RIO 2016

Pernambuco cantou alto para o mundo

Encerramento da Rio 2016 foi marcado pela presença de grandes artistas representando nossa riqueza cultural

NATHÁLIA PEREIRA
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NATHÁLIA PEREIRA
Publicado em 23/08/2016 às 8:42
Fabrici Coffrini/AFP
Encerramento da Rio 2016 foi marcado pela presença de grandes artistas representando nossa riqueza cultural - FOTO: Fabrici Coffrini/AFP
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Quando recebeu, há cerca de seis meses, o convite para integrar o time de artistas responsáveis por encerrar as Olimpíadas Rio 2016, foi proposto a Helder Aragão, DJ Dolores, apresentar um set estritamente mixado por ele, ressaltando e ressignificando clássicos da música nordestina. Ele, no entanto, sugeriu um outro caminho, mais complexo e encorpado: ser acompanhado por Isar França, Fábio Tremer, Jam da Silva e Maciel Salú, seus parceiros na Orchestra Santa Massa. Junto ao Maestro Spok, no sax, e Yuri Queiroga, parceiros no Frevotron e ao sanfoneiro André Julião, eles foram os primeiros a se apresentar no Maracanã, na noite do domingo (21), numa cerimônia capaz de estimular o lado ufanista até do menos bairrista dos pernambucanos. O repertório da noite foi enviado previamente à banda, que sugeriu somar aos clássicos, como O Canto da Ema, de Jackson do Pandeiro, músicas da própria OSM, de Jacinto Silva e de Luiz Gonzaga.

“O Nordeste é tratado como a mulher no Brasil, com um trabalho intenso, seminal, mas desvalorizado. Então, temos uma diretriz no sentido de mudar isso. Quando ficamos felizes com o espaço que conquistamos, não é por ufanismo ou bairrismo e sim porque sabemos que em termos estéticos e musicais o Nordeste é um ambiente muito rico e diverso”, ressalta o DJ Dolores. Para ele, um dos maiores feitos do encerramento foi justamente mostrar essa multiplicidade das manifestações culturais da região. “Ainda somos muito estigmatizados, então a melhor resposta que podemos dar é expor essa potência cultural que somos”, reforça.

Completando 15 anos de carreira em 2016, Santa Massa parte do evento para a preparação de um novo disco com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2017. “Antes, nos apresentamos num evento de arte contemporânea em Dubai, nos Emirados Árabes”, adiantou Dolores. Para Isaar, não só a cultura de Pernambuco saiu ganhando, mas todo o povo nordestino. “Fique muito feliz não só por ter participado, mas por ter sido dado um foco tão importante à nossa cultura, à gente que divulga nossa cultura de verdade. A referências às rendeiras baianas também foi algo muito bonito de ser ver”, comentou ela.

Herdeiro da ilustre família Salustiano, Maciel Salú levou para o show da Santa Massa não só a rabeca, símbolo do legado musical ao qual dá continuidade, mas também duas composições criadas especialmente para a ocasião: Maracatu Olímpico, com levada do Maracatu Rural vindo da Zona da Mata de seu pai e avós, e Rabeca Dedilhada, com batidas mais eletrônicas. “Dolores deu a ideia de fazermos algo inédito, então escrevi as duas músicas para falar dos atletas, da festa, e todo mundo do grupo aprovou”, detalhou ele. 

Em mais um momento marcante, 27 crianças integrantes de movimentos sociais cantaram o Hino Nacional, acompanhadas por atabaques comandados por percussionistas como o pernambucano Alexandre Garnizé. “Fui convidado por Gabi guedes e Alê Siqueira pra montar um combo de ogans onilus com músicos do Rio pra tocar um vassy (toque específico pra ogun), num arranjo dentro do hino”, contou ele. Morando no Rio de Janeiro, Garnizé considera justo o espaço dado ao seu Estado natal. “Ocupamos nosso lugar de direito e que nos é negado. Muitos ainda falam mal, criticam, mas esquecem que nós somos berço da cultura nacional”.

A ode à pluralidade das artes pernambucanas continuou ao som arrepiante do frevo Vassourinhas, com 14 passistas saudando o ritmo patrimônio imaterial da humanidade para um público presente estimado em 70 mil pessoas, fora os cerca de três bilhões de espectadores de todos os cantos do mundo. O Agreste se fez presente quando os bonecos de barro do Mestre Vitalino tomaram vida, dançando ao som de Asa Branca, do Rei Luiz Gonzaga. Foi a versão especial de Lenine para a sua Jack Soul Brasileiro que coroou a espetacular participação pernambucana na comemoração: “Já que sou brasileiro e o mundo inteiro divide nossa atenção / Já que é o final dessa festa, agora me resta celebrar outro encontro de nações”, entoou.

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