A parceria do Banco do Brasil com os Correios no Banco Postal corre o risco de acabar neste ano. Os dois sócios na prestação de serviços financeiros discordam, atualmente, do objetivo e, principalmente, do valor do negócio.
Com rombo nos últimos três anos, sendo o de 2015 de R$ 2,1 bilhões, os Correios veem a renovação do contrato com o BB como uma oportunidade de injetar dinheiro na estatal, que ainda opera no vermelho neste ano. O melhor resultado da história dos Correios foi justamente o de 2012, afetado pelo negócio com o banco público.
Já o BB, segundo fontes, não considera o negócio tão vantajoso, em meio ao cenário econômico adverso e às mudanças no comportamento dos clientes. Sem o BB, os Correios precisariam leiloar novamente o serviço neste ano. Segundo a avaliação dos maiores bancos do País, há pouco apetite para explorar a rede de agências da estatal, presente em 95% das cidades brasileiras. Com o avanço dos canais digitais e os desafios de tornar a rede física rentável, a atratividade do canal diminuiu.
O Bradesco, que ficou com o Postal por dez anos, abriu mais de mil agências após deixar de operar o serviço e agora tem o desafio de integrar o HSBC. O Itaú não fez proposta no último leilão. A Caixa não tem capital para fechar a operação sem nova capitalização da União - está, inclusive, privatizando áreas. O Santander também não tem tanto apetite pelo canal, além de, assim como o Itaú, estar na negociação para a compra das operações de varejo do Citi no País.
"O negócio (Banco Postal) tem alto custo. O banco começa a ter problemas de assalto, numerário, eventos que são uma realidade que já vivemos. Antes de pensar em discutir a relação, é preciso pensar no papel dos Correios, como funciona hoje e como agregar valor", diz o executivo de um grande banco. Outro afirma que a instituição até analisaria eventual oportunidade de parceria, mas também reforça que o canal perdeu parte de sua relevância.
O Banco Postal foi importante para aumentar o acesso aos serviços financeiros em municípios do interior. Segundo o Banco Central, 1.987 cidades não têm agência bancária, mas 1.633 delas possuem um ponto de atendimento, como os Correios, que prestam serviços bancários básicos, como transferências, abertura de contas, saques e recebimento do INSS.
O BB venceu o leilão em maio de 2011, num lance de R$ 2,3 bilhões, e começou a operar no ano seguinte nas mais de 6 mil agências próprias dos Correios que oferecem serviços do Banco Postal. O BB teve de desembolsar mais R$ 1 bilhão ao longo de cinco anos pelo pagamento de transações bancárias efetuadas nos Correios. Em 2.035 municípios, o BB só está presente por causa do Banco Postal. Em outros 3.223, o maior banco do País tem agência própria.
Segundo fontes, o entendimento do BB é de que a parceria com o Postal tem de passar por adaptação. Isso porque o cenário atual é diferente de quando o banco ganhou a concorrência para explorar a rede física dos Correios. De lá para cá, as transações digitais e remotas tiveram um salto, reduzindo a necessidade de agências, que passam a ter outro foco, mais voltado para negócios e assessoria.
"A parceria com os Correios vai passar obrigatoriamente por uma adaptação. No passado, fazia muito sentido (transformá-lo em instituição financeira). Hoje, não me parece que faz mais sentido", diz uma fonte a par das negociações.
CUSTO - O presidente dos Correios, Guilherme Campos, diz que a atuação da estatal como correspondente bancário tem custo elevado por causa dos investimentos em segurança e questões trabalhistas. Os funcionários dos Correios que trabalham nas agências com Banco Postal exigem equiparação de salário e jornada aos bancários.
"Eles querem transferir para o correspondente bancário o que nenhum banco quer nas suas agências: gente e numerário", explica Campos. "É muito bem-vindo o Banco Postal, só que esse custo tem de estar na negociação", acrescenta.
Segundo Campos, as negociações entre os dois sócios voltaram após a formalização de seu cargo e de Paulo Caffarelli como presidente do BB. A renovação está em pauta desde maio de 2015, mas ficou em compasso de espera com a mudança nas empresas. Em dezembro, encerram-se os cinco anos do contrato, que podem ser renovados por mais cinco. Procurado, BB não se manifestou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
CRIAÇÃO DE UM NOVO BANCO ESTÁ DESCARTADA - No auge da parceria, Correios e Banco do Brasil (BB) chegaram a anunciar a criação de um novo banco, em novembro de 2013 - projeto que está totalmente descartado pela nova gestão das duas empresas públicas. Na época, os sócios chegaram a anunciar que tinham estabelecido um novo modelo de parceria para por fim à concorrência entre os bancos para explorar o serviço. Em vez de realizar concorrência, baseada no maior valor oferecido para exploração da rede, Correios e BB seriam sócios de uma nova empresa, cada um com 50%. O modelo não vingou.
Quando o BB arrematou o Banco Postal, o Brasil vivia o auge do processo de bancarização, com milhões de pessoas migrando das classes D e E para a C. Além disso, o consumo estava no ápice. O momento atual, porém, vai na contramão. As pessoas estão com menor poder aquisitivo e o consumo segue reprimido diante de 11,4 milhões de desempregados.
Em paralelo, as transações bancárias migram, cada vez mais, para os canais digitais. No ano passado, operações via dispositivos móveis, que inclui celulares e tablets, cresceram 138%, galgando a segunda posição atrás apenas do internet banking, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Em alguns bancos, como no BB, por exemplo, os canais remotos já lideram em termos de importância.
Uma fonte diz que a complementaridade que o Postal traz para o BB é importante, já que está em 95% dos municípios do Brasil, com mais de 6 mil agências, enquanto o banco público tem presença em metade do território nacional. Mas, considerando o contexto atual, pontua a fonte, o negócio deixa de ser o que foi para o Bradesco que deteve o canal do Postal por dez anos. Quando perdeu o contrato para o BB, abriu mais de mil agências para compensar o fim da parceria com os Correios e para atender a administração da folha de pagamentos dos funcionários do governo do Rio de Janeiro.
OPERAÇÕES - O Postal, nas agências dos Correios, sempre ofereceu serviços bancários básicos. Quando o BB assumiu o contrato, desenvolveu um projeto na esteira do esforço de ampliar suas receitas para transformá-lo em uma instituição completa, passando a vender um leque maior de produtos como seguros, cartões, crédito e aplicações. Na ocasião, a gestão seria compartilhada entre o BB e os Correios. Chegaram a obter aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para o novo acordo, firmado no início de 2014. O plano de negócios, porém, emperrou com a complexidade do negócio e o momento de crise.
Com mais de 1,9 milhão de correntistas, o Postal tem mais de 70% dos clientes com produtos bancários. Com mais de duas soluções, porém, essa fatia cai para pouco mais de 20%. Em termos de crédito, o volume desembolsado no primeiro trimestre chegou a R$ 242 milhões, mais que o dobro da cifra registrada após um ano do início do contrato, de R$ 113 milhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.