Em Sobral, no norte do Ceará, fãs e artistas locais receberam o corpo do cantor Belchior, que chegou por volta das 7h40, e está sendo velado desde as 10h, no Teatro São João, no Centro da cidade. Em seguida o corpo do artista segue para a capital do Ceará, Fortaleza, onde será velado a partir do meio-dia, no Centro Cultural Dragão do Mar. Lá ficará até a manhã da terça, 2, e, depois de uma missa de corpo presente, será enterrado no Cemitério Parque da Paz.
No domingo (30), artistas plásticos e grafiteiros fizeram uma homenagem ao cantor, estampando sua caricatura em um muro na periferia da cidade. A caricatura, segundo o grafiteiro Jonas Sampaio, representa a partida dele para uma outra dimensão do sistema planetário. "As letras musicais formam as asas que o faziam flutuar na melodia de suas músicas, e agora são as asas de um anjo que partiu. Esta é minha homenagem."
Já por volta das 18h compositores e cantores de Sobral se reuniram na praça São João e realizaram um tributo a Belchior, cantando suas músicas de sucesso. Cerca de 300 fãs permaneceram no local, das 18 às 22h.
Belchior morreu na noite de sábado (29), aos 70 anos. A causa da morte foi o rompimento de uma das paredes da artéria aorta
O cantor nasceu em Sobral, Ceará, em 26 de outubro de 1946, e depois de ser programador de rádio na cidade se mudou para Fortaleza para estudar filosofia e humanidades. Mudou para um curso de medicina, mas abandonou a faculdade e passou a perseguir a carreira artística.
Os grandes discos de Belchior são os cinco primeiros, gravados entre 1974 e 1979. Depois de um compacto na Copacabana com Na Hora do Almoço em 1971, ele foi contratado pela Chantecler para o primeiro álbum, de repercussão modesta, em que a experimentação com a poesia concreta se destaca. Em Mote e Glosa, Belchior pergunta: "Você que é muito vivo me diga qual é o novo". Ele representava uma geração que pretendia romper com a MPB de maneira provocadora.
Com Alucinação (1976), Belchior chega ao auge criativo. O produtor Marco Mazzola, que teve de enfrentar a direção da PolyGram para conseguir fazer o disco, chamou grandes músicos de estúdio que entenderam a poética do cearense e sua estética sonora não convencional, que misturava Luiz Gonzaga e Bob Dylan.
Com arranjos de José Roberto Bertrami, canções como Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais, lançadas por Elis Regina, têm peso e força também sustentadas pelo instrumental. A partir daí, Belchior conquistou seu lugar. Naquele ano de 1976, poderia tanto cantar para a plateia popular de Silvio Santos à tarde e à noite fazer um show para universitários. Ele representava o homem do povo que, finalmente, estava onde queria.
O álbum seguinte, Coração Selvagem (1977), mantém o padrão do anterior, também sob a batuta de Mazzola. Ainda mais interessante é Todos Os Sentidos (1978), que mostra um artista fascinado pelo advento da disco music em duas faixas, Corpos Terrestres, com participação das Frenéticas, e Como Se Fosse Pecado. O grande hit, no entanto, foi Divina Comédia Humana. O Brasil inteiro cantou uma música que fazia referência ao poema de Dante Alighieri.
Finalmente, em Era Uma Vez Um Homem e Seu Tempo (1979), Belchior lança seu último grande sucesso popular, Medo de Avião. Mas também estão ali Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum, feita com Toquinho, e Comentário a Respeito de John, escrita com José Luiz Penna. Nos anos 1980, seus trabalhos têm menor repercussão, mas não são menos instigantes.
Cenas do Próximo Capítulo (1984) flerta descaradamente com a new wave e Melodrama (1987) mostra um compositor em forma, em um álbum elogiado à época pela imprensa. A partir de 1995, com Um Concerto Bárbaro, Belchior começa a regravar sua obra indiscriminadamente, em projetos repetitivos.
Em 2006, o cantor sumiu sem deixar muitos vestígios. Belchior deixou o flat onde morava com a mulher Ângela Margareth Henman Belchior e os dois filhos na zona sul da capital paulista no final de 2006, quando problemas financeiros ficaram intensos. Ele também abandonou dois carros, que até o ano passado acumulavam dívidas de mais de R$ 200 mil.
A última entrevista conhecida de Belchior foi dada ao Fantástico, da TV Globo, em agosto de 2009 - talvez sua última aparição pública. Na ocasião, ele negou o desaparecimento e se recusou a falar sobre as dívidas no Brasil, que agora também envolviam pensões para os filhos.
Na mesma matéria, Belchior declarou que vivia em São Paulo e também prometeu um disco de inéditas. "Com certeza eu vou de volta para a minha cidade amada, para os lugares mais queridos do Brasil, vou fazer show, vou soltar um disco com canções novas", disse. "Eu sempre estou voltando para o Brasil", concluiu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo