De um lado, preços mais baixos em consequência do mercado desaquecido e juros em queda. Do outro, persistência da insegurança em relação ao desemprego e bancos com crédito para financiamento ainda muito restrito. Quem quer comprar um imóvel hoje vive um dilema entre as vantagens e desvantagens do momento. Mas, afinal, essa é a hora de financiar a casa própria? Segundo os especialistas, antes de encher os olhos com os preços praticados pelo mercado, é importante colocar tudo na ponta do lápis e analisar caso a caso. Tanto do investimento quanto do orçamento.
A regra geral do planejamento financeiro determina que os percentuais da renda a serem comprometidos variem entre 5% e 30% (confira na arte abaixo). Antes de cogitar um comprometimento que, em geral, é de grande volume financeiro e dura anos (talvez até décadas), essa deve ser a ponderação principal, mesmo que a oferta da casa própria pareça imperdível.
Considerado isso, o preço pode pesar na decisão. É que eles estão em queda: segundo o Índice FipeZap, o valor do metro quadrado no Recife caiu 2,38% no acumulado entre os meses de janeiro e julho deste ano. Foi a terceira maior queda do País, ficando atrás apenas de Fortaleza e Niterói. Mesmo assim, a capital pernambucana continua sendo a nona com o valor mais alto do País, com média de R$ 5.833 o metro quadrado.
“Como estamos há dois ou dois anos e meio com o mercado em baixa, toda a demanda desse período foi represada, o número de pessoas querendo comprar aumentou e o número de lançamentos despencou. Isso significa que no primeiro momento de melhora vai haver uma corrida para comprar e, consequentemente, os preços vão voltar a subir. Nesse sentido, o melhor momento para comprar é agora”, destaca o consultor de financiamento da Ademi-PE e diretor da W Engenharia, Whashington Marques.
O criador do site de simulações Canal do Crédito e do aplicativo ReSale, Marcelo Prata faz ressalvas quanto ao medo de perder a oportunidade de bons preços. “Existe um certo tempo de mercado entre quem precisa vender encontrar quem quer comprar, isso não acontece de uma hora para a outra. Diante da ressaca que estamos vivendo agora, após os anos de crescimento imobiliário expressivo, mostra que não adianta seguir o efeito manada. Bons negócios sempre vão existir, eles precisam caber no seu bolso”, defende. Ele destaca os números de mercado para defender a prudência: a quantidade de imóveis retomados pela Caixa Econômica Federal (CEF) por falta de pagamento das prestações quase dobrou entre os anos de 2015 e 2016, passando de 8.775 unidades para 15.881 unidades.
Para não perder a oportunidade, mas também não sofrer durante os anos que o imóvel será quitado, a recomendação é frieza e objetividade. Antes de se encantar com o valor das parcelas, ficar atento ao custo final do investimento – que aumenta na medida em que crescem os números de parcelas, já que rolam mais juros. “Quem tem algum recurso, hoje é o momento favorável. Mas o mais indicado é tentar abater o custo do imóvel, usando recursos guardados, FGTS...”, sugere o coordenador do curso de economia da Faculdade Boa Viagem, Antônio Nunes Neto.
Outro fator que não deve ser esquecido pelos compradores é a perspectiva de emprego. Mais uma vez, o longo período que a contratação de um financiamento imobiliário leva exige de quem o contrata uma perspectiva mínima de futuro que permita saber se será possível honrar o compromisso ao longo dos anos. “Esse é o fator que ainda está impedindo muita gente a procurar o financiamento”, diz Nunes Neto.