Eric Clapton em um disco de quem não precisa provar mais nada

No 23º álbum de estúdio o guitarrista revisita 50 anos de carreira
JOSÉ TELES
Publicado em 25/05/2016 às 6:00
No 23º álbum de estúdio o guitarrista revisita 50 anos de carreira Foto: foto: reprodução


Há meio século a frase Clapton Is God (Clapton é Deus) foi rabiscada com spray no muro do metrô em Islington, subúrbio londrino. Certamente um fã exacerbado do guitarrista Eric Clapton, que tocava então no grupo John Mayall’s Bluebreakers. Alguém, talvez o mesmo fã, repetiu a frase em outros muros londrinos. A foto da frase foi publicada na imprensa. É assim que nascem os mitos. Em maio daquele ano foi lançado o álbum John Mayall's Bluesbreakers with Eric Clapton, e a lenda passaria a ser incensada a ponto de levar o músico a esconder-se, início dos anos 70, no Delaney & Bonnie & Friends, um grupo menor americano.

Não adiantou muito. Eric Clapton, continua sendo considerado por milhões de admiradores mundo afora um deus da guitarra. Sexta-feira, 20 de maio, ele o 23º álbum de estúdio, I Still Do (Bushbranch Records/Surf Dog Records), produzido por Glyn Johns, que também é uma lenda dos anos 60. Johns trabalhou com os Beatles e Rolling Stones, Bob Dylan e The Who, além do próprio Eric Clapton, de quem produziu o álbum Slowand, em 1977. Glyn Johns é um dos poucos produtores daquela época ainda em atividade, ou melhor ainda vivo. Está com 74 anos. Eric Clapton com 71. É difícil ser uma lenda numa era em que se confirma o vaticínio de Andy Warhol: no futuro todo mundo terá direito a 15 minutos de fama.

O auge da fama de Eric Clapton foi entre 1966 e 1970 com o Cream (com Ginger Baker e Jack Bruce), e com o Blindfaith (com Eric Grech, Ginger Baker e Stevie Winwood), bandas extremamente badaladas a ponto de instigar a crítica a procurar mais os erros do que os acertos de ambas. Das grandes bandas dos anos 60, o Cream foi a que recebeu mais críticas adversas. O rock progressivo do grupo, estendendo os limites da música pop até onde fosse possível, levou o trio a ser um sucesso de público e de vendas. As rixas internas encurtaram a vida do Cream. Ginger Baker e Jack Bruce (falecido em 2014), não tiveram de carregar o fardo de deidade do rock pelo resto da vida.

No título do novo disco, Eric Clapton dá o recado, “Eu ainda faço” ou grosso, modo, “ainda dou um caldo”. Depois de meio século, de glórias e tragédias, Clapton não precisa provar nada. Nos últimos 40 anos, ele colocou a guitarra, geralmente uma Fender Stratocaster, como estrela dos seus discos, sobretudo depois que descobriu a música de J.J. Cale (falecido em 2013), que o influenciou tanto quanto os blues de Roberto Johnson, Elmore James ou B.B. King. I Still Do é uma quase retomada ao Eric Clapton extrovertido do início da carreira solo. 

A reverência ao passado principia na capa, um retrato assinado por Sir Peter Blake, responsável pela capa do álbum Sgt Pepper’s Lonely Heart Club Band (1967), com 84 anos, também autor da capa do álbum Me and Mr Johnson (2004), subestimado trabalho de Eric Clapton dedicado à musica de Robert Johnson. Na banda que toca em I Still Do estão alguns dos remanescentes da nata dos estúdios ingleses nos sixties, Chris Stainton (teclados), e Andy Fairweather Low e Angelo Mysterioso, que toca violão numa faixa, e muita gente achou que fosse uma colaboração póstuma de George Harrison, que participou do álbum Goodbye, do Cream (1968), usando o pseudônimo (na verdade, L’Angelo Misterioso). No repertório, ele repassa os diversos momentos da carreira, como se tivesse feito um disco para ele mesmo. 

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