Nova York - Bancos ingleses e suíços cheios de ativos de baixa liquidez. Bancos italianos e portugueses precisando de capital. Grandes bancos alemães com balanços problemáticos. As instituições financeiras na Europa estão sob pressão e apresentam risco crescente para a estabilidade do sistema financeiro internacional, incluindo o brasileiro. O alerta tem sido dado nas últimas semanas por economistas, como o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos Lawrence Summers, agências de rating e organismos multilaterais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O gigante alemão Deutsche Bank foi classificado recentemente pelo FMI como o banco de maior risco para a estabilidade do sistema financeiro internacional, por conta de suas fortes conexões com outras instituições financeiras ao redor do mundo. No segundo lugar da lista aparece o HSBC, banco com atuação forte no Reino Unido. Em terceiro lugar, outro europeu, o Credit Suisse.
O FMI cobrou em seu último "Relatório de Estabilidade Financeira Global" atenção "urgente" dos dirigentes europeus para o setor financeiro da região, que enfrenta "desafios significativos" e a solução dos problemas do segmento "não pode mais ser adiada". Outro organismo, o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) também alertou que as instituições financeiras da região estavam distribuindo dividendos e enfraquecendo a base de capital, enquanto deveriam reter os ganhos e emprestar mais.
No último teste de estresse conduzido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) com 33 bancos que operam nos Estados Unidos, as subsidiárias de dois europeus, o Deutsche Bank e o Santander, foram as únicas reprovadas. Este teste mede como ficaria a situação de grandes bancos no caso de uma crise financeira.
Os problemas dos bancos europeus começaram a se acumular após a crise financeira mundial de 2008. Anos de baixo crescimento da zona do euro e aumento do desemprego levaram os empréstimos inadimplentes a bater em quase 1 trilhão de euros na região este ano. A situação vem sendo agravada recentemente pela adoção de juros negativos pelo Banco Central Europeu (BCE), que reduz a rentabilidade do setor, e também pelas incertezas geradas pela saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit.
A situação dos bancos apresenta algumas diferenças entre países. No Reino Unido, Alemanha e Suíça grandes bancos possuem uma enorme quantidade de ativos imobiliário em suas carteiras, que são papéis de baixa liquidez e, portanto, difíceis de vender caso o setor precise de capital rapidamente. Na Itália, a inadimplência disparou e na Alemanha, o Deutsche tem 42 bilhões de euros expostos a derivativos, um dos maiores montantes do mundo, e ainda enfrenta uma série de litígios que podem lhe custar bilhões de euros.
Com o setor sob pressão, as ações dos bancos europeus acumulam fortes quedas este ano, sempre acima de dois dígitos. Entre os piores desempenhos, o Deutsche Bank tinha perda de 41% de janeiro até o pregão de ontem, mesmo montante do Credit Suisse. Já o italiano UniCredit recuava 55%.
"A situação dos bancos europeus deveria e vai receber extensa atenção dos governos", afirmou o ex-secretário do Tesouro dos EUA em um artigo, afirmando que os múltiplos que as grandes instituições financeiras da região estão sendo negociadas nas bolsas mostram que os investidores estão com expectativas desoladoras para o setor. Summers acredita que o Brexit pode piorar a situação do setor por conta das incertezas associadas ao movimento e da necessidade de realocar operações de alguns bancos.
Outro importante economista que chegou a alertar nos últimos dias sobre os riscos dos bancos europeus foi o prêmio Nobel e professor da Universidade de Columbia, Joseph Stiglitz. Ele chamou atenção principalmente para os bancos italianos, que podem ser o novo teste para o futuro da União Europeia. Com uma das taxas de inadimplência mais altas do mundo, beirando os 20%, os calotes aumentaram 85% em cinco anos e metade desta dívida é das famílias. O governo tem um plano de injetar 40 bilhões de euros nas instituições do país, mas as regras da UE não permitem pacotes de socorro financeiro com dinheiro público nos moldes do que aconteceu nos EUA na crise de 2008.
Como consequência dos problemas, as notas de crédito dos bancos europeus vêm sendo pioradas, o que contribui para aumentar os custos de captação. A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou recentemente os ratings de várias instituições financeiras da região, algumas em dois níveis, incluindo os alemães Deutsche Bank e Commerzbank, o inglês Barclays e o italiano UniCredit. Logo após o Brexit, a Moody's alertou que o movimento pode levar a um menor crescimento econômico no Reino Unido, aumento da incerteza, queda da demanda por crédito, aumento da inadimplência e captação de recursos mais volátil por bancos da região.