A sensibilidade na fotografia bordada da recifense Laís Domingues

A fotógrafa realizará uma oficina de fotografia bordada no dia 05 de maio
Duda Lapenda
Publicado em 20/04/2018 às 16:16
Foto: Laís Domingues


A fotografia, que se tornou tão corriqueira nos dias de hoje, tem ganhado novos contornos nas artes visuais. O trabalho fotográfico da recifense Laís Domingues é desses que vai na contra-mão do digital, buscando um estilo mais feito a mão. Nas suas fotos, algumas digitais e outras analógicas, ela traz recortes imagéticos contemporâneos "invadidos" por elementos exteriores feitos com as linhas. Desde 2015 a artista intervém nas próprias fotografias com o bordado, segundo ela, expressando seus próprios sentimentos. 

Quando em 2011, a artista decidiu largar o curso de Arquitetura, já sabia que a fotografia seria seu caminho. No mesmo ano, ganhou a primeira câmera digital e começou um curso técnico, através do qual pôde iniciar com registros de espetáculos, shows, eventos e aniversários. Viajou para Buenos Aires, onde se encantou pelas artes visuais e teve contato com a fotografia analógica, voltando para Recife apenas em 2014.

A prática da fotografia, no entanto, só se tornaria um lugar de refúgio após começar a experimentar. “Sempre gostei de fotografar, mas para mim era como se faltasse alguma coisa mais palpável ali, sabe?” A inquietação a levou até o bordado, através do qual passou a expressar seus sentimentos. Sem contato anterior com a costura, Laís ganhou o primeiro kit de uma amiga com a qual morava. O pontapé inicial para se aventurar nas oficinas e vídeos no Youtube. “Teve um dia que eu tava bem ansiosa em casa, sem internet, sem fazer nada, aí eu peguei alguns materiais que já tinha impresso e comecei a costurar em cima, fazendo experimentos”.

O processo para chegar ao produto final passa pelo desenho, que é utilizado como guia para a costura, que vem logo em seguida. “Sempre que eu vou bordar, eu olho bastante para a foto, fico tentando pensar o que aquilo me faz lembrar e sentir”, afirma.

Laís Domingues
- Laís Domingues
Laís Domingues
- Laís Domingues
Laís Domingues
- Laís Domingues
Laís Domingues
- Laís Domingues
Laís Domingues
- Laís Domingues
Laís Domingues
- Laís Domingues

Na hora da criação, saem corações, pássaros, pulmões, linhas métricas e soltas, em cores vivas e variadas, que contrastam com o preto e branco das fotos. O casamento perfeito: aquilo que o monocromático "apaga", o bordado resgata.

A presença feminina na sua arte foi inevitável. Dançarinas de cultura popular, mulheres em performance, senhoras em rios e calçadas, detalhes de corpos femininos e até Marielle Franco se tornam lugares para intervenção. “O bordado é uma forma de resistência feminina, porque sustenta famílias, dá dinheiro e sustenta muitas mulheres no Brasil inteiro”, enfatiza.

Não à toa, seu projeto aprovado no edital do Funcultura 2017 tem como protagonistas mulheres bordadeiras de Passira (Agreste Pernambucano) que participarão de um intercâmbio cultural de quatro meses. Bordando o feminino proporcionará uma troca de saberes entre Laís e as membras da Associação de Mulheres Artesãs de Passira, em que estas ensinarão à fotógrafa a técnica do bordado com mais profundidade.

Em contrapartida, o dia-a-dia das mulheres serão registrados, o que renderá duas exposições com fotografias bordadas que acontecerão em Passira e Recife. Além disso, dois desfiles com peças produzidas pelas artesãs, com o auxílio da designer Thanina Godinho, acompanharão as exposições nas duas cidades. “As bordadeiras de lá também vão dar uma oficina em Passira, para estimular o artesanato dentro da cidade, porque muitas mulheres estão deixando de bordar”, complementa Laís.

O objetivo é dar continuidade a um projeto iniciado por um grupo de estudantes paulistas. “A Associação já tem uma coleção lançada, tem Facebook, tem um site, e as vendas delas aumentaram bastante quando elas desenvolveram isso com um pessoal de São Paulo que estava estudando lá e que fizeram uma campanha coletiva, conseguindo criar esse site e essa mobilização”, explica.

Oficina

Além de duas oficinas nos SESC’s de Consolação e Pinheiro, em São Paulo, e outras em Recife, a fotógrafa realizará uma nova oficina no dia 05 de maio, no Caverna Lunar, localizado no bairro da Encruzilhada, às 9h. Nela, serão apresentados, além da técnica, uma parte teórica sobre a história do Bordado na América Latina e no mundo. O valor de R$ 150 inclui material. As inscrições devem ser feitas pelo email cavernalunar@gmail.com.

TAGS
fotografia bordada Fotografia Artes visuais Marielle Franco
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory