As condições internas afetarão a qualidade do crédito no Brasil, tanto para o setor público quando para o privado, afirma a agência de classificação de risco Moody's em relatório divulgado nesta terça-feira (6).
A agência cita a deterioração da situação fiscal, os problemas políticos e a Operação Lava Jato como os principais fatores de influência para a piora no cenário de captação de recursos no país.
Esses fatores levaram à queda do emprego, consumo e salários reais, levando a Moody's a projetar que a atividade econômica no Brasil terá contração de 3% em 2015 e de 1% em 2016, diz o texto.
"Nós não vemos como a posição fiscal do Brasil pode melhorar no curto prazo devido à falta de consenso político, que tem impedido a atual administração de entregar superavits fiscais de tamanho suficiente para conter o nível de endividamento do governo", afirma Mauro Leos, vice-presidente e analista sênior da Moody´s.
"Não acreditamos que o Brasil possa alcançar crescimento real de 2% e superavits primários de pelo menos 2% do PIB até 2017-18, o que é necessário para estabilizar a relação dívida/PIB."
Como consequência, diz a Moody's, o perfil de crédito do governo e de empresas da maioria dos setores sofrerá pressões da demanda mais fraca, custos crescentes de empréstimo e do aumento da inadimplência, além do investimento menor.
A agência ressalta que a maior parte dos emissores brasileiros que recebem o grau de investimento da agência -o chamado selo de bom pagador- tem liquidez adequada até ao menos a metade de 2016.
O acesso aos mercados internacionais para os emissores de grau especulativo, porém, ficará mais caro, afetando seus planos de expansão e aumento de capital.
O relatório afirma ainda que a queda no preço de commodities prejudicará o desempenho de empresas como Vale e Petrobras.
"A recessão brasileira e a baixa confiança do consumidor reduzirão a demanda dos setores de telecomunicações, construção e aéreas, mas o real desvalorizado beneficiará exportadores de proteína e de produtos de papel e celulose", afirma o texto.
As companhias do setor de construção, prejudicado pela Lava Jato, devem enfrentar custos mais elevados de financiamento, mesmo aquelas que não estão associadas à Petrobras.
O risco aumenta ainda para os bancos, prejudicados pelo aumento do desemprego, a redução da renda e, portanto, um crescimento da taxa de inadimplência.