Investigada na operação Lava Jato, a Camargo Corrêa está tentando vender vários de seus ativos no País. Em Pernambuco, a participação de 50% no Estaleiro Atlântico Sul (EAS) é um deles. Hoje a empresa divide meio a meio com a Queiroz Galvão a sociedade no empreendimento. A empreiteira quer dar foco na atividade imobiliária ao invés de se dedicar a segmentos de menos estratégicos.
Assim como está acontecendo com outros ativos, os efeitos da Lava Jato estão emperrando a venda dos ativos. No caso do setor naval a situação se agrava pela crise na Petrobras (também por conta da operação da Polícia Federal), que colocou em xeque o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro. Isso porque a retomada da construção de navios no País estava ancorada no programa estatal.
O desafio da Camargo Corrêa será convencer empreendedores interessados numa indústria que tenta se reestruturar no Brasil, depois de viver um longo período de dependência da Petrobras. No caso do Atlântico Sul, o estaleiro acumula uma dívida de R$ 2,5 bilhões e está tentando consolidar encomendas no mercado. Depois que a Transpetro cancelou a encomenda de sete navios com o EAS, por conta da Lava Jato e do programa de desinvestimento da Petrobras, a empresa foi ao mercado. Em dezembro do ano passado, o Fundo de Marinha Mercante (FMM) concedeu prioridade de apoio financeiro à Satco (empresa com braço em Cingapura) para aquisição de oito navios ao EAS.
Com o negócio, o estaleiro terá um investimento de R$ 2,2 bilhões e garante carteira até 2020. O pacote também significa novo fôlego para os empregos no setor em Pernambuco, que fechou 3 mil vagas entre 2014 e 2016, por conta da crise na Petrobras. Além do cancelamento dos petroleiros, o EAS também perdeu a encomenda de sete navios sonda, que seriam utilizados na exploração do pré-sal. Na avaliação do mercado, diante de tantas adversidades será difícil a Camargo Corrêa encontrar interessados em comprar sua participação no EAS quando o setor está em baixa no País e outros empreendimentos navais também estão à venda.
Por enquanto não se tem informação de interessados na compra do EAS, mas a Camargo Corrêa estava em conversas avançadas com a China Communications Construction Company (CCCC) em outro negócio, mas a transação emperrou na falta de segurança jurídica para evitar a herança das investigações da operação Lava Jato.
A Camargo Corrêa sempre capitaneou as negociações para implantação do Estaleiro Atlântico Sul em Pernambuco. No início das negociações com o governo Federal, durante a gestão do ex-presidente Lula, o empreendimento chegou a ser chamado de Estaleiro da Camargo Corrêa. Depois a empresa se associou à Queiroz Galvão e a PJMR (grupo de empreendedores do setor naval do Rio, que foram minoritários no projeto e saíram).
A coreana Samsung chegou a ser parceira tecnológica e a ter participação de 6% na sociedade, mas também deixou o negócio em 2012. Em seguida foi a vez do grupo japonês IHI Corporation entrar também como parceira tecnológica e sócia e atingiu 33% de participação acionária. Mas os constantes prejuízos do empreendimento e necessidade da realização de vários aportes por parte dos acionistas provocaram a fuga dos asiáticos.
Após tentar implantar um plano de reestruturação no EAS e de executivos japoneses ocuparem cargos de direção, a IHI decidiu abandonar o negócio. O estopim foi a necessidade de investir R$ 500 milhões em 2015 e R$ 340 milhões em 2016 para aumentar o capital social do EAS. Procurada pelo JC a Camargo Corrêa informou que os questionamentos deveriam ser encaminhados ao EAS e o estaleiro não deu retorno o pedido de entrevista.