Crítica: didatismo de 'Bandida' enfraquece a singularidade de MC Carol

Com produção de Leo Justi, primeiro álbum da funkeira de Niterói mistura trap e funk em músicas engajadas
JC Online
Publicado em 24/11/2016 às 10:46
Com produção de Leo Justi, primeiro álbum da funkeira de Niterói mistura trap e funk em músicas engajadas Foto: Foto: Fernando Schlaepfer/ Divulgação


Desde meados dos anos 2000 o funk carioca está em hibridização com a música eletrônica de pista. De M.I.A. e Diplo a DJs brasileiros mais recentes como Omulu, Sydney, Marginal Men e Leo Justi, diversos artistas nacionais e estrangeiros estão fundindo o pancadão com gêneros mais ligados às pistas, como o trap e bass. Assim como a mistura rende discos e mixtapes de incrível inventividade, ela também dá resultados derivativos e altamente genéricos.

Bandida, aguardado álbum de estreia de MC Carol produzido pelo DJ Leo Justi, se inclui nesta segunda categoria. As músicas são construídas com os arquétipos mais óbvios possíveis desta sonoridade eletrônica – o crescendo, criando um clímax para o “drop” da batida; as vozes dobradas; o som “especializado”. É como se os cruzamentos com do funk com trap tivessem saturado suas soluções criativas depois dos DJs terem imposto a si mesmos uma linha de produção que só repetia a fórmula de sucesso – não à toa, agora todos querem fazer bass music ou trap, incluindo duplas de sertanejo universitário. 

Essa mudança é um golpe forte na música de MC Carol porque a faz soar normatizada. Carol apareceu com um corpo iminentemente político, reivindicando outros dos padrões de “beleza” e cantando fora de tom e com um cáustico senso de deboche e humor: “Meu namorado é mó otário, ele lava minhas calcinha/ Se ele fica cheio de marra eu mando ele pra cozinha”. Em Bandida, as músicas de Carol são musical esvaziadas por um discurso forçadamente 'lacrador'.

As letras são o outro ponto crucial. Como Carol observa, suas músicas sempre tiveram um texto político, por mais absurdas ou cômicas que pareçam – e aí que estava toda sua força singular. Mas em faixas como Delação Premiada, 100% Feminista e Não Foi Cabral ela canta palavras de ordem, de modo quase didático ou pedagógico.

Certamente Carol ainda é muito mais combativa do que as versões atuais de Tati Quebra Barraco, Valesca Popozuda ou Ludmilla. Mas essa exposição literal das novas músicas, com suas intenções bem explicadas, é muito menos potente do que a exposição poética das primeiras canções. Soa apenas como uma “crítica” ou “denúncia”, como a ala da MPB-Geraldo Vandré fazia. A crítica torna-se um dispositivo entre outros, a gramática das nossas indignações.

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