Quando se estuda história da arte nos colégios, nas universidades e até mesmo especializações, é comum entrar em contato com a produção helenística, a precisão do Renascimento e a revolução das vanguardas europeias, só para citar alguns exemplos. Pouco (ou quase nada), porém, se sabe dos artistas e dos movimentos de países do Oriente. Como uma forma de criar um contraponto a esse posicionamento eurocêntrico, a Caixa Cultural Recife recebe, a partir da terça-feira (18), a exposição Ukiyoe – A Magia da Gravura Japonesa, com mais de 200 obras, entre imagens e máscaras que ajudam a montar um mosaico diversificado de um período prolífico da arte do Japão.
Desenvolvida com grande fôlego entre os séculos 17 e 19, a Ukiyoe, que em tradução literal significa “retratos de um mundo flutuante”, floresceu junto à ascensão da burguesia de Edo (antigo nome de Tóquio). Sua produção e temas divergem do cânone elitista, pintando cenas de entretenimento, com lutadores de sumô, peças do teatro kabuki, gueixas, entre outros. Submetidos à censura (precisavam de um selo oficial de aprovação das obras), os artistas passaram a focar também em paisagens.
Na mostra, estarão expostas nas paredes da Caixa Cultural 70 gravuras, complementadas por aproximadamente uma centena que serão apresentadas virtualmente. As obras pertencem ao acervo do Museus Castro Maya e à coleção João Maurício de Araújo Pinho e são de autoria de mestres da arte oriental, como Harunobu, Utamaro, Kuniyoshi, Hokusai, Hiroshige, Yoshitoshi.
“Essas gravuras se apresentam como uma oposição ao elitismo em vários sentidos. Se antes eram retratadas apenas questões ligadas à nobreza, com o ukiyoe começa-se a lançar um olhar no cotidiano, no presente e nos valores terrenos. Com a abertura do Japão para o Ocidente, a partir de meados do século 19, esses trabalhos passaram a ser difundidos como exemplos da maestria oriental, sendo apresentados em mostras na França e Inglaterra e, assim, instigando artistas das vanguardas europeias, como Van Gogh, que já queriam quebrar com os modelos clássicos”, explica a curadora Anna Paola Baptista.
Entre as inovações que transcenderam a geografia japonesa, despertando interesse nos europeus, estavam a construção de uma perspectiva que não buscava necessariamente se aproximar do realismo, enquadramento inusitado, com objetos não finalizados na cena, como se “escapassem” à tela. Outro elemento é o uso da cor de forma plana, de forma a não dar sombreamento, além de não pintar, obrigatoriamente, os elementos com suas cores reais.
Apesar de sua força, a arte oriental permanece pouco conhecida no Brasil (e no Ocidente como um todo). “O mercado brasileiro ainda é muito fechado para os trabalhos que não são do Ocidente. A produção é muito pulsante e poderíamos dar diferentes recortes, mas optei por este já que, apesar de tudo, as gravuras deste período ainda são as mais conhecidas mundialmente”, reflete.
Além das gravuras, estarão disponíveis também máscaras – representativas da arte ligada à aristocracia – oferecendo um interessante contraste introdutório da multiplicidade da arte japonesa. A Caixa Cultural disponibilizará, também, um número limitado e gratuito de catálogos da exposição, com as obras apresentadas na mostra, assim como comentários críticos e pequenas biografias sobre os artistas em exibição.
Dentro das ações do evento, haverá ainda três oficinas gratuitas de Kussudama, ministradas pela professora Helena Makiyama, dias 30 de julho e 6 de agosto, com 15 vagas por turma. Nelas, serão ensinadas técnicas de dobradura em papel para a criação de tsurus, flores, bolas de saúde e caixas porta-objetos.