Batista, um Indiana Jones sempre em busca do disco perdido

Com recursos próprios ele mantém um arquivo farto e preciso
JOSÉ TELES
Publicado em 25/10/2015 às 2:41


Sem um real de dinheiro público, sem recorrer à Lei de Incentivo à Cultura e sem parceiros, o funcionário público José Batista Alves montou um precioso e volumoso arquivo particular basicamente de forró e frevo, que acumula informações sobre mais de 900 compositores. Ali se pode conferir as obras completas de Capiba, Edgard Ferreira, Nelson Ferreira, Rosil Cavalcanti, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga ou Claudionor Germano. Espécie de Indiana Jones da música popular brasileira, Batista está sempre à caça do 78 rpm perdido, e vai buscá­lo onde quer que ele esteja. Foi até Iguatu, no Ceará, porque soube que lá poderia encontrar um 78 rotações com um jingle gravado por Luiz Gonzaga para a campanha de um prefeito local, nos anos 1950, música de Humberto Teixeira. Voltou para sua casa, no Engenho do Meio, Zona Oeste do Recife, com o disco e a partitura:

"Eu não peço nada a ninguém. Essas entidades que se dizem em prol da cultura, já fui vitima delas. Fiz um trabalho sobre Levino Ferreira, passou um ano e seis meses nessas instituições e não foi publicado. Trabalho meu e de um colega, Luis Caetano, que morreu no ano passado. Quem era secretário de Educação na época era Ariano Suassuna. Passei três meses para falar com ele. Pra mim teria êxito, mas não teve coisa nenhuma. Ele me disse que as pessoas fazem biografias e não colocam nada de partituras. Dentro deste trabalho tem 54 músicas de Levino Ferreira, todas elas com partituras originais. Ele disse aquela coisa sem fundamento sem nem ler o livro. Terminei me aborrecendo e tirei o trabalho de lá", conta Batista, que sempre foi um apaixonado por música, mas só pôde assumir o papel de "Indiana Jones" da pesquisa, em 1982, quando foi trabalhar na Empresa de Urbanização do Recife (URB), em meio expediente, pela manhã. As tardes ficaram, desde então, reservadas à pesquisa.

O primeiro artista com o qual ocupou o segundo expediente foi Luiz Gonzaga. "A turma chuta muito. Tenho 50 livros sobre Luiz Gonzaga, mas todos divergem dos meus dados. José Ferreira de Jesus, por exemplo, no livro Luiz Gonzaga: O Rei do Baião ­ Sua Vida, Seus Amigos, Suas Canções, diz que ele tem 122 discos de 78 rotações. Outros dizem que são 125. Eu tenho 127 e estão aqui para quem quiser comprovar. O primeiro foi gravado no dia 14 de março de 1941, e o último em 23 de abril de 1962. São 22 anos 7 meses e oito dias depois", afirma, preciso, Batista, cuja memória para números, datas e nomes impressiona. Isso o faz dispensar a ferramenta sem a qual poucos sobrevivem atualmente: a internet.

Se não confia nas supostas facilidades da internet e seus sites de busca, não é por birra ou por não ter se adaptado. Não crer em facilidades é idiossincrasia, que ele não esconde possuir. Não são poucas suas desconfianças. "Eu sou um sujeito cético. Não confio em muitas coisas: concurso, concorrência, oferta, brinde, desconto especial, compre um leve dois, serviço de meteorologia, horóscopo, vidente, entre outras coisas."

(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)

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