Paulibucano: o nome do primeiro disco de Toinho Melodia, lançado mês passado, diz muito sobre seu criador. A história do recifense é comum a várias pessoas que, em meio às dificuldades, anseiam melhorar de vida. Aos 11 anos, com a família, deixou a capital pernambucana em direção a São Paulo onde, por acaso ou destino, embarcou no samba. O álbum Paulibucano (2018) está disponível no YouTube e no site oficial do cantor (www.toinhomelodia.com).
O disco de estreia de Toinho, que ganhou esse nome na Unidos de Vila Maria (bairro Jardim Japão, em São Paulo), é uma conquista em meio a tantas adversidades. “Depois de ouvir tantas promessas, sem nada acontecer, com tantas dificuldades, sinto como se estivesse realizando um sonho que foi também de meus mestres, Toniquinho Batuqueiro (sambista que o batizou de “Melodia”), Talismã, Jangada e tantos outros”, explica Antônio Freire de Carvalho (nome verdadeiro do artista).
A principal dificuldade, como de costume nas produções independentes, foi financeira. Mas o empecilho foi superado através de um financiamento coletivo levantado pelo Grupo Picafumo, do qual Toinho faz parte, criado em 2013 logo após o pernambucano conhecer o compositor e cavaquinista Rodolfo Gomes. “A campanha foi um sucesso graças ao apoio de muita gente, inclusive o Luizão, jogador de futebol do Benfica que é meu admirador e deu uma contribuição inestimável”, lembra. Além de Rodolfo, André Santos e Gabriel Spazziani conduziram a produção do disco, gravado nos estúdios Casa da Lua.
Com um repertório de composições que datam de 1980 até 2018, o disco de Toinho é autobiográfico tanto em relação às letras quanto à sonoridade, com diversas influências nordestinas, como não poderia deixar de ser para um grande admirador de Luiz Gonzaga. “Xote, baião, maracatu, tudo faz parte da minha infância. Minha avó cantava coco pra mim”, lembra Toinho.
Em Siri de Lá, se percebe de início a pegada do xote. Em seguida, os sons da sanfona, zabumba e triângulo dão lugar ao samba, que entrou na vida do músico de forma bem abrasileirada. “Aqui em São Paulo, através do futebol que eu jogava, fiquei fascinado pela batucada na beira de campo. No fim, larguei o futebol e segui no samba, até hoje estou compondo e cantando”, afirma.
A quarta faixa do disco também é um relato do que há de melhor na cultura nordestina e que se relaciona com a nostalgia do cantor em relação a sua cidade natal. “Na minha terra eu preciso ir, pegar uma carga de sapoti, algumas cordas do gordo guaiamum e outras tantas cordas de siri, porque o siri de lá não é igual o daqui”, diz trecho.
Só no ano passado o músico finalmente retornou ao local de origem, depois de mais de 58 anos morando no Sudeste. “Subi desde a Bahia pelo interior e cheguei em Pernambuco, onde fizemos uma turnê por diversos bares e espaços, sempre bem acompanhado por essa garotada do Conjunto Picafumo”, diz o músico.
Atualmente, Toinho Melodia reside no bairro de Vila Moinho Velho (distrito Sacomã), Zona Sul de São Paulo, mas foi nas várzeas da Zona Norte, aos 16 anos, que começou a frequentar os sambas. Já com 86 anos de idade hoje, ele carrega passagens por grupos comunitários como do Samba da Vela, Kolombolo e Terreiro de Compositores, entre outros.