Educação se torna capital social das empresas

Grupos investem na melhoria do ensino e na formação de jovens que respondem com crescimento pessoal e profissional
Edilson Vieira
Publicado em 15/09/2019 às 8:05
Grupos investem na melhoria do ensino e na formação de jovens que respondem com crescimento pessoal e profissional Foto: Divulgação


Ana Julia Santos tem 15 anos e estuda em uma escola municipal de Belo Jardim, agreste pernambucano, a 185 km do Recife. Com discurso firme e voz simpática, ela explica que há três anos era uma pré-adolescente bem mais insegura. Em atividades extra escola, oferecidas pelo Instituto Conceição Moura, ligado ao Grupo Moura, aprendeu técnicas de trabalho em equipe e liderança. Experimentou o empreendedorismo e reforçou sua relação com a comunidade colocando em prática conceitos de cidadania. “Eu não tinha uma visão tão aberta e, depois desses projetos, consegui quebrar minha timidez e até falar em público. Aprendi a acreditar nas minhas ideias e a focar nos estudos”, diz a adolescente.

A conterrânea dela, Ivaniele Vitória Lira, 18 anos, também foi além da escola. No caso, além-mar. Fez um intercâmbio de 10 dias em Portugal onde aprendeu mais sobre história do Brasil. Hoje, complementa as aulas de técnico em informática no IFPE de Belo Jardim com aulas de robótica. Assim como Ana Julia, Ivaniele participou de um treinamento em metodologia de liderança chamado “Icanamy”, desenvolvido por uma empresa do Porto Digital. “Existe uma Ivaniele antes e depois dos projetos. As experiencias me deram mais autoconhecimento, hoje tenho certeza que meus horizontes são mais amplos”, diz a estudante do 2° ano que pretende fazer faculdade de engenharia de software.

No Recife, o analista de marketing Ewerton Oliveira, 27 anos, relembra sua trajetória recente como aluno de escola pública na comunidade de Brasília Teimosa. Ele conta que fez um ensino médio bem tumultuado. A escola tinha deficiência de professores de exatas, o que o levou a buscar o reforço pré-vestibular que o Instituto JCPM de Compromisso Social oferece. “Até eu fiquei surpreso com a minha nota no Enem. Em redação fiz 815 pontos”, diz Ewerton. Ele ainda fez pelo Instituto cursos de fotografia e informática e aproveitou outras oportunidades, ingressando no Programa Jovem Aprendiz. Foi quando atuou na área de marketing do Shopping RioMar, o que definiu a escolha para o curso superior . “O instituto trabalha com a gente não só a questão educacional, mas também a comportamental. Percebi que não é por conta das condições do lugar de onde a gente vem que não podemos evoluir”, conclui Ewerton.

O que Ana Julia, Ivaniele e Ewerton têm em comum é que tiveram a oportunidade de participar projetos educacionais bancados por grandes empresas locais. A educação como investimento em responsabilidade social tem trazido bom retorno para o mundo corporativo e ainda mais para a sociedade. Para Lúcia Pontes, diretora de Desenvolvimento Social do Grupo JCPM, hoje existe um ambiente de empresas compreendendo que a educação no Brasil não pode ser realizada apenas pelo poder público. “A educação não pode ser só curricular e vir apenas dos governos porque nem sempre o poder público municipal, federal ou estadual tem a continuidade das políticas públicas e de apostar na juventude”.

EDUCAÇÃO

Lúcia Pontes diz que é feita uma pesquisa na comunidade para saber que tipo de atividade os jovens esperam. “Tem aqueles que querem já ingressar no mercado de trabalho, outros vão buscar o ensino superior. Conseguimos trazer essas opções para eles. Nosso pré-enem tem excelentes resultados. Este ano, 40% dos nosso alunos entraram em universidades públicas.” comemora Lúcia Pontes. Desde 2007, o Instituto JCPM já atendeu mais de 36 mil jovens. O Grupo JCPM investe por ano R$ 1o milhões em ações sociais. Esses recursos são próprios, sem abatimento do Imposto de renda. O valor é empregado na Fundação Pedro Paes Mendonça, que atua na Serra do Machado, em Ribeirópolis, Sergipe, além das seis unidades do Instituto JCPM, sendo uma no Recife, duas em Salvador (BA), duas em Fortaleza (CE) e uma em Aracaju (SE). A psicóloga Gabriela Monteiro, Coordenadora Executiva do Instituto Conceição Moura, estima que passaram pelos programas do Instituto 30 mil jovens. As ações, voltadas para moradores da cidade de Belo Jardim, englobam 12 programas, que vão de intercâmbio cultural, realizado em Portugal, a educação, arte e cultura e meio ambiente. Gabriela Monteiro acredita que um requisito para que o empreendedorismo social das empresas aconteça é o profissionalismo que, cada vez mais, é exigido no setor. “O profissionalismo da ações e parceiros envolvidos é fundamental para dar seriedade e credibilidade a este tipo de trabalho, que busca um impacto social. É preciso ter metas, resultados e prestação de contas”, disse Gabriela Monteiro. O Instituto Conceição Moura, tem um orçamento anual de R$ 3 milhões. Os recursos vêm de fontes como Lei Rouanet e projetos juntos ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O professor de ética e sustentabilidade social e responsável, do curso de Administração da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Márcio Waked, analisa que a educação se tornou um capital social importante, a ponto de fazer parte dos balanços das empresas junto com outro tema valorizado, o meio ambiente. “O capital humano precisa estar preparado para responder bem a este mundo digital e em transformação. Isto envolve não só a capacitação direta, com a formação voltada para a profissionalização, mas a melhoria do indivíduo como um todo”. Para o professor, as corporações passaram a entender que isto faz parte da sua missão. “Tornar o mundo melhor favorece também o desempenho da empresa. Olhando por qualquer perspectiva, é um bom negócio investir na educação desde o princípio”, concluiu Waked.

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