O impacto do Brexit levará o Federal Reserve (Fed, banco central americano) a postergar novamente a normalização de sua política monetária e a manter inalterada sua taxa de juros na próxima reunião de quarta-feira.
A manutenção do status quo não deixa dúvidas para a primeira reunião do Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC) depois do Brexit, que continua alimentando incertezas econômicas.
"Não vemos quase nenhuma possibilidade de uma maior restrição monetária durante a reunião", afirmou o escritório High Frecuency Economics, resumindo a opinião dos especialistas.
Só uma ínfima parte (1,7%) dos economistas consultados pelo Wall Street Journal acredita que a taxa de juros será aumentada na quarta-feira, depois que em dezembro o Banco Central americano decidiu pôr fim a sete anos de políticas de juros zero.
Salvo se houver uma surpresa, o Federal Reserve dos Estados Unidos manterá seus juros no nível atual (de entre 0,25% e 0,50%) para garantir a fluidez do crédito e amortizar um eventual choque proveniente da Europa.
A incerteza vinculada ao Brexit já havia exercido em meados de junho uma pressão favorável pela manutenção do status quo, quando os membros do Fed julgaram "prudente estar atentos (...) e avaliar" o resultado do referendo, segundo a ata daquela reunião.
As turbulências financeiras que seguiram a votação pela saída do Reino Unido da União Europeia foram aos poucos dissipadas, mas ainda estão no ar, especialmente pelos futuros vínculos comerciais entre Londres e seus ex-sócios da UE.
A inquietude continua, depois que o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou em baixa suas previsões de crescimento mundial por causa dos riscos associados à uma piora na economia que o Brexit pode provocar.
ESTAO DE ALERTA
O impacto por enquanto tem sido mínimo para a economia americana, mas o Fed permanece com os olhos bem abertos.
"É muito cedo para afirmar que o perigo passou para a estabilidade dos mercados financeiros", declarou em meados de julho Dennis Lockhart, presidente do Federal Reserve Atlanta. "O Fed e outros políticos responsáveis deverão estar alertas diante de qualquer sinal de instabilidade para o conjunto da economia", assegurou.
A situação da economia doméstica tampouco seria motivo para aumentar os juros na próxima reunião do Fed, que dessa vez não tem prevista uma coletiva de imprensa de Janet Yellen, presidenta do Fed dos Estados Unidos.
O mercado de trabalho americano teve um resultado melhor do que o esperado em junho, mas ainda deve esperar para confirmar sua recuperação depois de que em maio foi registrado o nível mais baixo de criação de empregos em seis anos.
Com uma taxa de desemprego de 4,9%, o objetivo do pleno emprego estabelecido pelo Fed parece uma meta alcançável.
No que diz respeito à inflação, a outra prioridade do Fed, os dados recentes nos Estados Unidos indicam que ela está baixa, mas próximo de chegar à meta de um aumento anual dos preços ao consumo de 2% ao ano.
"As baixas taxas de inflação permitiram ao Fed evitar ter que tomar decisões difíceis, mas esse período chega ao fim", disse Ian Shepherdson, da Pantheon Macroeconomics.
"O Fed terá que passar à ação antes do final do ano", acrescentou.
Em que momento exatamente? Depois de quarta-feira, os 10 membros do FOMC com direito a voto se reencontrarão entre os dias 20 e 21 de setembro para uma nova reunião, quando se saberá mais sobre os efeitos do Brexit e do estado de saúde da economia americana. Entretanto, haverá outras incertezas, com a proximidade da eleição presidencial nos EUA em 8 de novembro.
Já na mira do candidato republicano, Donald Trump, o Fed pode hesitar tomar decisões com amplo impacto econômico, embora Janet Yellen tenha garantido que essas independem de calendário político.
"Nunca vi que considerações políticas influenciassem de alguma maneira nas opiniões sobre as medidas decididas dentro do Federal Reserve", declarou Yellen em março.