INSS: Greve para uns e castigo para outros

População sofre nos postos de atendimento do INSS, órgão que paralisou suas atividades há mais de 60 dias. Categoria quer 27% do aumento salarial
Da editoria de economia
Publicado em 03/09/2015 às 8:15
População sofre nos postos de atendimento do INSS, órgão que paralisou suas atividades há mais de 60 dias. Categoria quer 27% do aumento salarial Foto: Foto: Ricardo Labastier/JC Imagem


A greve dos servidores do INSS já dura mais de 56 dias e quem precisa solicitar algum serviço no órgão está sofrendo com a paralisação. Em Pernambuco, a greve dos servidores atinge 62 das 65 agências do Instituto no Estado, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social (Sindsprev).

O motorista Raimundo Pacheco passou por dois quadros de acidente vascular cerebral (AVC) e está há sete meses sem receber, em busca do auxílio junto ao INSS. Morador da cidade de Vicência, no interior do Estado, o servidor conta que gasta, em média, R$ 100 por dia para se deslocar até à capital pernambucana em busca de atendimento.

“Viajei cerca de 130 quilômetros até aqui na esperança de conseguir receber esse benefício, mas está realmente difícil”. Raimundo conta que em sua cidade há uma agência do INSS recém-construída, mas que ainda não abriu as portas por falta de funcionários. 

A greve dos servidores do INSS atinge todo o Brasil. A categoria reivindica um reajuste para repor as perdas salariais desde 2010, a incorporação das gratificações, que somam cerca de 70% dos salários e a realização de concursos públicos para suprir o déficit de profissionais nas agências. Enquanto os servidores pedem um aumento de 27%, o governo oferece 21,3%, escalonado em quatro anos.

“O que tivemos até agora foram reuniões de fachada. O governo faz promessas apenas com palavras, nada é assegurado. Até o concurso, que é tão necessário, foi suspenso”, diz um dos coordenadores do Sindsprev, Antônio Paz. De acordo com o servidor, os servidores do INSS foram os únicos do funcionalismo público federal que tiveram os salários e o ponto cortado ao iniciar uma paralisação.

Ainda segundo ele, as condições de trabalho nas agências são tão precárias que até mesmo itens básicos precisam ser comprados pelos próprios funcionários. “Precisamos fazer cotinhas pra comprar coisas essenciais, se não, realmente, ficamos sem. Somos a classe que trabalha para os pobres, que não gera arrecadação, por isso ninguém olha para nós”, afirma. 

Para quem espera para ser atendido, a estimativa é de que o funcionamento só seja normalizado em fevereiro do ano que vem. Enquanto isso, em meio ao impasse entre o órgão e os servidores, quem padece é quem precisa dos serviços do INSS. O professor Petrônio Martelli testemunha um caso que exemplifica esse cenário. Ele conta que a empregada doméstica que trabalha em sua casa deu à luz no início do mês de julho, antes do início da paralisação.

Com a deflagração da greve, a concessão do benefício ficou estagnada e a profissional, desamparada. “Nós contribuímos o tempo todo, regularmente, e quando é o momento dela receber, não pode. Continuo prestando assistência para que ela não passe fome com uma recém-nascida no colo, mas essa situação é absurda e até desumana”, afirmou o professor. A categoria afirma que mantém 30% dos atendimentos, o mínimo exigido por lei para garantir a legalidade da greve.

No entanto, que vai até as agências INSS no Recife, como a da Rua dos Palmares, em Santo Amaro, se depara com as portas fechadas. “Eu entendo que a greve é um direito do trabalhador, mas quem sofre com tudo isso é quem mais precisa. Pessoas humildes estão sendo penalizadas”, diz o professor Petrônio Martelli, que afirma ter procurado, sem sucesso, a unidade localizada no bairro da Encruzilhada. Esse atendimento, já prejudicado, tende a ficar ainda pior a partir de amanhã (4).

Os médicos peritos da Previdência, que continuavam atendendo, anunciaram que também darão início a uma paralisação. Essa decisão impacta de forma direta renovação e concessão de benefícios como a aposentadoria especial e o auxílio-doença. Em nota, o INSS informa que a Central de Atendimento 135 está à disposição para informar a situação do atendimento nas Agências e orientar os segurados. 

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