De sertanejo pobre, órfão aos três anos e negro nascido em menos de quatro décadas após a abolição da escravatura, o compositor, maestro e arranjador pernambucano Moacir Santos (1926 – 2006) se tornou um dos artistas brasileiros mais importantes nacional e internacionalmente. Um dos pioneiros da fusão entre os ritmos da música popular afro-brasileira com modos jazzísticos e composição erudita, o maestro, entretanto, não foi devidamente reconhecido em sua vida, principalmente em sua terra natal.
O relançamento de Moacir Santos, ou os Caminhos de um Músico Brasileiro marca mais um passo no redescobrimento da extraordinária obra do maestro por seu país natal. A segunda edição do livro, uma mistura de biografia e análise musical escrito pela flautista e pesquisadora carioca Andrea Ernest Dias, será hoje (23) às 19h, no Teatro Santa Isabel, com concerto da Banda Sinfônica do Conservatório Pernambucano de Música.
Os registros de data e local de nascimento de Moacir (cujo batismo foi assinado como Muacy) são imprecisos. “Acontece muito mistério na vida de uma pessoa que não tem muito recurso, ou melhor, quase nada, naqueles sertões bravios lá do Nordeste, e eu fui um deles”, comentou ele em depoimento ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, refletindo, como observa a autora, “a situação de grande parte da população brasileira, desprovida de direitos básicos de cidadania”.
Ao ficar órfão – sua mãe faleceu, seu pai perseguia cangaceiros em uma força volante – Moacir foi adotado pela madrinha Corina, mas, em sua ausência, ficava com várias outras famílias da região do município de Flores, no Sertão do Pajeú. Aos 9, o menino não perdia um ensaio da Banda Municipal. Passou a tomar conta dos instrumentos e, nos intervalos, aproveitava para explorá-los. Foi assim que aprendeu a tocar todos os instrumentos da banda: trombone, trompete, trompa, clarineta, saxofone, percussões, além do violão, banjo e bandolim. Seguiu tocando em pequenos eventos, como jogos de futebol do município, e, aos 14, fugiu de casa.