O cantor André Rio, o guitarrista Luciano magno e o compositor e violonista Roberto Menescal apresentam, neste sábado, no Manhattan, em Boa Viagem, o show MPbossa, do qual participa também a cantora Carla Rio. O espetáculo vem rodando pelo Brasil e deve se estender à Londres e à Cidade do Porto, Portugal, ainda em 2016. O repertório é, claro, baseado em composições de Menescal, da bossa nova, e da MPB clássica. Entre as canções, Roberto Menescal e Luciano Magno fazem dupla em números instrumentais.
Muita gente estranha que André Rio esteja cantando bossa nova ou MPB, já que é tido como um animador de carnavais, com influências da axé music, por ter cantado em trios na época do Recifolia. “Ficamos bastante marcados por isto, fomos mal interpretado, sem dúvida. Mas falando por mim, eu tocava na noite pernambucana, no Som das Águas, No Meio do Mundo, os bares da época, quando surgiu a oportunidade de subir no trio elétrico. Meu pai foi fundador do Galo da madrugada, foi compositor do clube, e cantei no Galo. Quando aconteceram aquelas grandes micaretas, eu, o Versão Brasileira, a Banda Pinguim, Nena Queiroga, todos cantamos em trios. Mas como éramos muitos jovens, fomos confundidos com aquela geração da Bahia, e ficamos com esta pecha de ser cantor de trio elétrico. Mas a gente fazia um trabalho de resistência, cantava frevo”, desabafa André Rio.
Ele garante que não se incomoda que seja lembrado por esta fase de sua carreira: “Foi um momento em que aprendi muito, coisa de condução de plateia, a forma de lidar com a massa. A gente fazia um trabalho de resistência, cantava frevo. Coloquei pela primeira vez o maestro Duda em cima de um trio elétrico tocando frevo, no Bloco da Parceria. Alceu Valença dividiu comigo um trio elétrico, cantando frevo, no bloco Cana Caiana, mas o pessoal tinha que rotular. Hoje todo mundo canta em trio, uma forma de se comunicar, o que importa é a musica que se faz lá em cima”, conclui.
Aos 78 anos, o capixaba Roberto Menescal é um dos últimos sócios fundadores a bossa nova ainda em plena atividade, autor de vários clássicos do gênero (boa parte deles com Ronaldo Bôscoli). “Acho que ele só perde em agenda cheia pra Elba Ramalho’, brinca André Rio, que não foi o primeiro pernambucano com quem Menescal gravou. Fez turnês com a cantora Andrea Amorim, com quem dividiu o álbum Bossa de Alma Nova, em 2013. Por coincidência, foi em Garanhuns, cidade natal de Andre Amorim, que ele e André Rio se conheceram num festival de música popular.
“Esta história surgiu primeiramente com o nome MPbossa. Comecei a fazer umas experiência com este formato. Era Andre Rio convidando sempre um artista da MPB, pra circular, chegar ao Rio, São Paulo. Fizemos com Moraes Moreira, Emilio Santiago, Leo Gandelman, uma série de pessoas, com curadoria de Luciano Magno. Naquele festival, uns dez anos atrás, eu e Menescal fizemos uma grande amizade. Logo depois nos apresentamos no Santa Isabel. Menescal representa não somente a bossa, mas a MPB. Ele produziu muita gente, foi diretor de gravadora durante vários anos”, conta André Rio, que fez, com Luciano Magno Menescal no Frevo, um frevo de bloco, retribuindo a Menescal, que compôs Samba Magno, para Luciano Magno, que considera um dos melhores guitarristas do país.
A bossa nova, a MPB clássica e o frevo formam o trio de sua formação. O pai, o advogado Alírio Moraes, mantinha carreira paralela, mais lúdica, de compositor, e como tal convivia com os grandes maestros do frevo, intérpretes. Vez por outra era anfitrião do maestro Moacir Santos, quando ele visitava Pernambuco, e ainda era um ilustre desconhecido no estado natal: “meu pai adorava tom Jobim, convivi com o maestro Moacir santos na minha casa. Meu pai e ele tinham um grande amigo em comum, foi assim que se tornaram também amigos. Sempre que ele vinha pra cá, o pessoal se reunia lá em casa. Meu pai até comprou um piano por causa de Moacir Eu estava na época com uns dez anos, e ficava perto daquele monstro sagrado vendo tocar. Isto foi muito enriquecedor”, lembra.
Adolescente, ele comprometeu-se a aprender o repertório da bossa nova e da MPB, o que o ajudou no futuro a tornar-se parceiro do autor de O Barquinho (feito com Bôscoli), contrariando o pai, largou o curso de direito, no terceiro período: “Foi um terror na família minha decisão. Meu pai sabia da incerteza da profissão, queria que eu também fosse advogado e fizesse musica como hobby. Meu irmão e minha irmã são advogados, mas a musica foi me chamando. Sai cedo de casa. Com 17 anos fui para o Rio tocar na noite. Na verdade não me arrependo, vivo de musica há quase trinta e faço o que mais gosto”.
Logo depois do Carnaval, em meio a tantas denúncias de malversação do dinheiro público, André Rio conseguiu desviar a atenção da imprensa local da Operação Lava a Jato para uma denúncia de corrupção na contratação de artistas para os eventos promovidos por órgãos públicos do estado, Empetur e Fundarpe. Um áudio gravado por André Rio tornou-se viral nas redes sociais, causando celeuma, dividindo inclusive a classe artística. Apenas o sanfoneiro Cezzinha pronunciou-se abertamente a favor do cantor.
André Rio, na época estava em turnê pela Europa com Luciano Magno, e quando retornou o escândalo já não freqüentava mais a mídia nem as redes sociais. Mas não chegou ao fim, está nas mãos do Ministério Público. O cantor não se esquivou de falar sobre o episódio, embora tenha empregado bastante cautela em seu comentário:
“O áudio foi de uma conversa num grupo privado do whatsapp, com mais de cem músicos, e alguém vazou indevidamente. Nunca fui a publico falar aquilo sobre ninguém, nem acusei ninguém nominalmente. Não falei ninguém dos órgãos. Falei da intermediação de pseudos empresários. Não tenho provas e não devo acusar ninguém sem provas. Falei unicamente exclusivamente destes intermediários. Isto está sendo investigado, no âmbito do Ministério Publico pra dar nome aos bois. Agora, pra ser sincero, eu raramente vou nestes órgãos. Tenho um empresário que está comigo há vinte anos, é ele que me passa os locais para onde fui contratado.