Ampliação do Canal do Panamá muda desenho do comércio mundial

Inaugurada em junho, ampliação permite a passagem de embarcações maiores
Adriana Guarda
Publicado em 11/09/2016 às 7:00
Foto: Divulgação


CIDADE DO PANAMÁ – Uma multidão estava lá. Os relógios panamenhos marcavam 7h45 (9h45 em Brasília) quando o navio chinês Cosco Shipping Panama inaugurou a travessia da ampliação do Canal do Panamá. A embarcação entrou pelo lado do Atlântico e saiu no Pacífico, na tarde daquele domingo (26/6/16). A data marca o início do redesenho do comércio marítimo mundial. Com capacidade para receber navios maiores, o Canal vai encurtar distâncias, diminuir o tempo de transporte de cargas e reduzir o custo para os armadores (empresas donas dos navios). As oportunidades também se abrem para os portos mundiais e o Brasil está atento. O Complexo de Suape é um dos interessados em adaptar sua infraestrutura para receber navios maiores e se transformar num porto concentrador de cargas.

A ampliação do Canal demorou nove anos e custou US$ 5,25 bilhões. Foram construídas duas eclusas (espécie de elevador de água para os barcos): Água Clara e Cocolí, que se juntaram as já existentes (Miraflores, Pedro Miguel e Gatún). As novas têm 55 metros de largura, permitindo a passagem de navios com até 366 metros de comprimento e 13 mil toneladas de capacidade. As eclusas antigas tinham 33 metros de largura e só permitiam a passagem de navios com até 294 metros e 5 mil toneladas.

COMPETITIVIDADE

“Isso significa economia para os armadores, porque antes era necessário realizar várias viagens em embarcações menores. Agora são usados os barcos gigantes neo panamax, uma mudança histórica de patamar no comércio mundial para as mercadorias que precisam passar por essas rotas. Além de possibilitar novos tipos de cargas, a exemplo do gás liquefeito de petróleo”, observa Carlos Ortega, guia do Canal do Panamá no centro de observação de Água Clara.




Hoje as principais embarcações que passam pelo Canal são as de contêiner, graneleiros, tanques e refrigerados. Os Estados Unidos e a China são os maiores clientes. O diretor­executivo da MC Log Projetos e Consultoria, Marcilio Cunha, diz que alguns armadores poderão encurtar caminho para as Américas, antes feito pelo Canal de Suez (no Egito). “É uma economia significativa de dinheiro e de tempo de navegação. O Brasil poderá se beneficiar com o transporte de grãos, por exemplo. Mas os portos nacionais precisam investir em infraestrutura, apostando na adaptação dos portos para receber embarcações maiores e na construção de novos terminais”, diz.

Para o Panamá, o Canal significa sua consolidação e ampliação de fatia no comércio mundial, que hoje é de 4%. “A soberania do canal é nossa, após 85 anos de administração dos EUA. Em 2006, 75% da população votou sim no referendo que discutiu a ampliação do Canal”, recorda Javier Pimentel, guia do Canal em Miraflores.

* A repórter viajou a convite da Copa Airlines

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