Localizado entre a beira do rio Capibaribe e as ruas históricas do Bairro do Recife, o palco do Festival Rec-Beat ficou pequeno nesta terceira e penúltima noite de sua 25 edição, que foi iniciada com a carioca Ana Frango Elétrico e terminou, de forma apoteótica, com o aguardado show do rapper paulistano Emicida. Se apresentaram também a pernambucana Flaira Ferro, DJ Dolores & Recife 19 e o francês Guts, além da discotecagem de Libra nos intervalos.
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Atração convidada da Rádio Frei Caneca, Emicida trouxe o repertório de seu álbum mais recente, AmarElo, lançado em outubro do ano passado, subindo ao palco um pouco depois de 1h. A faixa que dá nome ao disco foi, sem dúvidas, uma das que ganhou mais coro por parte do público. Os versos "tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/ ano passado eu morri mas esse ano eu não morro", sample do clássico Sujeito de Sorte, de Belchior, foram cantados a plenos pulmões pela multidão, representando apenas um dos muitos momentos que revelaram a simbiose do sentimento de resistência entre os presentes.
Emicida é conhecido por fazer letras que denunciam injustiças sociais e racismo, além de se posicionar publicamente em relação a questões políticas e sua música não escapa desses temas. O tom do show desta noite também seguiu nessa linha, dividindo espaço com a importância do amor, proclamado em diversos momentos pelo cantor. Além das novas músicas, velhas conhecidas do público se fizeram presentes, como Passarinho (parceria com Vanessa da Mata), Hoje Cedo (conhecida na voz de Pitty, que se apresentou a poucos metros dali, na mesma noite, no Marco Zero) ou ainda Levanta e Anda. É incrível a energia que Emicida carrega e transmite para a plateia e vice-versa.
A apresentação de Guts, artista francês que se apresentou pela primeira no Nordeste, agradou o público recifense que dançou ao som da mistura de afrobeat com carimbó do músico e DJ. Foram 50 minutos animados que antecederam o show de Emicida e sucedeu a ótima apresentação do sergipano radicado em Pernambuco, Hélder Aragão, e seu novo projeto, DJ Dolores & Recife 19. Ficou perceptível que Guts se preocupou em agregar ritmos brasileiros para este show, com funk e brega junto às batidas eletrônicas.
Acompanhado de jovens músicos da nova cena do Recife, DJ Dolores apresentou um set dançante. Logo no começo, uma briga interrompeu o show, que precisou esperar a ação dos bombeiros que atenderam um rapaz que ficou ferido. A banda pediu por uma Carnaval sem violência e afirmou que todo mundo estava ali para se divertir.
Erica Natuza é que assume os vocais do projeto e ela interagiu bastante com público, mesclando músicas populares (como de Reginaldo Rossi) e canções autorais de Dolores. Ainda pouco conhecido dos pernambucanos, este novo projeto estreou ano passado em turnê pela Europa. O show ganhou ainda a participação de Jr. Black, que interpretou uma versão afrobeat de Balança o Saco. Guga Fonseca, Samico, Aishá e Deco (trombone) são os demais integrantes do Recife 19.
Outra pernambucana talentosa, Flaira Ferro, aproveitou o show do Rec-Beat para lançar oficialmente no Recife seu segundo disco, intitulado Virada na Jiraya. Apesar de ter sido lançado recentemente, um grande público já sabia cantar de cor as letras dessas novas faixas. Flaira fez um show potente, político e performático, onde cada detalhe - da projeção aos gestos - estavam em sintonia com a música.
A força feminina e a necessidade de ir para rua para fazer suas demandas serem ouvidas foram ressaltadas pela artista, que reverenciou diversas mulheres inspiradoras, de Nina Simone a Sônia Guajajara, passando por Rita Lee e Angela Davis. O frevo contemporâneo Revólver encerrou a apresentação.
Ana Frango Elétrico, jovem cantora carioca, foi quem abriu a noite, por volta das 20h. Apesar de não ser conhecida do grande público, ela conseguiu reunir um bom número de fãs e se entregou até aos pedidos de "mais um" no final.