Desde meados do ano passado, quando teve início o cerco de várias operações da Polícia Federal que tiveram o grupo J&F como alvo - entre elas, Sépsis, Cui Bono, Greenfield e Carne Fraca -, Wesley Batista passou a temer uma eventual prisão simultânea dele e de seu irmão, Joesley. O receio era tanto pela segurança dos dois, quanto pelos efeitos negativos na companhia.
Há pouco mais de um mês, questionado por interlocutores sobre o risco de ser preso, o empresário chegou a afirmar que foi esse medo que levou os irmãos à delação. Nas palavras de Wesley, "nada teria valido a pena" caso as vidas dele e de Joesley ficassem sob risco e a companhia da família acabasse quebrando. O receio, dizia, derivava das ameaças de morte que o irmão recebera e da percepção de que a delação dos dois atingia não só políticos graúdos, mas atingia pessoas perigosas.
Tido como o mais introspectivo dos três irmãos Batista, Wesley, de 47 anos, foi o responsável pelo processo de internacionalização do grupo JBS, que começou em 2005 com a aquisição do frigorífico Swift Armour na Argentina e se estendeu por outros 21 países. Mais novo que José Batista Júnior - o irmão que se desligou da empresa para tentar uma carreira política que não decolou - e mais velho que Joesley, Wesley é descrito como um empresário obstinado pelo corte de custos e que conhece profundamente a operação de seus negócios.
Assim como Joesley, Wesley não terminou o segundo grau e aprendeu na prática a administrar as empresas. Após a JBS comprar (com financiamento do BNDES) a Swift nos Estados Unidos e na Austrália em 2007, ele se mudou para a cidade americana de Greeley, no Colorado, para comandar a operação internacional da companhia. Chegou sem falar inglês e - novamente - aprendeu na prática, com a ajuda do diretor da JBS Marcos Sampaio.
Dessa época nos EUA, tornou-se famosa a história de que, ao chegar lá, Wesley viu como os funcionários cortavam a carne e, inconformado com o desperdício, mostrou ele mesmo como deveriam fazer - seu conhecimento do setor vai desde a compra do gado até a distribuição, passando pelo processo de desossa, contam pessoas próximas a ele. Ainda nos EUA, demitiu centenas de funcionários, grande parte formada por executivos de alto escalão, que, segundo afirmou à época, não tinham conhecimento sobre o negócio da carne.
Sob seu comando e o constante corte de gastos - além do apoio do BNDES -, o grupo JBS foi avançando internacionalmente: comprou a americana Pilgrim’s, a australiana Primo Smallgoods e a irlandesa Moy Park, entre outras.
Depois de quatro anos morando fora, voltou ao Brasil em 2011 para assumir a presidência executiva do grupo JBS (que reúne principalmente os frigoríficos da holding J&F) e para comandar a integração das unidades internacionais. Seu irmão Joesley, que até então presidia a companhia, passou, a ocupar apenas o cargo de presidente do conselho administrativo da JBS.
Nos últimos meses, os dois irmãos tiveram à frente na tomada de decisão de venda de ativos da holding, como Alpargatas e Eldorado Celulose - das quais o grupo se desfez para levantar caixa, reduzir dívida e pagar a multa de R$ 10,3 bilhões do acordo de leniência. Joesley é tido como alguém de perfil mais estratégico, enquanto Wesley, um empresário com forte habilidade operacional.
As diferenças não terminam aí. Socialmente, Wesley é bem mais discreto que seu irmão mais novo. Apesar de ser visto nas micaretas promovidas pelo casal Joesley e Ticiana Villas Boas, não costuma receber convidados em sua casa.
No mês passado, durante teleconferência com analistas sobre os resultados mais recentes da companhia, divulgados no dia 14 de agosto, o presidente da JBS dizia estar "seguro e tranquilo" sobre as suspeitas de uso de informação privilegiada em operações da empresa às vésperas da delação de seu sócio e irmão Joesley Batista.
Durante a conversa, Wesley foi bastante questionado sobre essa e as demais investigações envolvendo o universo da empresa, que acabaram ofuscando, em parte, os comentários sobre resultados operacionais da JBS, que foram satisfatórios mesmo com os abalos do período, como a Operação Carne Fraca.
Segundo fontes próximas à empresa, a prisão de Wesley deixou a JBS em uma situação de "equilíbrio tenso" nesse primeiro momento Por um lado, trouxe um certo alívio, porque pôs panos quentes no maior conflito travado com o BNDES, que queria tirar o empresário do cargo pelos prejuízos causados à empresa. Por outro lado, era Wesley o principal responsável pelas negociações com credores e pela venda dos ativos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.