Ferrovia Transnordestina está inacabada após 10 anos de obras

A equipe do Jornal do Commercio percorreu mais de 2 mil quilômetros em Pernambuco, Ceará e Piauí e só encontrou abandono
Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 03/07/2016 às 8:01
Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Dez anos depois do início das obras da Ferrovia Transnordestina, o pouco que foi construído está abandonado. Era "o sonho" de uma ligação férrea entre o litoral e o Sertão. É mais um capítulo de desesperança em três estados: Pernambuco, Ceará e Piauí. Pelo caminho, ficaram cemitérios de trilhos, uma parte de uma ferrovia concluída na qual passam motos e jumentos, mais de 80 vagões abandonados (em Missão Velha, Salgueiro e Terra Nova), uma fábrica de dormentes desativada, trilhos fixados no barro, entre outros símbolos do descaso. A reportagem do Jornal do Commercio percorreu 2,1 mil quilômetros.

Como a vida mudou

O sonho de um emprego com carteira assinada acabou, há dois meses, para o operário Luís Eduardo Dantas Sobreira, de 27 anos, demitido pela Brink Engenharia, empresa que fazia solda para os trilhos da Ferrovia Transnordestina. Ele trabalhava como operador de lixadeira e a sua demissão ocorreu “porque acabou o contrato com a Transnordestina”. Nos últimos seis anos, o sustento da família dele girou em torno das obras de implantação do empreendimento, que lhe propiciou sair da incerteza de uma agricultura de subsistência, a qual não resulta em qualquer ganho financeiro nos anos de estiagem, para fazer parte do time privilegiado dos brasileiros que têm um salário fixo no final do mês.

O primeiro emprego de Luís Eduardo com carteira assinada foi na Construtora Odebrecht em 2010. Até então, tinha trabalhado somente como agricultor. Nos últimos seis anos, casou, nasceram dois filhos – um menino de três anos e uma menina com quase dois meses – em empregos formais ligados às empresas que prestam serviço à ferrovia. “O interior do Nordeste é ruim de emprego, mas a gente esqueceu essa realidade por um tempo. Quando a minha esposa engravidou pela segunda vez fiquei preocupado porque vi as empresas – que prestavam serviço à obra – fechando ou indo embora”, lembra Luís, responsável pelo sustento da família.

No último trabalho, passou um ano e 11 meses. Agora, vai passar alguns meses pagando as contas com o seguro desemprego, o FGTS e depois ver se consegue outro emprego. Voltar para a agricultura ? “Penso não, porque com essa seca que tá aí ... tem ano que dá e ano que se perde tudo”, lamenta. Atualmente, há localidades no Sertão de Pernambuco completando cinco anos de estiagem. E complementa: “O futuro não fica muito bom, sem emprego. Tenho que caçar um meio de arranjar outro trabalho”. A esperança dele é de que “um dia as obras sejam retomadas”.

Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Situação da ferrovia em Missão Velha 10 anos depois do início das obras em junho de 2006 - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Os trilhos estão fixados no barro no trecho Missão Velha-Piquet Carneiro - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Atraso é mais um capítulo de desesperança condenando a Região a depender do transporte rodoviário - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Paralisação da obra deixou um rastro de desemprego em cidades como Salgueiro e Missão Velha (foto) - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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A mesma companhia constrói a ferrovia tem a concessão para explorar a antiga Malha Ferroviária do NE - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Hoje, os vagões deixaram de passar em vários estados, incluindo Pernambuco - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Cemitério de trilhos em Salgueiro. - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Alguns desses trilhos têm data de fabricação em 2010 - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Trilhos estão enferrujando ao ar livre em Salgueiro - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Ponte férrea no Sertão de Pernambuco - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Mais de 80 vagões estão abandonados nas cidades de Salgueiro, Terra Nova e Missão Velha - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Vagões abandonados já perto de Missão Velha, no Ceará - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Os dormentes estão abandonados em frente a fábrica de Salgueiro, que seria a maior da América Latina - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Dormentes se deterioram com o tempo - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Trecho da ferrovia entre Salgueiro e Missão Velha - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Trecho Salgueiro Missão Velha. Faz parte dos 500 km que foram finalizados - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Trecho finalizado entre Salgueiro e Missão Velha - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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A ferrovia avançou em Pernambuco quando a Construtora Odebrecht estava à frente da sua implantação - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Trecho em Paulista no qual a brita está por cima dos trilhos. Também falta drenagem no local. - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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O polo gesseiro poderia aumentar a sua produção caso tivesse um transporte mais barato - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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O polo gesseiro produz 3 milhões de toneladas por ano. - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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A falta de um transporte mais barato tira a competitividade do gesso do Sertão de Pernambuco - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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A ferrovia já corta vários municípios do polo gesseiro do Araripe - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Ferrovia Transnordestina Malha Ferroviária do Nordeste
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