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Coquetel Molotov tem diversidade musical como ápice de sua 15ª edição

Em vários momentos, a programação evidenciou o protagonismo de artistas oriundos das periferias e representantes da comunidade LGBTQ+

Erika Muniz
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Erika Muniz
Publicado em 18/11/2018 às 14:12 | Atualizado em 15/08/2020 às 15:49
Foto: Tiago Calasans/Divulgação
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Se fosse para sintetizar a programação dessa 15ª edição do festival No Ar Coquetel Molotov, 'diversidade' seria a melhor expressão. Não que nas edições anteriores não existisse, mas na desse sábado (17), no Caxangá Golf & Country Club, ela foi potencializada. E quanto mais diversidade nos palcos, mais o público é diverso. Em vários momentos, a programação evidenciou o protagonismo de artistas oriundos das periferias de cá e de lá e representantes da comunidade LGBTQ+, que têm remexido, cada vez mais, as estruturas estéticas e sociais contemporâneas, além de realizar produções extremamente potentes e que arrepiam o público por onde passam. Não é de hoje, no entanto, a característica do festival de fomentar os trabalhos de artistas independentes, o que contribui para o evento integrar o rol dos principais eventos de música do país.

Abrindo a programação do palco Coquetel Molotov, “a semente plantada na cultura popular”, como uma das canções do álbum Sonorora diz, o Mestre Anderson Miguel fez o público do evento criar uma roda e pegar as mãos para dançar ciranda. Nesse momento, por volta das 18h, a fila para entrar que outrora pintava as calçadas da Avenida Caxangá, já estava se esvaziando. Quem se direcionava à área do palco, e os que já estavam por ali, ouvia toda a força e sensibilidade dessa voz jovem e forte da Mata Norte de Pernambuco.

Ano passado, nosso patrimônio vivo Lia de Itamaracá integrava o palco do Som na Rural, além ter sido convidada pelo rapper Rincon Sapiência, para cantar com ele no maior palco daquela edição. “Muita alegria estar aqui, neste evento tão grande. Estar no palco principal tocando ciranda é incrível para a cultura da gente. Não é só para mim, mas para a cultura em geral isso é muito importante”, afirmou Anderson, que por conta de um show marcado para o dia seguinte em Caruaru, logo após se apresentar, teve que seguir. “A passagem de som foi ótima. Já conheço o cara do som, o Normando Paes. Fui muito bem recebido”, complementou. Em seguida, a paulistana Anelis Assumpção subiu ao palco. Muita gente a aguardava, entre elas, a estudante de comunicação Marcela Cavalcanti, que estava sentada sobre um tecido. Esse é um hábito de muitos que frequentam o evento e que contribui ao clima de comunhão que os festivais estimulam. Além da cantora paulistana, Marcela contou ter visto, mais cedo, a apresentação de Duda Beat no palco Natura e iria assistir Luedji Luna e MC Troinha.

Foto: Tiago Calasans/Divulgação
Troinha foi a cereja do bolo do festival - Foto: Tiago Calasans/Divulgação
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Foto: Tiago Calasans/Divulgação
Duda Beat fez grande apresentação - Foto: Tiago Calasans/Divulgação
Foto: Tiago Calasans/Divulgação
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Foto: Tiago Calasans/Divulgação
Djonga no meio da multidão - Foto: Tiago Calasans/Divulgação
Foto: Flora Pimentel/Divulgação
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Público lotou o Caxangá Golf & Clube - Foto: Tiago Calasans/Divulgação
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Troinha caiu nos braços da galera durante seu show - Foto: Tiago Calasans/Divulgação
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Foto: Flora Pimentel/Divulgação
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Aline Sales/Divulgação
Rayssa Dias cantou bregafunks empoderados - Aline Sales/Divulgação
Aline Sales/Divulgação
Rapper pernambucana Negrita integrou programação do festival - Aline Sales/Divulgação

A baiana Luedji Luna, cuja belíssima canção Banho de Folhas evidencia sua voz forte e doce, se apresentou no palco Natura. Minutos antes da apresentação, ela conversou com o JC sobre a emoção de tocar pela primeira vez no Recife: “Estou num momento muito positivo desde que lancei Um Corpo no Mundo. Estou muito ansiosa para receber este axé daqui”. E complementou: “Bahia e Pernambuco têm laços muito estreitos. São dois estados sempre em diálogo e em generosidade à música brasileira. Espero cantarmos juntos essas canções neste final do ano, para encerrar o ano com chave de ouro”. Outra atração baiana que integrou o palco Natura foi o músico Jotaerre com todo seu swing trazido de Paulo Afonso. Guitarrista da banda Psirico, neste trabalho solo, ele mistura ritmos afro à música eletrônica e agitou o público do Coquetel.

Em diálogo com outras linguagens artísticas, quem circulava no evento de um palco a outro, pôde ver o processo criativo do grafiteiro Tof, do bairro da Várzea. Numa ação entre o Coquetel Molotov e a marca 99, o artista foi convidado a desenvolver um painel, cuja temática seria a acessibilidade. Junto a segurança, esse tema foi um dos focos da edição. Segundo Ana Garcia, organizadora do festival, nesta edição, eles tiveram uma consultoria sobre alternativas de acessibilidade com Daniela Rorato, especialista na temática e foi possível ver rampas para facilitar a entrada de pessoas em cadeiras de rodas, que também integravam os front stages dos palcos.

No palco Aeso/Som da Rural, as meninas da Aqualtune Produções, coletivo de mulheres negras e periféricas, integraram, pela primeira vez, a programação do Coquetel Molotov. Mostrando o protagonismo da arte feita por elas, Rayssa Dias, compositora de bregafunk empoderado, além da dupla Nany Nine e Lilo MC, do 808 Crew, e as participações das poetas Adelaide Santos, do recital Boca do Trombone, e Bell Puã, do Slam das Minas, fizeram o público chegar junto para ouvir o que tinham a dizer. “Poder tocar num espaço como esse, para a classe média, que é diferente da gente, é muito importante. É um prazer estar no palco com minhas irmãs. O som estava com um pouco de microfonia, mas, na passagem de som fomos muito bem recebidas. Nunca tinha vindo ao Coquetel”, conta Lilo MC em entrevista ao JC. Ela e sua parceira no 808 Crew, Nany Nine aguardavam os shows de Djonga e Troinha, que para ambas é uma referência. “O brega tira a galera da criminalidade nas favelas e sustenta muitas famílias. Todo mundo escuta, então tem que estar aqui”, defendeu Nany.

Troinha fechou com chave de ouro

Após a banda goianiense Boogarins lotar o palco principal, numa apresentação com as projeções de Gabriel Rolim, o rapper mineiro Djonga deixou o público em êxtase e foi uma das atrações com mais interação com os presentes, sobretudo durante a canção Olho de Tigre. Entre os mais aguarados da noite, o representante do bregafunk do Recife, MC Troinha seguiu o line up do palco principal, e foi apresentado ao palco pela rapper pernambucana Negrita. Ele fez o público sair do chão com seu repertório de sucessos, entre eles, Balança, balança, Sarra em cima, Sarra embaixo e Vai Descendo. “É um público um pouco diferente do que eu frequento, mas vamos lá, vamos sacudir, farei o meu melhor”, disse ao Jornal do Commercio, momentos antes de subir no palco, e fez o que prometeu. Todos dançarem do início ao fim da apresentação. A dona do hit do carnaval deste ano, MC Loma foi lembrada através de uma versão instigada de Envolvimento, executada pelo carioca Heavy Baile, que fechou com chave de ouro a noite.

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