Criolo é um performer. E foi munido da facilidade em levar seu público junto de toda a empreitada musical na qual mergulha que ele estreou no Recife o show de seu Espiral de Ilusão, álbum que o próprio considera consolidação do sonho de um artista amante do samba. Fazendo jus a declaração de que se sente abençoado sempre que pisa em solo recifense, ele abriu o show do último sábado, no Baile Perfumado, com Nas Águas, canção na qual evoca bênçãos e perdões vindos das ondas do mar.
Logo encerrada a primeira canção, já perto das 2h da manhã, gritos ensurdecedores vindos da plateia repetiam o que acontece sempre que ele chega por aqui. A figura Criolo, independentemente do gênero que escolha cantar, já conquistou público cativo.
Sabendo disso e fazendo de tudo para cativá-lo ainda mais, voltou a citar, como da última vez em que encontrou os recifenses, sua participação em uma das intervenções culturais organizadas pelo movimento Ocupe Estelita, da qual saiu a inspiração para o refrão de Convoque Seu Buda, faixa-título do disco lançado em 2014.
Tal citação serviu de ponte para que puxasse o primeiro single de Espiral (...), Menino Mimado, espécie de diálogo com esta última: “Eu não quero viver assim, mastigar desilusão / Este abismo social requer atenção / Foco, força e fé, já falou meu irmão / Meninos mimados não podem reger a nação”.
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Com pleno domínio de palco, o paulistano conversou tanto quanto cantou e mandou recados do tipo “tenha dois amores: o primeiro tem de ser você para que então possa amar outra pessoa”. O show com mais de uma hora e meia de duração com puro samba – inclusive os gravados nos álbuns anteriores -, no entanto, não segurou o público tão atento como fez o de Ainda Há Tempo, há poucos meses.
Talvez em parte pela ausência do vigor que os raps e os beats invocam ou por certa estranheza de quem, assim como ele, ainda está “tentado entender o que está acontecendo” nessa nova fase da carreira. O fato é que carisma e discurso, marca registrada de Criolo, continuam sendo carro-chefe de suas apresentações. A deste fim de semana foi encerrada com agradecimentos ao público e à afinada banda que o acompanha, sendo um dos músicos natural do bairro de Água Fria, zona norte do Recife. “Valorizem os artistas da terra”, encerrou o anfitrião.
ABRE – ALAS
Bem recebido por quem chegou mais cedo ao Baile, o cantor Xico de Assis esteve à vontade durante o show de abertura, no qual interpretou de Adoniran Barbosa a Chico Buarque. Invocando também Martinho da Vila, Jorge Aragão e Beth Carvalho, ele apresentou o tributo que sustenta todos os fins de semana na Mercearia do Braz, como saudação a um dos mais genuínos ritmos nacionais.