Bordeaux e Borgonha disputam corações e mentes dos franceses. Afinal, num país repleto de regiões que produzem alguns dos melhores vinhos do mundo, qual das duas simboliza a excelência? Os diferentes tipo de terroir evitam maiores discussões: grosso modo, Bordeaux é a terra das uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e, em menor escala, malbec e merlot. A Borgonha se destaca pelas cepas pinot noir e chardonnay.
Há quem diga que os vinhos da Borgonha são femininos, pela delicadeza e complexidade das pinot noir. Os bordaleses, masculinos. Pela adstringência mais intensa dos cabernet.
A Borgonha é a França profunda, com influência da Igreja Católica e muito bucólica. Há cidades lindas e com boa infraestrutura urbana, como Dijon, porém o que predomina são pequenas localidades onde, no verão, o azul-turquesa do ceú contrasta com montanhas verdes, onde pastam vaquinhas da raça charolês, a mais típica da região. O clima é interiorano, com casas de pedra, cercas vivas formadas por arbustos, pouca gente e silêncio. Por vezes, só ouvimos o som de pássaros e de um ou outro besouro. Há cidades com 85 habitantes, como Prizy. “Aqui é todo mundo vereador”, brinca Jean-Marc Vaizand, que possui 60 vacas e uma fazenda de 102 hectares. O selo de proteção que garante a qualidade para o bife de charolês começou a ser concedido em 2014. Os padrões de qualidade são antigos, mas o reconhecimento é recente.
Já a denominação de origem controlada para o vinho da Borgonha existe há mais de 100 anos.
Francine Picard é proprietária de 135 hectares, onde produz vinhos num belo castelo medieval, o Chassagne-Montrachet. Simpática, explica como herdou a administração do pai, Michel Picard, e revela sua paixão pelo vinho. “Para mim é apaixonante preservar o meio ambiente, evitar produtos químicos na produção dos vinhos. Se posso usar um chá de urtiga para afastar pragas, por que vou usar produtos químicos?”
No castelo da família Picard, além de degustar, é possível visitar o parreiral e conhecer o processo produtivo. Nas caves, uma peculiaridade. Alças metálicas coloridas envolvem os barris, indicando que ali a produção de vinho é comandada por uma mulher. Olhos brilhando, Francine não esconde o orgulho de ser ela a responsável pelo colorido daquele ambiente escuro e medieval.