Ame ou odeie, Azealia Banks é uma das artistas mais interessantes da contemporaneidade. A americana, que se apresenta pela primeira vez no Recife, hoje, no Bailito, tem desafiado todas as expectativas – seja do público ou da indústria – traçando um caminho tortuoso, por vezes errático, mas sempre autêntico. E, talvez mais importante, sua música é sempre consistente, desafiadora e inquieta.
No final de 2011, a internet foi tomada de assalto por uma jovem nova-iorquina de 20 anos. Com 212, Azealia Banks virou uma sensação do dia para a noite - ainda que, há muito viesse trabalhando em aperfeiçoar sua arte, incluindo passagens pela prestigiada escola de artes La Guardia, por onde passaram nomes como Robert De Niro e Liza Minelli, além de produzir faixas e lançá-las na internet.
Todos caíram de amores pela rapper ferina, que despejava sua artilharia verbal em cima de uma batida house, com fôlego e destreza invejáveis. A canção entrou na lista de melhores do ano das principais publicações do mundo, como Pitchfork e The Guardian.
Ela assinou contrato com uma grande gravadora (Interscope Records), e artistas como Rihanna, Lady Gaga e Lana Del Rey solicitaram colaborações com ela. Nos palcos dos principais festivais, lá estava Azealia. Mas não demorou muito para que a lua de mel com a indústria e com parte de seus admiradores acabasse. Muito ativa nas redes sociais, Azealia passou a se envolver em polêmicas quase semanais. Logo, a troca de farpas online passou a ser mais comentada do que sua música.
Essas polêmicas, que duram até hoje, mostram o lado de uma diva com o qual, muitas vezes, é difícil lidar - o de que ela é humana e cheia de contradições. Azealia, aliás, sempre foi muito honesta em relação à sua saúde mental, sua bipolaridade e depressão. E ela se ressente, com razão, da falta de apoio nessa luta - que não é negado aos homens por exemplo. Ela, inclusive, aponta constantemente questões dentro de sua base de fãs, como a misoginia e o racismo (atacada, ela também já faz afirmações racistas, posteriormente se retratando).
Não que ao longo desse tempo ela tenha parado de produzir ótimas canções. Pelo contrário: ainda que suas atitudes gerassem controvérsia, a qualidade de seu trabalho mantinha-se elevada, como mostrou no primeiro EP, 1991 e na mixtape Fantasea, ambos de 2012.
O fato é que Azealia se tornou persona non grata na indústria e, após uma longa batalha com sua gravadora, conseguiu os direitos de suas músicas, lançando de forma independente o disco Broke With Expensive Taste (2014). O álbum é mais uma prova do talento de Azealia, que passeia por diferentes influências sonoras, como hip hop, house, dubstep, ritmos caribenhos.
Desde então, Azealia lançou a mixtape Slay-Z (2016), na qual abraça também um lado mais pop, a exemplo das faixas Used To Being Alone (que se tornou um hino obrigatório nas festas LGBTs do Recife) e Queen of Clubs. Além de uma rapper habilidosa, a americana é uma cantora potente, como fica evidente na maioria das suas faixas, como as recentes - e excelentes - Anna Wintour e Treasure Island.
O show desta quinta-feira (15/11), além de abrir o 20º Coquetel Molotov, será um momento, finalmente, de reunião com uma das cidades mais devotadas à Azealia. Foram anos de pedidos dos fãs nas redes sociais para trazê-la.
Quem for ao show, aliás, se prepare para um momento que já está virando um clássico em suas apresentações: a hora do bamburim. Isso porque Azealia tem uma marca de sabonetes, a Cheapyxo, e presenteia os fãs com algumas unidades.
Na edição comemorativa de seus 15 anos, que chegará à apoteose no sábado (17/11), a partir das 15h, no Caxangá Golf Country Club, o Coquetel Molotov consolidará uma proposta que vem apurando desde sua criação. Juntos, os artistas que compõem a programação do festival montam um mosaico eclético e pujante da cena musical do País, abarcando diferentes gêneros e propostas.
O festival contará com três palcos, todos com propostas de mesclar ritmos. No Palco Aeso/Som Na Rural, se apresentam as pernambucanas Guma, Bule, Anjo Gabriel e A Banda de Joseph Tourton, além de Deafkids (RJ), Gluetrip (PB), Aqualtune e Potyguara Bardô (RN).
Já no Palco Natura Musical, os destaques são Catavento (RS), Barbagallo (França), Maria Beraldo (SP), Usted Senalemelo (Argentina), Luedji Luna (BA), Jotaerre (BA), Trio Lipstick – Batalha de Vogue e Desfile de Debutantes, Selvagem (SP), Duda Beat (PE) e Teto Preto.
O palco que leva o nome do festival recebe a Orquestra Jovem de Pernambuco (PE), Mestre Anderson Miguel (PE); Anelis Assumpção (SP), Connan Mockasin (Nova Zelândia), Boogarins (GO) e Djonga (MG).
Fecham a noite MC Troia e Heavy Baile, grupo carioca de funk. A escolha de Troinha para o line-up do festival, aliás, foi um capítulo à parte. Nas redes sociais, houve quem reclamasse da inclusão do astro do bregafunk. Vale lembrar que não é de hoje que o Molotov tem tentado quebrar barreiras musicais. Troia já é uma das principais vozes de um dos maiores fenômenos culturais do Estado e este é mais um reconhecimento desses artistas em espaços que ficaram associados a uma ideia de elitismo musical, a exemplo da inclusão de MC Tocha no Rec Beat deste ano.
Os ingressos para o Molotov custam R$ 120 (inteira), R$ 85 (ingresso social, com doação de 1kg de alimento) e R$ 60 (meia).