Brexit terá impacto sobre o Brasil

Saída do Reino Unido da União Europeia é apontada como retrocesso
Adriana Guarda
Publicado em 25/06/2016 às 7:00
Saída do Reino Unido da União Europeia é apontada como retrocesso Foto: Drew Angerer/AFP


A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (UE) vai reverberar no Brasil. Especialistas apontam consequências comerciais, cambiais e políticas nos próximos anos. Um das preocupações é com o desencadeamento de uma nova crise internacional, num momento em que o País tenta recuperar sua economia. Há uma expectativa de volatilidade das moedas, de enfraquecimento do comércio internacional e de dificuldade no trânsito de brasileiros que residem, trabalham e visitam o Reino Unido. 

“O Brasil vai sofrer os impactos indiretos do cenário de incertezas na UE, como a postergação de investimentos por exemplo. Também existe preocupação se outros países vão seguir a onda do Reino Unido e enfraquecer ainda mais o bloco, num momento em que o Brasil está tentando uma maior aproximação a partir do Mercosul. As negociações em bloco são mais assertivas do que as individuais, porque é preciso conhecer as especificações de cada mercado”, observa o professor de Economia Internacional na Universidade Federal de Pernambuco, Ecio Costa. 

Nos últimos 5 anos as exportações do Brasil para a UE já vinham em queda e com o enfraquecimento do bloco deverá continuar encolhendo. No ano passado, as vendas somaram US$ 33,9 bilhões numa redução de 19,27% sobre 2014 quando alcançou US$ 42 bilhões. Isoladamente o Reino Unido não é um parceiro emblemático para o Brasil, ocupando apenas a 15ª posição no ranking dos principais destinos. Em 2015 os desembarques de produtos brasileiros somaram US$ 2,9 bilhões, caindo 24,4% sobre o ano anterior. 

Na avaliação do sócio-diretor da Ceplan, Jorge Jatobá, o Brexit significa um retrocesso para o Reino Unido. “As implicações políticas serão significativas, porque esse movimento poderá fortalecer a direita conservadora de países como Holanda, França e Áustria. E isso poderá aumentar o sentimento de xenofobia contra os refugiados. Essa migração poderá desviar seu curso para a América Latina. No caso do Brasil a presença desses imigrantes até poderia ser positiva, mas o país está em crise e sem empregos”, pondera o economista. 

Do ponto de vista econômico, o Brexit provoca impactos tanto no Reino Unido quanto na União Europeia. “O mundo vai ficar diferente e mais difícil, porque a segunda maior economia da UE vai deixar o bloco. Isso sem falar na possibilidade de saída da Escócia do Reino Unido”, observa Jatobá. No plebiscito do Brexit, 62% dos escoceses votaram pela permanência na UE, numa demonstração de que não deverão aceitar o resultado. 

Os analistas também alertam para as mudanças nas regras de livre circulação no bloco. Os estrangeiros terão que se submeter a regras estabelecidas pela legislação nacional britânica. Atualmente, 120 mil brasileiros vivem na União Europeia. “O movimento migratório despertou um sentimento nacionalista no Reino Unido e isso vai refletir num movimento de fechamento das fronteiras. As mudanças não vão acontecer de uma hora para outra, mas existirá um programa de vistos, com classificações e metas por países”, diz Ecio Costa. 

Vivendo há 10 anos em Londres, o pernambucano Daniel Alheiros (41 anos) se preocupa com o impacto econômico que o Brexit trará e com a situação dos estrangeiros. Ele a a esposa Viviane Costa já são cidadãos britânicos desde 2012, mas as companhias onde trabalham têm time com forte participação de profissionais de outros países. Ele trabalha em um grupo que produz análise e conteúdo financeiro para advogados, gerentes de fundos de hedge e ela numa companhia de tecnologia para plataforma de jogos. 

“Pra gente que tem um filho de três anos e meio nascido aqui, estamos vendo a saída da UE como uma perda de opções pra ele mais adiante. Sempre gostamos da Europa pelo fato da multiculturalidade e isto está se perdendo com esta saída”, diz Alheiros. na percepção do pernambucano, o real motivo do Brexit não é o sentimento de nacionalismo. “Esse movimento foi um voto de protesto daqueles que estão insatisfeitos com o governo de austeridade que promoveu cortes nos serviços públicos e suporte a famílias em necessidade financeira. A classe política queria ter mais controle aqui. Como sempre, políticos brigando pelo que potencialmente seria melhor pra eles e não para a  sociedade. Diante disso, manipular uma massa de gente com um discurso nacionalista não é difícil nos dias de hoje. Vai ter um impacto severo na economia britânica”, lamenta.

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