As fortes chuvas que caíram na Região Metropolitana do Recife (RMR) nas últimas horas também deixaram um rastro de prejuízo na economia. Não é possível mensurar o “estrago” em valor, mas os impactos são percebidos em todos as atividades que compõem o Produto Interno Bruto (PIB) – serviços, indústria e agropecuária. Em evento semelhante ocorrido no Rio de Janeiro, com registro de chuvas recorde nos dias 8 e 9 de abril, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) realizou um estudo do impacto das chuvas e estimou uma perda de R$ 39,8 milhões no PIB do setor. Em Pernambuco, os alagamentos e a dificuldade de mobilidade para chegar chegar ao local de trabalho foram os principais entraves à produção.
Na indústria, a chuva traz impactos como dificuldade de escoamento da produção e recebimento de matéria-prima, falta de energia elétrica/internet/telefone, alagamento no entorno da empresa e do parque industrial e ausência dos funcionários que não conseguem chegar ao local de trabalho.
Na Pamesa – fabricante de porcelanato, cerâmicas e revestimentos com fábrica em Suape, o ônibus que faz o transporte dos funcionários de um dos turnos de produção atrasou duas horas para chegar.
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“Já temos uma infraestrutura precária em tempo seco, imagine com toda essa chuva em apenas 24 horas? Com os alagamentos, o trânsito trava os caminhões que não chegam para carregar com produtos, atrapalhando nosso faturamento. Outra questão significativa é a entrega de matérias-primas, porque a indústria moderna costuma trabalhar com produção just in time, otimizando seus estoques e diminuindo a exigência de capital”, destaca o presidente da Pamesa, Marcus Ramos Júnior. O empresário estima uma queda de 20% no movimento de caminhões por conta do impacto das chuvas, que é de 80 por dia.
Também instalada em Suape, a Frompet (fabricante de pré-formas para embalagens PET) enfrentou dificuldades com a chegada de colaboradores dos municípios de Abreu e Lima, Olinda e Paulista. O presidente Marcelo Guerra conta que alguns caminhões programados para buscar produtos também não conseguiram chegar ontem, mas que aguardada compensar a situação hoje.
A empresária Marcelle Sultanum, da Rishon Cosméticos, com fábrica em Afogados, conta que a principal dificuldade foi com o atraso na chegada dos funcionários. “Alguns colaboradores só conseguiram chegar por volta das 11h, quando os turnos começam entre 7h e 8h. Mesmo assim, ainda conseguimos funcionar a produção e foi melhor do que em outros dias críticos de chuva”, comenta.
“Seria preciso fazer um estudo para mensurar os impactos em valores, mas não é difícil imaginar a quantidade de negócios que deixaram se ser realizados por causa das chuvas. É como se fosse um dia perdido para a economia. Os funcionários das empresas não conseguiram chegar, não produziram, mercadorias deixaram se ser entregues, o setor de serviços funcionou de forma precária. Sabemos que se trata de um evento da natureza, mas ao mesmo tempo tem a questão da falta de investimento e da necessidade da educação. Nesse momento, por exemplo, está acontecendo um evento no Rio sobre cidade inteligentes e uma empresa apresentou uma espécie de sensor para bueiro, que avisa a prefeitura se tem objetos entupindo a passagem e apontando a necessidade de fazer a limpeza”, exemplifica o professor de economia da UFPE, Ecio Costa.
INFORMALIDADE
O economista da Ceplan Consultoria Ademilson Saraiva destaca o impacto a chuva para o comércio e o trabalho informal. “O comércio é diretamente afetado pela falta de circulação de clientes e que esse efeito acaba se prolongando com o adiamento das compras. Isso acaba refletindo na produtividade e na queda do salário real”, observa. “Em função da alta taxa de desemprego, as chuvas ainda vão impactar o trabalho informal, porque hoje muitas pessoas estão apostando nos aplicativos de veículos e em outras atividades informais para ter renda”, complementa.