Entenda os negócios por trás do Oscar

Indústria de Hollywood movimenta US$ 120 bilhões
Da editoria de economia
Publicado em 28/02/2016 às 10:35
Indústria de Hollywood movimenta US$ 120 bilhões Foto: AFP


Na noite deste domingo cinéfilos do mundo todo estarão de olhos vidrados na 88ª cerimônia de entrega do Oscar, no Teatro Dolby em Los Angeles. Enquanto as atenções se voltam para o desfile de modelitos no red carpet e o suspense se Leonardo DiCaprio leva sua primeira estatueta dourada, a máquina de fazer dinheiro de Hollywood vai girando. Na indústria que produz uma média de 700 filmes por ano, movimenta US$ 120 bilhões e gera 200 mil empregos, nada acontece por acaso. Pesquisas, estatística e avaliação de tendências fazem parte do script. 

“A premiação do Oscar tem muito mais a ver com pesquisa do que pode parecer. Pesquisar tendências revela insights que norteiam as decisões mais diversas de um negócio e em Hollywood isso não é diferente. Quem pensa em ser reconhecido entre os melhores e mais relevantes do ano precisa – e se aproveita – das tendências da época para facilitar o caminho até o topo”, observa Pedro D'Angelo, responsável pela área de Projetos e Relacionamento com o Cliente do Opinion Box, plataforma pioneira de pesquisa digital. 

Discussões sobre empoderamento feminino e visibilidade LGBT foram tendências que orientaram filmes na disputa desta edição do Oscar. Essas temáticas estão presentes em títulos como Carol, drama que mostra o romance entre duas mulheres nos anos 50 e em A Garota Dinamarquesa, com Eddie Redmayne no papel da transexual que fez a primeira cirurgia de mudança de sexo no mundo. “São temas polêmicos e que podem ser rejeitados por determinados expectadores, mas ao mesmo tempo tem público cativo e estão alinhados com as discussões atuais”, afirma D’Angelo. 

O cineasta e coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da AESO-Barros Melo, Paolo Gregori, diz que pesquisa de tendência é fundamental na atividade. “O cinema foi deixando de adotar temas clássicos e melodramáticos e foi o surgimento de novas tendias que fez com que cineastas como Thomas Anderson (Sangue Negro, Magnólia), Tarantino (Kill Bill, Pulp Fiction) e Scorsese (Touro Indomável, Os bons companheiros) ganhassem visibilidade”, pontua. 

No cinema, campanhas e verbas publicitárias são responsáveis por cacifar os filmes. Muitas vezes se questiona porque um título bem recebido pelo público não é indicado ao Oscar. “A questão é que o Oscar se parece muito mais com uma eleição do que com uma premiação por qualidade, por isso, campanhas e verbas publicitárias pesam muito nos indicados. Os estúdios investem pesado em pesquisas e pré-testes para entender a aceitação do público e escolher quais filmes, atores e atrizes receberão investimentos para concorrer a premiações”, destaca D’Angelo. 

O site do produtor e roteirista Stephen Follows traz informações sobre as campanhas bilionárias dos filmes. O custo de campanha de um título indicado ao Oscar de Melhor Filme chega a US$ 10 milhões e metade desse valor é aplicado em publicidade. Um anúncio na primeira página da revista norte-americana The Hollywood Reporter durante a temporada do Oscar custa US$ 72 mil. O filme "Crash" (2005) gastou 250 mil em DVDs de serviço, que são distribuídos com os jurados da Academia. O prêmio de Melhor Filme garante um aumento de US$ 3 milhões na renda bruta de um título. Os vencedores do prêmio de melhor ator podem esperar um aumento de US$ 3,9 milhões em seus salários, mas o machismo em Hollywood só permite que o ganho para as mulheres seja de US$ 500 mil. 

Além dos investimentos bilionários em pesquisa e publicidade outros interesses também influenciam o resultado da premiação. “O cinema é a indústria que mais recebe investimento do governo norte-americano depois da indústria bélica. Talvez isso explique porque Guerra ao Terror, que não teve grande público nos Estados Unidos e só foi exibido no Brasil pelo Telecine, tenha derrotado a superprodução Avatar no Oscar 2010. A explicação para isso é o interesse do governo de catapultar um assunto de interesse nacional”, acredita Gregori. 

Outra tendência do cinema é um número cada vez maior de adaptações de livros, quadrinhos, textos teatrais e séries de TV em detrimento de roteiros originais. Uma das explicações é a aversão ao risco. “Eu diria que tem a ver tanto com a necessidade de minimizar o risco quanto com a crise de ideias em Hollywood. Até os anos 70 os roteiros originais prevaleciam. A partir dos anos 80 é cada vez maior o número de adaptações. Existe uma tentativa de argumentar que é uma opção por atrair o leitor dos livros, mas isso não é verdade. A bilheteria de 50 Tons de Cinza é muito maior do que a venda de exemplares. O mesmo se repete com as sagas dos vampiros ou com os livros de Harry Potter”, defende Gregori, que torce para que O Regresso ganhe a estatueta de Melhor Filme e Leonardo DiCaprio a de Melhor Ator. 

TAGS
Oscar 2016 indústria do cinema hollywood economia
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory