Sensação Sensacional

Djonga: 'Só não digo que sou Robin Hood porque Robin Hood é branco'

Apresentando o disco 'Ladrão', o rapper mineiro Djonga se apresenta neste sábado no Clube Português e conversa sobre o novo trabalho

Rostand Tiago
Cadastrado por
Rostand Tiago
Publicado em 24/08/2019 às 16:34
Foto: Divulgação
O rapper mineiro Djonga se apresenta no Festival União Reggae + Rap - FOTO: Foto: Divulgação
Leitura:

Djonga volta ao Recife para ostentar. Ostentar tudo aquilo que o Ladrão, seu terceiro e bem recebido disco, significa, seja dentro de seus versos ou no mundo fora deles. O mineiro vai exibir suas conquistas materiais, mas também o privilégio de ser um jovem corpo negro vivo, com uma família bem estruturada e afetiva. Entretanto, ainda é tempo de olhar para tudo aquilo que não foi resolvido e que provavelmente não será nem tão cedo. Agradecer aonde chegou e continuar dando tapa naquilo que ainda atravanca as coisas.

"Mesmo com a grana e tudo que conquistei, as pessoas continuavam me olhando torto nos restaurantes caros e nas lojas de roupas. Então vi que continuava com aquele estigma de 'bandido', que as pessoas pretas de origem humilde têm. Diante disso, falei, 'beleza, sou ladrão'. Mas sou o ladrão que tá pegando todo o espaço e as coisas que nos foram negadas e devolvendo para minha galera", relata Djonga. Quase um Robin Hood, talvez. "Só não digo que sou Robin Hood porque Robin Hood é branco", brinca.

O rapper estrutura o disco nessa ideia de resgate, não só dessas coisas que lhe foram negadas, mas do seu passado, possibilitador de sua lírica e de sua força. Nessa trajetória, exalta avó, pai, amigos que se foram e os que nunca saíram do lado. Extrapola ainda para ancestralidade, coisa que "não se aprende em um blog hippie de boy". "O Djonga que entrou para gravar o Ladrão estava com uma grande maturidade e consciência em relação a reconhecer a origem e a importância desse reconhecimento.Eu sempre tive uma família muito unida, não só pai, mãe e irmão, mas também avós, primos, tios", elabora.

Não só os laços sanguíneos entram nessa equação. Por considerar que pertence a uma geração que foi a última a viver intensamente as ruas, das brincadeiras da infância aos dilemas da juventude, acredita que carrega experiências com amigos que foram essenciais para ser o rapper que é. "Vi muitas coisas nas ruas. Aprendi bons valores, mas presenciei também coisas ruins. Os amigos que morreram, os que foram presos. As meninas que engravidaram cedo e tiveram uma vida difícil, além de todas as tretas de porrada. Quando olhei para minha família e para meus amigos próximos, fiquei inspirado para gravar esse álbum", conta.

Para além dessas relações pessoais, Djonga também traz um dos temas que o rap mais adora falar sobre: o próprio rap. A autoafirmação dentro da cena já é presente no título da primeira faixa, batizada de Hat-Trick, comparando seu terceiro disco com o terceiro gol de um jogador em uma partida. Na mesma canção e durante o disco, fala sobre o embranquecimento do cenário rap e do surgimento de MCs sem vivências de rua. O mais perto que cês chegaram do morro/ É no Palco Favela do Rock In Rio, diz os versos da canção homônima ao álbum, umas das mais fortes desse contexto.

Fazendo um som

Para dar forma à coisa no estúdio, Djonga contou mais uma vez com a parceria do produtor Coyote, assim como foi nos primeiros trabalhos. O amigo não fica responsável só pelos beats, mas também por lidar com a ocasional inflexibilidade do MC. "Eu sou muito cabeça dura, gosto que as coisas saiam ao máximo do meu jeito. O Coyote dá um freio nisso, ao mesmo tempo em que estimula muitas coisas em mim", explica.

Dessa forma, ambos buscaram a sonoridade mais crua, dos beats duros e fortes que o Ladrão carrega. Ainda assim, há um equilíbrio com a presença de momentos de maior doçura, com músicas indo para um lado mais romântico, terno. Há espaço até para homenagear os outros ritmos que permeiam sua vida, como o pagode, que está constantemente em seus fones e inspirou a releitura de Moleque Atrevido, de Jorge Aragão.

A força ao vivo do Ladrão poderá ser presenciada na noite de hoje, com seu show no Groovin Festival. "Vai ser foda e vai ser sinistro. A recepção tá cada vez melhor, assim como o calor do público. Meu cansaço nunca vai bater minha disposição e faremos tudo maravilhoso", conclui.

Serviço

Groovin Festival, com Djonga, MV Bill, Kmila CDD, Maneva, Margot, Donabagga e Oeste7. - Hoje, a partir das 21h30, no Clube Português. Ingressos entra R$ 65 e
R$ 180

Últimas notícias