A decisão do Banco do Povo da China (PBoC) de desvalorizar abruptamente a moeda do país, o yuan, pode afetar negativamente a exportação de carne bovina brasileira no curto prazo, diz a analista Lygia Pimentel, sócia-diretora da AgriFatto. Mas apesar do transtorno para o comércio exterior, ela avalia que a maior preocupação para a pecuária nacional é o fato de a medida sinalizar que o crescimento da economia asiática segue "artificialmente induzido" e que o governo chinês tem deixado mudanças estruturais necessárias para depois. "A China é uma promessa para a exportação de carne bovina brasileira no longo prazo, então a mudança cambial é preocupante", afirmou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. "O governo chinês segue em esforços para tentar resultados positivos em uma economia que já não responde tão bem aos estímulos. No longo prazo, isso é muito ruim, porque vai postergando problemas", diz a especialista.
Lygia acredita que a medida pode levar importadores chineses a limitar compras do Brasil. "Moeda fraca é moeda que compra menos então, no curto prazo, vejo isso como negativo. Mas esse impacto deve ser diminuído pela desvalorização do real", afirma. Em agosto do ano passado, o real chegou a 2,70 yuans. Hoje, mesmo com a ação do PBoC, está em 1,80 yuan.
O PBoC limita diariamente as oscilações do yuan no mercado de câmbio por meio de uma taxa de paridade com o dólar. No entanto, na terça-feira, 11, o banco central chinês decidiu desvalorizar em 1,9% essa banda de referência e fez a divisa afundar. Com isso, o dólar atingiu a máxima de 6,3391 yuans durante o pregão em Xangai, ante 6,2097 yuans do fechamento de segunda-feira. Segundo o Deutsche Bank, durante o dia a moeda chinesa registrou a maior queda desde 1994. A medida busca aumentar a competitividade de exportadores da China, após as vendas externas registrarem queda de 8,3% nas receitas em dólares em julho, e estimular a economia, que avança no menor ritmo desde 1989.
A China oficializou a reabertura de seu mercado interno aos produtos bovinos brasileiros em maio, após anos de embargo sanitário. O país é encarado pelo mercado como um dos destinos de maior potencial de expansão do consumo, dados o crescimento econômico e o aumento da renda de sua população. Desde a retomada dos embarques foram vendidas ao país 15,1 mil toneladas de carne bovina, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) compilados pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). O desempenho já fez com que a China continental se tornasse o décimo maior comprador de cortes bovinos do Brasil. O primeiro da lista é Hong Kong, província chinesa semiautônoma, que adquiriu 152,8 mil toneladas entre janeiro e julho de 2015. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.