João Gilberto numa noitada no Recife nos idos dos anos 60

Claudionor Germano e Expedito Baracho na farra com o João
JOSÉ TELES
Publicado em 24/07/2016 às 8:36
Claudionor Germano e Expedito Baracho na farra com o João Foto: Foto: (arquivo Expedito Baracho).


Um João Gilberto ainda sem as excentricidades que se tornaram folclóricas, foi assim que o Baiano Bossa Nova veio ao Recife em junho de 1962, contratado pela TV Jornal do Commercio, porque fazia sucesso nacional com Chega de Saudade (Tom e Vinicius). João Gilberto conheceu Claudionor Germano e Expedito Baracho nos bastidores da emissora e os convidou para ir com ele a mais dois compromissos que tinha naquela noite. Faria uma hoje impensável apresentação clube Sargento Wolff, em Afogados, e outra na sede do América (o time de futebol) na Estrada do Arraial.

Naquela época, os salões dos clubes apinhavam­se de casais dançando o ritmo da moda. A bossa nova para eles não se diferencia do hully­gullly ou do chá-­chá­-chá, que também faziam muito sucesso. Um João Gilberto que, como lembra Expedito Baracho, não reclamava de ar condicionado, até porque ambos os clubes nem dispunham de "ar refrigerado " (como se dizia então), um luxo nos anos 60. Silêncio, isso, nem pensar:

"No América cantou com a maior barulheira, o pessoal querendo dançar e ele lá com aquela voz bem baixinha. A gente tinha tomado umas e teve uma hora que eu quase brigo com o público, pedindo para eles fazerem silêncio", conta Expedito Baracho, que assistia àquele inusitado concerto com um olho em João Gilberto e outro no violão, que lhe pertencia: "Eu pensava, este cabra é meio doido, vai que ele esquece de quem é o violão e leva o instrumento com ele pro Rio. Era o único que eu tinha".

Naquele tempo, muito bom de copo, Baracho nem lembra para onde foram depois dos dois shows. Claudionor Germano completa a história da noite com o papa da Bossa Nova: "A gente foi até o Cabanga, já era bem tarde. Pedimos para um rapaz abrir o portão e ficamos lá o resto da noite cantando com João e bebendo. Havia mais pessoas com a gente. Sei que a farra acabou com a gente em Boa Viagem. Dia claro, eu e João chupando laranja, sentados num meio­fio".

Curiosamente, Claudionor Germano e Expedito Baracho, mestres do frevo, embora admirassem a bossa nova, passaram por ela quase que a ignorando, sobretudo Expedito Baracho, que tece os maiores elogios não apenas ao João Gilberto cantor, como ainda mais ao violonista, mas nunca gravou bossa. Claudionor Germano se tornou intérprete de frevo depois do imenso sucesso dos quatro LPs que gravou, para a Rozenblit, em 1959 e 1960, dois dedicados à obra de Capiba e dois à de Nelson Ferreira.

Em 1960, ele foi o intérprete de Sambas de Capiba (também da Rozenblit). Um LP que para muitos é de bossa nova, o que foi negado pelo próprio Capiba. Uma faixa, pelo menos, é bossa nova, A mesma Rosa Amarela (com Carlos Pena Filho), arranjada pelo maestro Clóvis Pereira. (JT)

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