Moody's acredita em quedas de 3% do PIB do Brasil em 2015 e de 1% em 2016

A diretora Paloma San Valentin citou que as economias na América Latina estão sendo pressionadas, além das questões locais, pelo pequeno crescimento global
Do Estadão Conteúdo
Publicado em 06/10/2015 às 11:36
A diretora Paloma San Valentin citou que as economias na América Latina estão sendo pressionadas, além das questões locais, pelo pequeno crescimento global Foto: Foto : STR/AFP


A diretora gerente da Moody's para os Estados Unidos e Américas, Paloma San Valentin, reiterou nesta terça-feira (6) que a projeção da agência de classificação de riscos é de retração de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano e um recuo de 1% em 2016. Ela citou que as economias na América Latina estão sendo pressionadas, além das questões locais, pelo pequeno crescimento global, por exemplo. O menor crescimento da economia chinesa, destacou, tem exercido ainda mais pressão sobre a América Latina.

"Vários fatores estão dificultando a situação para a América Latina, contexto para o crescimento cada vez mais difícil por um cenário externo que está fora do controle dos países", destacou

Na região, o Brasil é o País mais exposto ao menor crescimento da China, tendo em vista, principalmente, a menor demanda de commodities, afetando os preços dos insumos, que vem batendo de frente na economia brasileira. Ao seu lado, Chile e Peru também são os mais impactados com esse cenário. "Brasil, Chile e Peru são s países que mais exportam para a China", ressaltou Paloma, durante a 17ª Conferência Anual da Moody's, em São Paulo.

A Moody's estima que a China cresça 6,3% neste ano e depois mantenha um crescimento de 6%, porcentual muito menor do que o visto em anos anteriores. "E não existe outra economia que pode dar o suporte como a China", destacou.

Outro impacto do fraco crescimento mundial, disse, é o efeito nas taxas de câmbio, com muitas moedas se desvalorizando, caso da moeda brasileira. Essa pressão nas taxas de câmbio, destacou, terá um fator adicional no momento em que o juro subir nos Estados Unidos, o que deve elevar o fluxo de capital para o País

A América Latina, lembrou, já vem sofrendo de um menor fluxo de entrada de capital, muito menor daquele observado nos últimos anos, tendo em vista o aumento da aversão ao risco em relação à região. Paloma frisa, todavia, que s impactos nos países nesse contexto da economia mundial não é igual para todos. Segundo ela, México, Peru e Chile estão melhores preparados para atravessar esse período do que Brasil e Argentina.

Média de crescimento

O vice-presidente da Moody's, Mauro Leos, afirmou nesta terça-feira que a média de crescimento no segundo governo Dilma Rousseff (2015-2018) deve ficar em -0,3%, comparado com uma média de 2,1% no primeiro mandato. A expectativa é de contração de 3% este ano, -1% em 2016, e depois uma recuperação gradual, com crescimento de 1% em 2017 e 2% em 2018.

Enquanto isso, no âmbito fiscal, o superávit primário médio no segundo governo Dilma deve ser de 0,6%, ante 1,2% no primeiro mandato. E a dívida bruta deve ficar em 68,5% do PIB, de 54,6% no primeiro governo Dilma. "A relação dívida/PIB sempre foi um dos elos mais fracos do rating do Brasil, sempre foi maior que a média dos pares com rating na faixa Baa. É altamente improvável que essa proporção volte para onde estava antes, nós temos um novo cenário", comentou.

Ele lembrou alguns dos fatores que fizeram a Moody's rebaixar o Brasil este ano, como o baixo crescimento, com a perspectiva de dois anos seguidos de contração econômica, e também os crescentes déficits fiscais. 

Recuperação

Mauro Leos afirmou que a economia do Brasil pode melhorar a partir da segunda metade de 2016. Apesar disso, a agência acredita que o ambiente econômico continuará fraco e a dinâmica política instável neste fim de 2015 e em 2016. "Não estamos otimistas com os próximos anos", comentou.

Apesar do ambiente de contração econômica, inflação alta e juros elevados, a Moody's espera que a melhora a partir da segunda metade de 2016 alivie a pressão nas contas do governo. "Acreditamos que os problemas políticos não são suficientes para comprometer a sustentabilidade fiscal", apontou.

Mesmo assim, se houver uma fracasso no cumprimento dos objetivos fiscais e econômicos, ou uma instabilidade política maior do que o esperado, o rating do Brasil poderia ser rebaixado. "Isso ocorreria se as métricas de dívida do governo se deteriorarem mais e mais rápido do que esperamos - que é basicamente que a dívida bruta chegue a 70% do PIB e se estabilize", afirmou.

Para Leos, uma condição básica para estabilizar as métricas de dívida do Brasil é um crescimento de 2% com superávit primário também de 2%. "Muita coisa depende dessas tendências", explicou Leos. 

"As discussões no futuro terão a ver com as projeções de médio prazo. Temos de esperar este ano e o começo do próximo para vermos os acordos dentro da própria administração e desta com o Congresso. As condições do Brasil são desafiadoras, mas ao mesmo tempo, na comparação global, há elementos para dar suporte ao rating".


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