Argentina avança no diálogo com FMI para estabilizar sua economia

O FMI aprovou em junho um acordo com a Argentina para entregar 50 bilhões de dólares, em três anos, e já liberou US$ 15 bi
AFP
Publicado em 05/09/2018 às 2:46
O FMI aprovou em junho um acordo com a Argentina para entregar 50 bilhões de dólares, em três anos, e já liberou US$ 15 bi Foto: Foto: JUAN MABROMATA / AFP


A Argentina prosseguirá nesta quarta-feira, em Washington, com o diálogo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para acelerar a liberação de recursos visando estabilizar sua economia.

O ministro da Economia, Nicolás Dujovne, e o vice-presidente do Banco Central da Argentina, Gustavo Cañonero, se reuniram com a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, para renegociar as condições do acordo de 50 bilhões de dólares.

"Fizemos progressos durante nossa reunião e trabalharemos juntos para fortalecer ainda mais o programa das autoridades argentinas apoiado pelo FMI. Nosso diálogo continuará agora a nível técnico", disse Lagarde.

"Nosso objetivo comum é chegar a uma conclusão rápida para apresentar uma proposta ao diretório executivo do FMI".

O FMI aprovou em junho um acordo stand-by com a Argentina para entregar 50 bilhões de dólares, em três anos, e já liberou US$ 15 bi, em meio a uma corrida cambial que começou em abril e se agravou nos últimos dias diante do impacto da crise na Turquia sobre as moedas de países emergentes.

O presidente Donald Trump expressou o "firme apoio" dos Estados Unidos à Argentina, abalada por uma severa crise econômica, e elogiou Macri pelo "excelente trabalho", disse a Casa Branca.

"A Argentina é um parceiro estratégico de longa data dos Estados Unidos e um importante aliado que não pertence à Otan, e o presidente Macri está fazendo um excelente trabalho nesta difícil situação econômica e financeira", afirmou a declaração.

O descontentamento entre os argentinos com o ajuste fiscal aplicado pelo governo para acertar suas contas cresce de forma dispersa.

Em Buenos Aires, centenas de pessoas protestaram contra a demissão de funcionários públicos e em rechaço à redução de gastos em tecnologia e educação. Uma poderosa central sindical analisa antecipar uma greve geral convocada para o dia 25.

"Ele nos encurralou com aumentos de preços, tudo está muito ruim. Algo tem que ser feito, e o barulho também é um choque", disse à AFP Liliana Mayoral, aposentada que participou dos protestos de segunda-feira.

Reunidos nesta terça em Buenos Aires, os governadores peronistas (opositores) disseram que vão "acompanhar a governabilidade" do país, disse Juan Manzur, presidente de Tucumán (norte).

Para a preocupação dos mercados, Macri não tem maiorias próprias no Congresso, o que pode complicar a aprovação do orçamento de 2019.

Ajuste e cortes

Na segunda-feira, o presidente Mauricio Macri anunciou um plano de austeridade para reduzir o déficit fiscal do país, que é de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), a zero em 2019.

Doze dos 22 ministérios foram rebaixados para secretarias de Estado, entre eles pastas-chave como Saúde e Trabalho. Ainda foi imposta temporariamente uma tarifa sobre as exportações de quatro pesos por cada dólar vendido.

Ao assumir em 2015, Macri tinha zerado, ou reduzido, as alíquotas às exportações agrícolas, o setor que mais gera divisas à Argentina, e das mineradoras.

"Sabemos que é um imposto ruim, péssimo. Mas preciso pedir que entendam que é uma emergência e que precisamos de seu apoio", disse Macri.

As medidas se somam à redução orçamentária que inclui demissões no setor público, redução de subsídios aos serviços e ao transporte, assim como a desaceleração de obras públicas de infraestrutura.

Andrés Abadía, economista da Pantheon Macroeconomics, disse que os planos de Buenos Aires "deveriam ser encarados como positivos, mas o sentimento do mercado em relação à Argentina continua sendo frágil".

Dúvidas sobre bancos e empresas

A agência S&P deu classificação de crédito negativa a quatro entidades financeiras argentinas: o Banco Patagônia, o Banco de Galícia e Buenos Aires, o Banco Hipotecário e o Banco da Província de Buenos Aires. A mesma medida foi aplicada a nove empresas argentinas, a maioria delas de petróleo e gás, eletricidade e telecomunicações.

A Capital Economics destacou, porém, que "os mercados não percebem como iminente uma moratória da Argentina" e considerou que o FMI e o governo de Macri "farão tudo que estiver a seu alcance para evitar isso".

O peso continuou a cair nesta terça-feira e perdeu 1,88%, cotado a 39,79 por dólar.

A moeda argentina perdeu mais de 50% em relação à americana desde janeiro.

O colapso do peso e a falta de confiança no governo elevou o risco-país para quase 800 pontos, o segundo maior da região, atrás da Venezuela.

O declínio argentino piorou desde o primeiro desembolso do FMI, de 15 bilhões de dólares em 22 de junho, parte do qual foi usado para tentar acalmar os mercados com a intervenção pontual do Banco Central.

A resposta do mercado expôs a magnitude da crise de confiança no governo e em sua capacidade de saldar dívidas.

O frenesi cambial ainda foi agravado pela incerteza dos argentinos, com inflação de quase 20% em julho e que poderia chegar a 40% no ano.

Para apaziguar os mercados, Macri pediu ao FMI que antecipe "todos os fundos necessários" do acordo. Ele espera cobrir, assim, as necessidades financeiras de 2019, quando termina seu mandato.

Para frear a queda do peso, na semana passada, o Banco Central elevou a taxa de juros de 45% para 60%, a mais alta do mundo.

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