Reynaldo Fonseca lança livro no Museu do Estado

Evento acontece nesta terça (19), a partir das 19h. Livro foi organizado por Sérgio Oliveira, da galeria Arte Maior
Beatriz Braga
Publicado em 19/03/2013 às 7:17
Evento acontece nesta terça (19), a partir das 19h. Livro foi organizado por Sérgio Oliveira, da galeria Arte Maior. Foto: NE10


 

Cruzar a porta da casa de Reynaldo Fonseca é como entrar em uma de suas pinturas. Tudo é terracota, marrom e vermelho. Cerca de 100 quadros assinados por ele estão espalhados pelo recinto e faz muito silêncio. “Esses eu não vendo”, diz. Como um oásis na cidade, os dois andares do lar do mestre pernambucano lhe são suficientes, e não é difícil entender por  que, há um ano, Reynaldo não sai de casa. “O trânsito me apavora”, explica sorrindo. Nesta terça (19), é possível que o artista faça uma concessão para ir ao lançamento do livro bem-editado, de capa dura, que traz seu nome e sua história contada por ele e por outros autores. O evento acontece no Museu do Estado, às 19h.

A obra foi organizada por Sérgio Oliveira, marchand da galeria Arte Maior, e é daqueles livros feitos para se demorar nas imagens, deixá-lo na cabeceira e voltar ali mais tarde. É esse o efeito provocado pelos quadros do artista, de 88 anos, que pedem mais cautela às crianças de olhares adultos, aos espelhos que refletem mais do que se supõe, aos animais misteriosos e às situações comuns que escondem uma inquietante necessidade de reflexão. Um jantar em família, a empregada que leva o vinho, a mulher que posa para a pintora. Nas mãos de Reynaldo, é quase impossível não parar para prestar mais atenção.

Sentado na cadeira entre a janela e a mesa, onde repousa o cinzeiro, Reynaldo abre uma gaveta e confessa seu segredo. “É uma coisa curiosa, meus personagens vêm de figuras de jornal. Parto de fotografias menores, mas o que pinto fica totalmente diferente”, conta ao mostrar a foto de uma mulher recortada de um periódico que serviu de base para um quadro.

Na sua casa-ateliê, é possível identificar as marcas da história que Reynaldo conta no livro sobre uma decisiva viagem à Europa, aos 23 anos, quando cruzou o Atlântico para desbravar a pintura moderna e acabou se descobrindo um aficionado pelos clássicos. “Via uma tela de Picasso num dia e no outro um quadro de Rubens, e a minha emoção era muito maior diante de um Rubens que de um Picasso. Acho que essa viagem serviu bastante para eu definir o estilo de pintura a que eu queria me dedicar”, escreve.

A emoção com a pintura clássica levou às inúmeras referências bibliográficas espalhadas pela casa. Reynaldo e seus personagens nunca estão sós. Rembrandt, Velázquez, Vermeer e vários outros o acompanham no dia a dia de pintor incansável. “Quero sempre saber como fazer melhor”, diz, lembrando que também é influenciado por pintores mais distantes de seu estilo, como o francês Balthus.

O apego às artes plásticas começou cedo. Quando ainda criança, seu brinquedo preferido era a aquarela. Aos onze anos, a Escola de Belas Artes do Recife não quis aceitá-lo pela idade. Foi aí que o jovem aprendiz levou uma série de desenhos e o diretor achou que valia a pena abrir uma concessão. No primeiro teste, o pequeno Reynaldo tirou dez. Mais tarde, o artista ensinaria na escola por uma década, onde trabalhou como monitor do pintor Murilo La Greca. 

“Eu sou um apaixonado pelo meu trabalho”, fala o senhor simpático sobre o motivo pelo qual existe: telas brancas. “Isto é minha vida acima de tudo, vim para este mundo para ser um pintor”, escreve. Na parte final do livro, uma reunião de textos críticos sobre Reynaldo feitos, em sua maioria, na década de 1970, leva ao leitor, entre outros gostosos registros, às palavras de Olívio Tavares de Araújo.

“Talvez morresse se não pudesse pintar. Mas ele o pode – e assim instaura seu denso universo pictórico, no qual, como no poema de Carlos Drummond de Andrade, existe: ‘O largo armazém do factível onde a realidade é maior que a realidade".

Leia a matéria completa no Caderno C desta terça (19). 

 

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