Petrúcio Amorim também culpa forrozeiros por invasão sertaneja

Autor de Muitos Sucessos, Petrúcio Não Sabe quando Volta a gravar
JOSÉ TELES
Publicado em 13/06/2017 às 16:45
Autor de Muitos Sucessos, Petrúcio Não Sabe quando Volta a gravar Foto: foto: divulgação


“O problema também está nos forrozeiros. Se estes nossos amigos não fossem tão bicudos, a gente já tinha dado uma guinada, É fulano que não bate com fulano, que não bate com sicrano. São desunidos, cada um tem um Roberto Carlos dentro de si, aí fica difícil. Já falei isso pra eles”. o comentário é de Petrúcio Amorim, caruaruense do Vassoural, um dos mais bem sucedidos autores nordestinos da geração pós-Luiz Gonzaga, gravado não apenas pelos cantores do gênero, mas também por estrelas da MPB como Zé Ramalho, Fafá de Belém e Elba Ramalho.

A união que ele deseja é para lutar pelo espaço do forró nos palcos nordestinos, que se torna ainda mais estreito quando chega o período junino. A contratação de sertanejos, axezeiros e até padres pop acontece há anos, mas em 2017 eles predominam nos mais concorridos arraiais da região. A cidade natal de Petrúcio não é exceção porém, pelo menos este ano, não exagerou na dose, a exemplo de Campina Grande, que suscitou queixas até da paraibana Elba Ramalho, que tem lugar certo e sabido no São João no Nordeste.

Petrúcio Amorim, que também não pode se queixar de falta de espaço, confessa que música sertaneja no período junino o incomoda:

“Não é querer ser melhor do que os outros, mas, como diz Elba, no céu tem lugar para todas as estrelas. Porém o que é que tem a ver Fernando e Sorocaba com o nosso São João? Não quero que ninguém pense que sou contra mudanças, pelo contrário. Sou totalmente a favor da evolução do forró. Podem botar novos instrumentos, sem problemas, o que não se pode é mexer no ritmo. Gonzaga deixou o arrasta-pé, a toada, o baião, o xaxado, veja quantos ritmos você tem. Pode-se fazer uma fusão, pode-se chamar um sambista para cantar com você. Mas mudar a pancada do ritmo e dizer que aquilo é forró, não. Não tem quem me bote na cabeça que Mastruz com Leite é forró”.

SEM ENTUSIASMO

Petrúcio confessa que já não viaja mais com o mesmo entusiasmo. As turnês são cansativas, feitas em vans, desconfortáveis: “Quando você vai para a Bahia, que este ano está apostando com força no pé de serra, piora, porque as cidades ficam muito distantes umas das outras. Prefiro os shows que me permitam voltar para dormir em casa”, diz. O comentário aponta para a falta de renovação do pé de serra. Os autores consagrados hoje são praticamente os mesmos que despontaram na segunda metade dos anos 80:

“A gente pensava que iria ter um ícone a mais com Lucy Alves, e ela grava aquela coisa ali (refere-se ao funk Caçadora, lançado pela cantora e atriz paraibana). O cantor conta começou a questionar o futuro da música como a conhecia até ali, em 2010, quando o desconhecido Reginho, um obscuro cantor de Paulista (PE) estourou nacionalmente, viralizando na internet a canhestra Minha Mulher Não Deixa Não: “Quando aquele rapaz se tornou o maior sucesso do país, eu pensei em desistir. Agora o que vale é curtida. Quanto mais você é curtido, mais você cresce, mais você aparece”.

Para o São João deste ano, Petrúcio Amorim leva com ele um EP (disco com quatro faixas), que não gravou. Chama-se Tempo Rei, é do seu filho, Pecinho Amorim, que está começando a carreira, e fez um trabalho bem elaborado, produzido por Bráulio Araújo, com participações de Renato Bandeira, guitarrista da Spokfrevo Orquestra, e de Santanna o Cantador. Petrúcio Amorim não lançou disco, nem música nova este ano.

