivemos bons momentos o tempo todo. Estar numa banda é ótimo, estar em turnê é ótimo, ser um rockstar é ótimo.
JC – E qual o lado ruim de tudo isso?
JOEY – Não tem nada de ruim, é tudo bom. Não tivemos nenhum momento ruim.
JC – Quais os seus próximos projetos para após o fim da banda?
JOEY – Eu tenho uma companhia de café chamada Rockin’ & Roastin’.
JC – Mas tem algum outro projeto musical? Pretende tocar em outra banda?
JOEY – Não, nunca toquei em outra banda. O Aerosmith é minha banda, é a única banda em que toquei. Não estou interessado em tocar em outra banda e realmente não estou interessado em tocar com outras pessoas. Eu tenho outros interesses na minha vida agora. Quando não estou com o Aerosmith eu foco na minha companhia de café, mas o Aerosmith é meu filho, é meu bebê e é lá onde ficarei.
JC – Você está tocando há mais de quarenta anos. O que mais te fascina no rock and roll?
JOEY KRAMER – A batida, claro... (pensativo). As baterias, eu amo as baterias. Eu escuto bateria, eu toco a bateria, eu brinco com bateria. Eu amo a bateria e sempre a tocarei. Eu a toco há 45 anos. Para fazer a mesma coisa por 45 anos você tem que não perder o interesse, manter aquilo fresco.
JC – Tendo vivido a música dos anos 1970 e 1980, como você analisa as novas bandas?
JOEY – Acho que as bandas que haviam nos anos 1970, 1980 e até nos 1990 eram aquilo que chamamos de “música de verdade”. Eram pessoas de verdade, tocando instrumentos de verdade, fazendo música de verdade. E agora os jovens gravam álbuns em seus quartos, com um Pro Tools. Eles não precisam de nenhum outro músico. Mas isso não é música e música não é sobre isso. Quando comecei com o Aerosmith, era como uma grande festa. Aos 14 anos, aquilo era como estar em uma gangue, só fazendo música. E ainda é! Quando estamos no palco, tudo que há de ruim desaparece.
JC – Vocês chegaram a ser chamados de “os badboys de Boston” e muitos fãs falam que o rock não é mais algo subversivo ou desafiador...
JOEY – Não é! Veja os Justin Biebers do mundo, as Nicki Minajs do mundo. É tudo besteira! Não é música e não é tocada por músicos!
JC – Vocês já fizeram vários shows no Brasil. Como é a reação do público daqui ao Aerosmith?
JOEY – O público é extremamente entusiástico. Eles nos apoiam e entram no clima de verdade. E é por isso que nós estamos indo tocar aí. É tudo pelo público. Quero dizer, nós não estaríamos onde estamos sem não fosse pelos fãs. Especialmente os fãs da América do Sul. Eles são ótimos.
JC – Você enxerga alguma diferença entre os fãs da América do Sul em relação ao público dos Estados Unidos e Europa?
JOEY –Nos Estados Unidos eles nos tomam como algo certo porque eles já viram muitos shows. Na Europa, eles o apreciam mais como um músico, por sua musicalidade. E na América do Sul eles simplesmente amam a música, vão ao show por todo o quadro.
JC – Aqui na América do Sul o público é mais atraídos pela energia que a música proporciona, certo?
JOEY – É, sim. Mas a energia de toda a música vem do público. Quando o público reage de forma positiva, a energia fica maior, maior e maior. Tudo depende do público.