Um transeunte caminha despretensiosamente ou apressado pelo calçadão de Boa Viagem. De repente, para (nem que seja por alguns segundos) diante de uma visão inusitada: uma escultura no formato de vaca, pintada de cabo a rabo. Mais à frente, outra, no mesmo formato, mas completamente diferente. Essa cena vai se repetir bastante pelas próximas semanas, em vários pontos do Recife e de Olinda, graças à CowParade, exposição ao ar livre que ocupa a cidade até o começo de dezembro.
O projeto, iniciado nos Estados Unidos, propõe uma aproximação da arte com o espaço público, tendo como plataforma esculturas de fibra de vidro que servem de telas para artistas locais, como Tereza Costa Rêgo, Raoni Assis, Roberto Ploeg, entre outros. Ao todo, são 53 espalhadas em diferentes bairros.
Ao promover essa intervenção no espaço urbano, a CowParade convida o público a se aproximar da produção de artes visuais e a própria ressignificação desses locais no imaginário coletivo. A julgar pelo por reações captadas pela equipe do JC, ontem, primeiro dia das vacas nas ruas, o objetivo foi alcançado.
Para Gregório Gomes, 32, que trabalha no estacionamento do Parque Dona Lindu, um dos pontos de exposição da mostra, a ação foi uma surpresa positiva.
“Estou aqui todos os dias e me deixou feliz ver essa obra. É diferente, modifica o lugar. Acho que também vai ser interessante para os turistas, que vão ter mais coisas interessantes para ver aqui”, comentou.
A dona de casa Evandra Lins, 52, moradora de Boa Viagem, também aprovou a CowParade. “É uma proposta inovadora. Já tinha ouvido falar da mostra quando ela acontecia em Nova Iorque e São Paulo, então achei ótimo que Recife entre nesse circuito. É, principalmente, uma forma de quebrar preconceitos e aproximar mais as pessoas da arte”, enfatiza.
As expressões de estranhamento – e também deslumbramento – dominavam muitos dos que passavam pelas esculturas. Vários paravam para fazer a boa e velha selfie e interagir com as vaquinhas. É o caso das aposentadas Maria Ramos, 70, e Estela Monteiro, 61, que fizeram diversos cliques ao lado das obras espalhadas pela Avenida Boa Viagem.
“Resolvemos fazer essa caminhada para ver o máximo de obras que conseguíssemos. Achamos espetacular, ótimo para nós, moradores, e para os turistas”, opinaram.
Apesar da aprovação ser unânime entre os entrevistados, uma questão também foi recorrente: a preocupação com a preservação das esculturas.
“Não acho que vá durar muito. É uma pena, mas o Recife é muito violento e há uma cultura de vandalismo forte. Torço para estar errado porque, desde cedo tem muita gente parando para tirar foto, se divertindo com as vacas. A cidade estava precisando de uma alegriazinha”, acredita o gari Edvaldo Ribeiro, 48.