Vale do São Francisco produz nova modalidade de uva sem semente

Começa a chegar nas prateleiras dos supermercados a doce BRS Vitória, desenvolvida pela Embrapa no Rio Grande do Sul
Fernando Castilho
Publicado em 18/09/2016 às 6:30
Começa a chegar nas prateleiras dos supermercados a doce BRS Vitória, desenvolvida pela Embrapa no Rio Grande do Sul Foto: DIVULGAÇÃO


Os produtores de frutas do Vale do São Francisco estão colocando no mercado seu mais novo produto: a BRS Vitória, a primeira variedade de uva de mesa negra, sem semente, produzida no Brasil. 

Seu diferencial, além do sabor adocicado, polpa de consistência suave e tamanho médio é ter grande potencial econômico. Na região do chamado sub-médio São Francisco, serão produzidas duas safras/ano, chegando a 50 mil quilos por hectare.

A BRS Vitória foi desenvolvida pela Embrapa Uvas e Vinhos, em Beto Gonçalves (RS). A cepa foi melhorada a partir da demanda dos mercado nacional e internacional. De início, os produtores levaram às prateleiras dos supermercados a primeira uva sem semente, a Festival. Depois, eles substituíram o produto gradativamente por variedade importadas, entre elas a Thompson e Sugra-One. 

Estas uvas, entretanto, produzem apenas uma safra/ano atingindo, no máximo, 25 mil quilos por hectares. 

A variedade Vitória foi desenvolvida, também, para ser resistente ao fungo míldio (Plasmopara viticola), principal doença fúngica da videira.

Desde o começo, a proposta dos pesquisadores da Embrapa foi dotar a nova variedade de resistência a esse tipo de doença. O melhoramento ficou pronto em 2012 e em 2013 e 2014 foi plantada no Vale do São Francisco, com apoio da Embrapa Semiárido.

Há uma grande expectativa dos produtores sobre a nova variedade. Um dos pioneiros no cultivo da BRS Vitória, em Petrolina, foi o empresário Ricardo Capellaro, líder de um grupo que está organizando a edição de um estatuto para a produção da variedade. “O objetivo, segundo o empresário, é ter um manual técnico escrito por um agrônomo de modo a orientar os produtores mirando na elaboração de um selo de qualidade”, diz Capellaro. 

A estimativa da Embrapa Semiárido de Petrolina é que, hoje, no Vale do São Francisco, já existam 200 hectares plantados com Vitória o que fará de 2016 o primeiro ano em que a variedade entra, de fato, no mercado. Registre-se também as primeiras exportações para Estados Unidos e Europa. 

EXPECTATIVAS

Segundo a pesquisadora Patrícia Leão, que está acompanhando a expansão da variedade em campo, há uma expectativa muito positiva sobre o sucesso da Vitória, ao mesmo tempo em que surge uma preocupação com os cuidados que a planta exige do produtor.

É que a beleza do cachos e densidade do preto podem induzir o agricultor a avaliar que o pomar está em tempo de colheita. Se ocorrer algum erro, o resultado será uma fruta fora do padrão. Daí, os produtores pioneiros começaram a formar um grupo de análise para criação de um padrão próprio de qualidade.

Segundo Patrícia Leão, apesar do acompanhamento da Embrapa Semiárido e das palestras de divulgação, o receio dos produtores e que uma colheita equivocada acabe “queimando” o produto no mercado. 

A aposta no potencial de Vitória está maior este ano, pois é a primeira vez em que a fruta será colhida em bases comerciais. O padrão da Thompson e da Sugra One acostumou o consumidor com uma uva de excelente qualidade. Vitória, portanto, entra na disputa por um consumidor disposto a pagar mais, porém que cobra altíssima qualidade. De qualquer forma, todos reconhecem que a BRS Vitória tem grande futuro. Visualmente, ela é maior que a conhecida uva Isabel, variedade de tamanho pequeno ainda plantada em Pernambuco e na Bahia, e um pouco menor que as uvas de sementes importadas.

COLHEITA

No campo, a engenharia genética da Embrapa Uvas e Vinhos permitiu, além da redução de custos com herbicidas, um manejo mais fácil.

Mas, como adverte a pesquisadora Patrícia Leão, o desafio está na finalização da colheita, pois para que a uva possa ter um maior tempo de prateleira ela exige ser colhida na hora certa. 

Ricardo Capellaro concorda com a advertência da pesquisadora: “Pelo que estamos vendo no seu desenvolvimento no campo, a BRS Vitória é uma variedade que dá ao produtor uma redução de custos com raleio (poda do cacho), herbicida já que é resistência ao míldio, produz mais cachos por planta.

Isso explica a necessidade de cuidado dos produtores que já estão com a variedade em campo. 

O que desejamos, diz o empresário, é uma uva com cor aroma e sabor. 

O Grupo Capellero efetuou esta semana, exportação dos primeiros contêineres da uva para os Estados Unidos, onde a variedade obteve grande aceitação após a exportação teste no mês passado. 

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