Nação Zumbi num disco descompromissado de covers

A banda aproxima-se cada vez mais da música pop
JOSÉ TELES
Publicado em 02/12/2017 às 11:04
A banda aproxima-se cada vez mais da música pop Foto: foto: Tom Cabral/ divulgação


Uma diferença fundamental entre regravar e recriar, tem como melhor exemplo Maracatu Atômico, na versão que a Chico Science & Nação Zumbi fez aceitando, a contragosto, a sugestão de Jorge Davidson, então diretor da Sony Music. A música de Jorge Mautner foi gravada pelo autor, e por Gilberto Gil, que chegou às paradas com ela, mas o “Ananauê ô/ananauê ô”, com que Science a abriu é tão marcante, que se tem a impressão de que essa é a gravação original.

 Em Radiola NZ. Vol 1, o novo disco da Nação Zumbi, inteiramente de covers, não há uma versão que repita a façanha de Maracatu Atômico. O baixo de Alexandre Dengue, um grande músico, está matador em Não Há Dinheiro que Pague (Renato Barros), mas com o mesmo arranjo que o Paulo César Barros, o baixista preferido de Roberto Carlos, toca no original.

 O arranjo de Refazenda, de Gilberto Gil, é engenhoso, mas não há nele nada tão determinante que leve a música a se abrigar no repertório original da Nação Zumbi. Mesmo assim é a melhor faixa de Radiola NZ.

 Ashes to Ashes é simplesmente um cover do hit de David Bowie, assim como Sexual Healing, uma canção a que Marvin Gaye, um cantor excepcional, permeou de sensualidade, com um arranjo sofisticado, que cria um “clima”. O que não acontece nesta versão. Dois Animais na Selva Suja da Rua é outra versão bem rearranjada, mas tampouco se tornou uma música a ser futuramente identificada com a Nação Zumbi.

 O melhor do disco é a escolha do repertório que, mesmo com algumas canções sem liga com as restantes, feito Tomorrow Never Knows, dos Beatles (a voz de Jorge du Peixe ficou lá atras), que pede levada e alfaias de maracatu. Esta e outras do disco, ao vivo podem ser revalorizadas, feito a citada Não Há Dinheiro que Pague, que recebeu uma interpretação muito introspectiva, Amor, do Secos & Molhados, ou até Refazenda.

TAMBORES

O disco ressente-se  de maior presença dos tambores, que estão quase sempre em segundo plano, e ele são exatamente a marca registrada da banda. Embora no disco anterior, Nação Zumbi, de 2014, já não sejam tão enfatizados. Tambores soam retumbantes em Amor, dentro do estilo característico e contagiante do grupo, e também em Balanço, um hit menor de Tim Maia, em 1973.

A Nação Zumbi trouxe estas duas canções para seu universo, ao contrário do restante das regravações de Radiola A impressão que se tem, desde o álbum anterior, é que a banda insinua tomar outros rumos sonoros, não necessariamente com alfaias. O Nação Zumbi fez um disco despretensioso, mas decompromissado. Simplesmente tocam músicas com que se identificam.

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