Não sabe quando faz um disco com inéditas. Pensa em regravar trabalhos seus saídos apenas em vinil, segundo ele mal gravados, em estúdio precários:

“Não que eu seja um compositor aposentado, a gente sempre tem uma ideia, fica com vontade de fazer umas coisas. Mas dentro do mundo cibernético em que a gente está vivendo, fica difícil compor se as pessoas não querem mais curtir uma poesia. Fica complicado fazer um forró do jeito que fazia nos anos 80, nos anos 90, se as pessoas dão ouvido a outras coisas. Pra mim, gravar um disco que toque, que aconteça, acho muito difícil. E não é só eu não. Isso se dá também com meus contemporâneos, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, Santanna, Maciel Melo, não adianta, ninguém vai estourar mais”, comenta, pessimista, o compositor, cuja última música de sucesso, Foi Parte da Minha Vida, foi lançada por Nádia Maia há onze anos.

O QUE FAZER?

Petrúcio Amorim não sabe que destino terão as cerca de trinta músicas que tem armazenadas no computador em casa. Dificilmente acontecerá com elas o que aconteceu com outro lote de inéditas, umas 60 composições, reunidas desde os anos 1990, negociadas com o produtor cearense Emanuel Gurgel, àquela época produtor de várias bandas, com gravadoras e uma rede emissoras de rádio.

Gurgel convidou Petrúcio Amorim para ir a Fortaleza. Os muitos grupos que o empresário administrava estava carente de repertório e o compositor caruaruense já era dono de vários sucessos regionais. Petrúcio conta que foi sincero com Gurgel. Seu negócio era forró pé de serra e não apreciava a música das bandas do que se tentou rotular de “oxente music”. O paciente produtor o hospedou em um dos melhores hotéis da capital do Ceará, e disse que o esperava no domingo à tarde para conversar com ele.

Gurgel, lembra Petrúcio, foi curto e grosso: “Disse que me pagaria mensalmente o equivalente hoje a uns 12 mil reais, isto durante dois anos, pela cessão das músicas. Eu recusei. Ele disse que não me chamava de burro porque sabia que eu era um sujeito inteligente. E que ia me dizer uma coisa que talvez me fizesse voltar atrás. Então me perguntou o que eu iria fazer com aquelas músicas no meu computador, que não iria ter outra oportunidade feito aquela na vida, porque o forró que eu fazia não iria me dar dinheiro nunca. Ainda disse que em seis meses eu estaria ganhando pelo menos mais cinco mil de direitos autorais, fora o que me pagaria por mês”.

Petrúcio Amorim conta que pensou um pouco, muito pouco, depois do diálogo com o empresário: “Acabei topando. E sabe de uma coisa? Foi o melhor negócio que fiz na minha vida”. É fácil saber o motivo. Dentro de poucos anos, o próprio Emanuel Gurgel estava às voltas com as dezenas de bandas que pipocaram Nordeste afora, apoiadas por produções milionárias.

Em seguida vieram os sertanejos e os maiores nomes do forró pé de serra passaram a se apresentar para uma plateia que veio assistir a shows de Zezé di Camargo & Luciano, Luan Santana ou, mais recentemente, Wesley Safadão: “Estava no São João de Caruaru, uns tempos atrás, e me encontrei com um empresário Zé Amaro no Pátio do Forró. Eu disse pra ele:

"Tá vendo este povão todo aí? Não me toca em nada. Peça pra Zé Queiroz botar um arraial pequeno pra gente cantar e o povo dançar o verdadeiro forró. O importante é saber que o povo está curtindo. Cantar para um público enorme sabendo que ele está esperando Wesley Safadão, isto dói. No ano passado, eu fazia um show aqui no Recife, no Forró do Galo, antes do Calypso. Parei para tomar uma água, e tinha um pessoal gritando, Joelma, Joelma, como se dissessem tá bom, a gente quer o Calypso. Aí me veio o pensamento, o que eu vou fazer agora?”

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São João 2017 Petrúcio Amorim Entrevista
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