"Mauricéia, um clarão de vitória/a visão de tua alma produz/toda vez que dos cimos da história/se desenha o teu nome de luz" é a estrofe inicial da canção Hino do Recife, de Nelson Ferreira e Manoel Arão, que se tornou oficialmente o hino da capital pernambucana. Poucos recifenses o conhecem, assim como também não conhecem Veneza Americana, de Ziul Matos e Nelson Ferreira, oficializada hino municipal, na gestão do prefeito Augusto Lucena, em 1969. Deve ser pequeno o número de olindenses que cantam de cor a música oficial da cidade, de autoria de Themístocles de Andrade e José Lourenço da Silva, o lendário Capitão Zuzinha, dos versos: "Olinda, cofre sublime/de brilhantes tradições/teu nome beleza exprime/e produz inspirações".
Apesar do inegável talento dos compositores, estas canções comungam entre si do cacoete do gênero, de letras e melodias pomposas. Cidades do frevo, do maracatu e caboclinhos, Olinda e Recife são habitadas por um repertório farto e requintado de músicas criadas para a dionisíaca folia de Momo, mas entremeado de puro lirismo emanado dos que aqui viviam, como Capiba, que assim a cantou: "Recife, cidade lendária/de pretas de engenho, cheirando a bangüê/Recife de velhos sobrados, compridos e escuros/faz gosto se ver".
Ou o banzo dos que daqui se foram, feito Antonio Maria: "Ai que saudade tenho do meu Recife/da minha gente que ficou por lá/Quando eu pensava, chorava, falava/Contava vantagem, marcava viagem/Mas não resolvia/ se ia". Além dos autores célebres, centenas de compositores anônimos, ou menos famosos, cantaram as duas cidades, sendo quase impossível relacionar os títulos de todas. Muitas nem sequer foram gravadas, outras saíram em discos de tiragem restrita.
Em uma das últimas edições da série Capital do Frevo, dois grandes compositores, Gildo Branco e Alcides Leão, assinam a bela Recife do Meu Coração, um frevo de bloco que não se popularizou tanto quanto outras composições suas. Em 1985, num LP da série O Bom do Carnaval, Claudionor Germano lançou Frevo Amor e Carnaval, dos conhecidos Rudi Barbosa e Dimas Sedícias, Recife Que Beleza, de Capiba, e ainda Recife Espera por Você, do maestro Edson Rodrigues, a trinca tampouco estourou, até porque nesta época o frevo já deixara de tocar no rádio.
Falecido há poucos dias (no dia 9 de fevereiro de 2017), o compositor e editor José Bartolomeu organizou para a Polydisc um CD inteiro com composições dedicadas ao Recife. O que também fez o maestro Severino Araújo, com a Orquestra Tabajara, no LP Recife 400 anos (RCA, 1961). No qual nem todas faixas trazem o nome da capital pernambucana no título, mas todas destilam a saudade de sua terra por músicos pernambucanos (o maestro Araújo nasceu em Limoeiro).
Olinda foi homenageada numa modinha de Capiba, Olinda Cidade Eterna (Olinda, cidade heróica/monumento secular da velha geração...), num afoxé, Olinda, de Alceu Valença (Olinda, tens a paz dos mosteiros da índia/tu és linda/e pra mim és ainda/minha mulher", ou a homônima Olinda, originalmente um poema de Carlos Penna Filho, musicado por Zoca Madureira e cantado por Geraldo Maia (No álbum Verd’Água), dos versos antológicos: "Olinda é só para os olhos/não se apalpa, é só desejo/ninguém diz: é lá que eu moro/diz somente: é lá que eu vejo.
NO PASSO
Recife e Olinda têm um cancioneiro vasto e de uma qualidade excepcional. Já em 1912, há um chorinho com o nome de Olinda, gravado pelo Irmãos Eymard, em disco Odeon. Se bem que o "Olinda" talvez seja alguma donzela da época, e não a cidade. Capiba, J.Michiles, Erasto Vasconcelos, muita gente cantou Olinda, mas a canção mais identificada com a cidade é o Hino do Elefante, do contagiante refrão, "Olinda, quero cantar/a ti/esta canção". Em relação ao Recife, duas caíram na boca do povo, Recife, Manhã de Sol, de J.Michiles, e Minha Cidade, a caliente homenagem do Reginaldo Rossi: "Recife tem encantos mil/é, é um pedacinho do Brasil
MÚSICAS: