Nem o pagamento da segunda parcela do 13º salário dos trabalhadores foi suficiente para mudar o cenário do comércio do Centro do Recife. A cinco dias do Natal, as ruas permanecem com pouco movimento e os consumidores, quase sem sacolas. Se a crise aprofundada ao longo deste ano deve ser a pior desde 2012, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), no Recife a situação é agravada pela violência. Segundo lojistas, assaltos frequentes, principalmente no fim de semana, afastam quem tem dinheiro para gastar.
Quem trabalha na área afirma que a frequência de assaltos e roubos cresceu bastante em novembro e desde então o movimento foi prejudicado. “É muito assalto, com faca, com tudo. Até eu já fui assaltado. Desse jeito quem é que vai querer vir pra cá? O consumidor se espanta e não volta, aí o movimento cai”, resume o segurança de uma loja de variedades Sérgio Nogueira. Segundo ele, o movimento caiu cerca de 30% em comparação ao ano passado.
Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), de janeiro a novembro deste ano foi registrado um aumento de 26% no número de registros de crimes violentos contra o patrimônio na área em que está inserido o bairro de São José em comparação com o mesmo período de 2015. Esse tipo de crime engloba roubos em geral e extorsão.
A secretaria também informou que o policiamento foi reforçado com o apoio das Forças Armadas. Já a Polícia Militar, que está atuando em Operação Padrão até o dia 4 de janeiro, informou que a área teve policiamento reforçado com base nas “informações colhidas pelo serviço de Inteligência e em reuniões prévias com representantes dos lojistas”.
A Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife) afirma que solicitou reforço no policiamento e desde então não recebeu mais queixas. “Não recebemos mais reclamações dos associados. Mas, com descuido, isso sempre vai acontecer, porque assalto acontece em todo canto”, comenta o presidente da entidade, Eduardo Catão.
Mesmo assim, os lojistas dizem estar assumindo o prejuízo agravado pela violência. “Nosso movimento maior é em novembro, quando as pessoas estão começando a decorar a casa. Mas este ano foi muito fraco. Normalmente a gente zerava tudo, este ano ficou estoque”, diz a gerente da Casa Lapa, Janaína Ferreira.
O cenário é tão ruim que este foi o primeiro ano em que a loja não contratou funcionários temporários para o período de festas. No ano passado foram oito a mais para incrementar as vendas dos últimos meses do ano. Como um ciclo vicioso, o desemprego desaquece o comércio. “Estou dando entrada no seguro desemprego agora. Então cortamos todos os presentes, este ano só lembrancinhas”, destaca a auxiliar de contabilidade Luciene Marinho, 39 anos, que sustenta uma casa com três filhos e acabou de perder o emprego.
Na comparação com 2015, são 3,6 milhões de desempregados a mais em todo o País. Segundo a CNC, esse é um dos principais motivos para as expectativas negativas do período. A demora para a retomada da economia fez a entidade ampliar de 3,5% para 4% o percentual de queda de vendas.