A ação da empresa de alimentos JBS recuperou nesta quarta-feira (27) a cotação que tinha antes da divulgação da delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista. A informação veio à tona na noite de 17 de maio, quando o papel mais negociado da empresa fechou cotado a R$ 9,50, segundo dados da Broadcast. Nesta quarta-feira, a ação da companhia de alimentos fechou o dia em alta de 2,74%, cotada a R$ 9,75. Só em dezembro, a alta acumulada é de 23,26%, embora a queda no ano ainda seja de 14,2%.
Nos dias seguintes à delação dos Batistas, o pavor tomou conta da B3 (nova denominação da Bolsa paulista), que chegou a ter acionado o "circuit breaker" - mecanismo que interrompe as negociações. Apenas em 22 de maio, o papel da JBS recuou 31%, fechando a R$ 5,98.
Os dados da delação premiada de Joesley e Wesley Batista incluíam a gravação de um encontro noturno com o presidente Michel Temer, feito fora da agenda oficial. A colaboração implicava ainda políticos importantes, como o senador Aécio Neves (PSDB), que chegou a ter o mandato suspenso.
Apesar de ter causado furor no mercado e prejudicado as ações da empresa, o acordo de delação - que garantia imunidade total aos Batistas - acabou não ficando em pé. Em setembro, Joesley e Wesley foram presos - situação na qual se encontram até hoje. Joesley foi acusado de omitir informações de sua delação e de, junto com o irmão, manipular o mercado acionário para obter lucros pessoais. Os dois empresários negam que tenham cometido as irregularidades.
Na época da prisão dos empresários, a ação da JBS era negociada ao redor de R$ 8,13. A empresa viu-se obrigada a substituir Wesley Batista do comando do negócio. Hoje, José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, pai dos empresários e fundador da JBS, exerce o comando da companhia de alimentos. Mesmo com seu comando no cárcere, o grupo J&F conseguiu levar a cabo uma série de vendas bilionárias de ativos - entre elas da Vigor e da Eldorado Celulose.
Em relatório sobre a JBS, o banco JP Morgan afirmou que a empresa deu andamento a planos que foram benéficos aos investidores, como a venda de ativos, a troca de executivos e a criação de um comitê de governança corporativa. Lygia Pimentel, consultora da Agrifatto, diz que é importante avaliar a recuperação do valor das ações da JBS no contexto positivo recente para o setor de carne. "As exportações de carne bovina estão indo bem e, para o ano que vem, com a expectativa de dólar forte, o setor deve ampliar o faturamento com embarques externos", diz.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) divulgou, em dezembro, que espera fechar o ano de 2017 com faturamento de US$ 6,2 bilhões, um crescimento de 13% sobre 2016. Para 2018, a estimativa da Abiec é de faturamento de US$ 6,9 bilhões - uma expansão que supera 10%.
Apesar de a JBS ter perdido momentaneamente mercado para concorrentes como a Minerva - que chegou a reabrir frigoríficos em Mato Grosso para atender à nova demanda -, a JBS recuperou aos poucos a confiança dos fornecedores de boi gordo. Isso ocorreu apesar de a empresa ter começado a pagar os bois a prazo, e não mais à vista, como costumava fazer.
No início deste mês, o presidente global de operações da JBS, Gilberto Tomazoni, reconheceu que o pagamento a prazo fez com que o grupo perder espaço. "Isso causou uma restrição no volume de abates que podíamos ter, mas mantivemos a capacidade instalada, não fechamos nossas fábricas", disse.
Diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres diz que a continuidade das operações da JBS, a despeito do noticiário intenso, trouxe segurança ao setor de carnes. Ele lembrou que a J&F trabalhou intensamente na venda de ativos, para se capitalizar. "Temos de reconhecer, eles fizeram um trabalho extraordinário de convencimento junto ao setor produtivo", disse Torres.
Apesar de ter se recuperado, o JP Morgan ressalva que a JBS não está livre de turbulências. Por isso, a recomendação para a ação é "neutra". O banco lembra que, no primeiro trimestre, auditores e autoridades devem abrir dados sobre passivos da JBS. A empresa pode ser obrigada a pagar mais impostos e a rever valores de seus ativos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.