Dez anos depois do início das obras da Ferrovia Transnordestina, o pouco que foi construído está abandonado. Era "o sonho" de uma ligação férrea entre o litoral e o Sertão. É mais um capítulo de desesperança em três estados: Pernambuco, Ceará e Piauí. Pelo caminho, ficaram cemitérios de trilhos, uma parte de uma ferrovia concluída na qual passam motos e jumentos, mais de 80 vagões abandonados (em Missão Velha, Salgueiro e Terra Nova), uma fábrica de dormentes desativada, trilhos fixados no barro, entre outros símbolos do descaso. A reportagem do Jornal do Commercio percorreu 2,1 mil quilômetros.
Como a vida mudou
O sonho de um emprego com carteira assinada acabou, há dois meses, para o operário Luís Eduardo Dantas Sobreira, de 27 anos, demitido pela Brink Engenharia, empresa que fazia solda para os trilhos da Ferrovia Transnordestina. Ele trabalhava como operador de lixadeira e a sua demissão ocorreu “porque acabou o contrato com a Transnordestina”. Nos últimos seis anos, o sustento da família dele girou em torno das obras de implantação do empreendimento, que lhe propiciou sair da incerteza de uma agricultura de subsistência, a qual não resulta em qualquer ganho financeiro nos anos de estiagem, para fazer parte do time privilegiado dos brasileiros que têm um salário fixo no final do mês.
O primeiro emprego de Luís Eduardo com carteira assinada foi na Construtora Odebrecht em 2010. Até então, tinha trabalhado somente como agricultor. Nos últimos seis anos, casou, nasceram dois filhos – um menino de três anos e uma menina com quase dois meses – em empregos formais ligados às empresas que prestam serviço à ferrovia. “O interior do Nordeste é ruim de emprego, mas a gente esqueceu essa realidade por um tempo. Quando a minha esposa engravidou pela segunda vez fiquei preocupado porque vi as empresas – que prestavam serviço à obra – fechando ou indo embora”, lembra Luís, responsável pelo sustento da família.
No último trabalho, passou um ano e 11 meses. Agora, vai passar alguns meses pagando as contas com o seguro desemprego, o FGTS e depois ver se consegue outro emprego. Voltar para a agricultura ? “Penso não, porque com essa seca que tá aí ... tem ano que dá e ano que se perde tudo”, lamenta. Atualmente, há localidades no Sertão de Pernambuco completando cinco anos de estiagem. E complementa: “O futuro não fica muito bom, sem emprego. Tenho que caçar um meio de arranjar outro trabalho”. A esperança dele é de que “um dia as obras sejam retomadas”.