O aumento da insegurança – Pernambuco registrou o primeiro semestre mais violento dos últimos 10 anos –, decorrente da crise econômica enfrentada pelo País, fez com que a busca por serviços de segurança patrimonial com uso de cães aumentasse no Estado, de acordo com empresários do ramo. Entre os atrativos da modalidade estão o custo-benefício e a resposta rápida. Mas quem tiver interesse em contratar esse tipo de serviço deve ficar atento: sem regulamentação específica, o trabalho é, muitas vezes, desempenhado por empresas clandestinas ou criadores sem a devida qualificação profissional.
O JC entrou em contato com três empresas que oferecem cães de aluguel para segurança na Região Metropolitana do Recife (RMR). O serviço, cujo custo é de R$ 800 a R$ 2 mil mensais, é desempenhado por cães das raças doberman, rottweiler, fila, pastor alemão e pastor belga malinois. Os preços podem variar de acordo com a logística, raça e nível de adestramento. Por mês, um animal chega a custar R$ 600, entre alimentação e cuidados médicos. O faturamento depende do porte da empresa e varia de 15% a 80% da receita total.
Na Encanto Segurança Patrimonial, o incremento na procura começou em abril último.
A empresa trabalha há sete anos no ramo e conta com mais de 150 cães. O investimento começa quando o cão ainda é filhote. “O animal é escolhido por uma equipe de seleção. Então, começa o treinamento. É um processo que leva em torno de um ano e meio, até que ele possa trabalhar”, explica Flávio Brito, diretor-executivo da empresa.
A procura pelo serviço também aumentou no Canil Colosso, que há 25 anos disponibiliza cachorros para segurança patrimonial. “Em contrapartida, a concorrência cresceu de maneira desleal. Muitas empresas ou criadores oferecem preços mais baixos, mas não têm a estrutura nem o treinamento que oferecemos aos nossos cães”, ressalta o proprietário Marcos Aurélio Silva.
Na empresa, os animais atuam por turnos. Para cada seis horas trabalhadas, eles têm direito a 18 horas de descanso. Além disso, após 11 meses desempenhando a função, os cachorros recebem 30 dias de férias. No canil, que conta com 350 cães para segurança, é possível alugar ou comprar um cão já adestrado. O custo da última opção fica entre R$ 15 mil e R$ 20 mil.
Para contratar o serviço, as empresas fazem algumas exigências. É necessário ter uma área cercada, com fonte de água e abrigo para sol e chuva. A Guerreiros Dispostos, que atua há 20 anos no segmento, é bem específica nos critérios. “O terreno deve ter, no mínimo, seis metros quadrados e muros de 2,2 metros de altura. Também não colocamos cães em risco em lugares perigosos”, afirma o cinotécnico Flávio Costa. Atualmente, o empreendimento disponibiliza 32 animais, entre os quais estão quatro doados.
“Nem todos os cães são treinados desde pequenos. Muitos deles são de proprietários que não têm como criar. Nós treinamos e trabalhamos para corrigir problemas e possíveis traumas. Os que não se enquadram no trabalho, são colocados para adoção”, detalha Costa. A aposentadoria acontece em tempo variável e todos são encaminhados para lares adotivos.
O aumento nos índices de violência trouxe, nas empresas ouvidas, uma mudança no público atendido. Antes, a procura era quase exclusiva por parte das grandes empresas do setor de construção civil. Hoje, residências desocupadas, faculdades, indústrias e comércio integram a lista de clientes.
Ter um cão como segurança representa economia. “Enquanto um posto de vigilância custa R$ 6 mil, oferecemos cães a R$ 1.500”, argumenta o diretor-executivo da Encanto. “A resposta para dispositivos eletrônicos pode demorar de 40 minutos a duas horas. A segurança com o cão é presencial”, destaca o cinotécnico da Guerreiros Dispostos.
No Estado, os canis são vistoriados pela Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro-PE), junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV). “É um trabalho difícil, porque a grande maioria não é legalizada. São criadores sem qualificação, que alugam animais para empresas”, conta o coordenador de fiscalização do CRMV, Ivanildo Porto. Apenas três empresas são registradas no conselho. Apesar da falta de uma legislação específica, caso sejam encontrados indícios de maus-tratos, o negócio pode fechar as portas.
A quem interessar o serviço, o coordenador lança um alerta. “Procure saber sobre a empresa, se é credenciada junto à Adagro ou se tem cadastro no CRMV. É necessário que todos os envolvidos tenham habilitação profissional para lidar com os animais.”