O dólar acelerou as perdas ante o real nesta tarde de quarta-feira (16) - seguindo a desvalorização generalizada da moeda no exterior -, após a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). O documento, considerado "dovish", destacou a fraqueza da inflação nos EUA, o que levou o mercado a projetar um atraso na continuidade de altas de juros no país. Foi visto também algum movimento técnico, além do voto de confiança que o mercado tem dado ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, após revisão da meta fiscal. Esta convicção, no entanto, foi caracterizada por alguns profissionais como exagerada, uma vez que a situação do país segue deteriorada.
A ata do Fed mostrou uma divisão entre os dirigentes em relação às futuras altas nos juros da economia americana. O enfoque principal foi a incerteza sobre os baixos números de inflação, com vários dirigentes apontando probabilidade de a inflação permanecer abaixo de 2% mais tempo que o previsto.
"O fato de os membros do Fed falarem que estão preocupados, ressaltando que a inflação não atinge a meta (de 2%) há mais de cinco anos e com alguns pedindo por uma parada na alta de juros para ver para onde a inflação deve ir, pesou no dólar", disse o gerente de câmbio do Banco Ourinvest, Bruno Foresti. Diante disso, a possibilidade de uma elevação de juros na reunião de dezembro passou de 46,7%, antes da divulgação da ata, para 39,6%, de acordo com os futuros dos Fed funds compilados pelo CME Group.
A avaliação da ata fez com que o dólar perdesse terreno frente a todas as moedas. Próximo ao fim dos negócios, a divisa americana renovou mínimas diversas vezes ante o real, em linha com as mínimas atingidas ante moedas emergentes e ligadas a commodities
O operador da corretora Multimoney Durval Corrêa disse, porém, que a queda de hoje foi exagerada devido aos problemas que o Brasil tem pela frente, embora os investidores tenham gostado da manutenção do rating do país pela Standard & Poor's e a retirada da observação negativa. Ontem, a equipe econômica elevou a meta fiscal do governo para um déficit de R$ 159 bilhões em 2017 e em 2018, além de anunciar previsões de déficits do governo central para os anos de 2019 e 2020. "A situação não está boa. A queda acentuada de hoje foi mais pela baixa liquidez do que otimismo. Por outro lado, o voto de confiança que o mercado tem dado a Meirelles tem sido grande, principalmente em relação à aprovação da reforma da Previdência", pontuou o operador da Multimoney.
Para Foresti, do Banco Ourinvest, o governo "terá que passar a reforma da Previdência de qualquer jeito. Caso aconteça um revés, a perda de confiança será muito grande e o dólar poderá buscar os R$ 3,30", podendo chegar a R$ 3,40, na avaliação de outros especialistas.
No mercado à vista, o dólar terminou em baixa de 0,86%, aos R$ 3,1473. O giro financeiro somou US$ 995 milhões. Na mínima, a moeda ficou em R$ 3,1458 (-0,90%) e, na máxima, aos R$ 3,1779 (+0,10%).
No mercado futuro, o dólar para setembro caiu 0,55%, aos R$ 3,1630. O volume financeiro movimentado somou US$ 18,51 bilhões. Durante o pregão, a divisa oscilou de R$ 3,1550 (-0,80%) a R$ 3,1880 (+0,23%).