No último dia de desfiles da São Paulo Fashion Week, marcas jovens trouxeram frescor às passarelas do evento. Novos ares, necessários e bem-vindos, vieram por exemplo com a estreia da A. Niemeyer, assinada pela dupla Fernanda Niemeyer e Renata Alhadeff. Na coleção, inspirada no Deserto do Pacífico, nos Fiordes e nas Tundras, o jogo sofisticado de texturas o peso e o volume da lã de carneiro faziam um contraponto com um algodão leve e quase transparente. Calças espaçosas, tops com modelagem casulo e casacos volumosos ressaltavam uma silhueta ampla e confortável. Antes de começar o desfile, foi servido um chazinho gelado em copo de porcelana coberto por um tricô artesanal.
A tranquilidade e a simplicidade logo deram espaço para uma megabalada armada pela marca carioca Reserva. Um hapiness, como eles preferiram chamar a apresentação que simplesmente dispensou a passarela para colocar os modelos, e consequentemente as roupas, à mão da plateia. O som cheio de energia da banda de sopros MeABrass Band fez barulho e movimentou a noite. "Acho a dinâmica dos desfiles convencionais antiga. Hoje, as pessoas querem participar da festa, não só assistir", disse Rony Meisler, por telefone dias antes da apresentação (sua filha nasceu ontem e ele não foi à Bienal). "A Reserva nasceu praticamente junto com o Facebook. O compartilhamento, a colaboração, o engajamento e a transparência são conceitos da minha geração. Para nós, só faz sentido participar da Fashion Week assim, com esse formato diferente", diz ele, que há quatro anos não desfilava no evento.
Quando os modelos apareceram no auge da festa, o público vibrou. A coleção seguiu a modelagem solta, ampla e folgada que está em voga. Peças com estampa camuflada traziam um militarismo mais delicado. Camisas de flanela de viscose fresquinha vieram ao lado de uma alfaiataria funcional, em linho e sarja. Tudo isso à venda pelo site no exato momento da apresentação. Dois totens com displays posicionados possibilitavam a compra no ato.
A Ratier, outra marca relativamente nova no evento, apostou no misticismo como ponto de partida de sua quarta coleção. A pouca iluminação, o cenário com flores e galhos secos, e a maquiagem que deixava os olhos dos modelos vermelhos, ressaltaram a inspiração do universo dos vampiros e a exuberância dos ciganos, ícones do Leste Europeu. O preto como tom predominante, a transparência velada, aliada ao couro e ao veludo, resultaram em looks enigmáticos. Calças ora abauladas, ora skinnies, compunham produções com casacos feitos de um jacquard com bordados repletos de simbologia. O streetwear ficou mais presente nos primeiros looks masculinos, com jaquetas de couro.
Depois dos 31 desfiles, ficou claro que os designers mais jovens sobressaíram, mostrando mais conexão com o espírito do tempo. Mas a moda nacional chegou até aqui porque se apoiou em ombros de grandes estilistas e empresários. A maioria do front se perdeu pelo caminho, ao longo dessas 43 edições. Os sobreviventes não andam brilhando muito, com exceção de Oskar Metsavaht, de Adriana Bozon e de Alexandre Herchcovitch (que vem fazendo uma parceria inspirada com seu marido Fabio Souza, dono da marca À La Garçonne). Espera-se que Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho e Ronaldo Fraga, três baixas nesta temporada, voltem aos palcos da SPFW. Eles fizeram falta. E que desse encontro de gerações entre as novas e as velhas marcas surjam criações de encher os olhos, úteis para o dia a dia, mas também capazes de fazer sonhar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.