A crise é a mesma em todo lugar, mas na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff (PT) começou uma reunião com empresários em Fortaleza, no Ceará, assinando uma ordem de serviço para a construção de 51 quilômetros da Transnordestina que se inserem no trecho Missão Velha-Pecém da Ferrovia, ligando o sertão do Ceará ao litoral daquele Estado. No traçado original, a Transnordestina deveria seguir, simultaneamente, para os portos de Pecém, próximo a capital cearense, e o Porto de Suape. Serão gastos R$ 292 milhões para a implantação dessa parte do empreendimento, segundo informações do Ministério dos Transportes. “As obras estão caminhando mais para o Ceará. Isso é preocupante, porque uma ferrovia interligada à Suape daria um novo ar de esperança ao povo de Pernambuco”, lamenta o secretário estadual da Fazenda, Marcio Stefanni, numa entrevista ao radialista Geraldo Freire da Rádio Jornal.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico também argumenta que “é preocupante” as obras estarem avançando mais no trecho cearense e que os relatórios de acompanhamento da obra mostram isso, embora elas estivessem mais adiantadas em Pernambuco até o ano passado. Na eleição presidencial de 2014 algo mudou no cenário político. O então governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), passou para a oposição e o atual governador Paulo Câmara está do mesmo lado. Em fevereiro deste ano, assumiu a presidência da Transnordestina Logística S.A. (TLSA) o ex-governador do Ceará e ex-ministro, Ciro Gomes.
Aos poucos, a opção pelo lado cearense vai se consolidando. A Ferrovia Transnordestina já tem um terminal de cargas em Pecém, o TUP de uso privado da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A CSN é a dona da TLSA, uma empresa privada nascida para gerenciar as obras da Transnordestina, uma parte bancada pelo próprio grupo e outra por recursos estatais, como fundos do antigo Finor, financiamentos etc.
Ao ser questionado sobre as obras não avançarem em Pernambuco, Ciro Gomes resumiu a resposta em praticamente dois grandes itens que são impedimentos e a falta de um terminal privado para receber as cargas da ferrovia em Suape. Na lista dos impedimentos estão: a decisão judicial impedindo a demolição de uma igrejinha em Custódia, uma mudança num dos projetos executivos em que o local a ser cortado pelos trilhos receberá a Barragem Serro Azul (em Palmares), a desapropriação estimada de 1,2 mil famílias numa área antes da ferrovia chegar a Suape, entre outras.
Já com relação ao terminal privado, Gomes diz ser necessário uma equação para atrair sócios que cheguem a Suape e a empresa precisa levantar R$ 3 bilhões para concluir as obras da Ferrovia. “E para levantar o dinheiro, precisamos de uma definição de um terminal de Suape, que é um porto federal e o governo federal está num momento bom, fazendo tudo com muito agilidade”, afirma. Ele alega que o fato de dizer que a Transnordestina não está vindo para Suape é uma “futrica paroquial” e que está continuando o que já estava licitado quando chegou à empresa.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Thiago Norões, diz que o terminal que vai receber a carga da Transnordestina é um dos que serão licitados pela segunda etapa do Programa de Investimentos em Logística (PIL) previsto para ter o seu leilão de concessão realizado no primeiro semestre de 2016. Ele alega que estão sendo resolvidas as pendências citadas por Gomes.