O desastre ambiental no litoral do Nordeste chamou a atenção do mundo. O ímpeto de voluntários e de quem vive da praia e do mar em limpar as manchas de óleo, antes de uma intervenção organizada do governo federal, expôs a fragilidade da União em combater o problema. O óleo atingiu 286 pontos da costa nordestina, comprometendo a atividade econômica, trazendo impacto social e prejuízos à saúde da população. O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública contra a União, alegando o não acionamento do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC), enquanto o governo insistia já tê-lo feito porque reuniu um comitê de crise.
Professora sênior da Universidade de São Paulo (USP), Yara Schaeffer Novelli, foi uma das primeiras a levantar a voz sobre a inércia do governo brasileiro na busca de solução para o desastre com o óleo no Nordeste. “Existe um plano que nasceu em 2013 e que existe para isso, porque a atividade de petróleo é de alto risco. O governo esqueceu que temos toda essa memória técnica? Esse óleo se tornou uma epidemia e isso é caro. Caro em imagem, caro em saúde humana, caro em atividade socioeconômica, caro em vidas marinhas e de água doce, caro em economia de subsistência, caro para o turismo e caríssimo para os verdadeiros brasileiros que foram submetidos a uma atividade para o qual não estavam preparados”, diz.
O professor do Instituto de Física da USP e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais exonerado no governo Bolsonaro, Ricardo Galvão, também observa que o governo Federal não soube acionar os recursos disponíveis para buscar soluções e reduzir os impactos do desastre. “Os técnicos do INPE são os maiores especialistas do País na leitura de imagem de satélites. Além disso, o órgão tem acordos de cooperação com institutos da Europa e da China que possuem satélites de radar capaz de detectar manchas de óleo no mar. Isso poderia evitar que o óleo viesse ser tirado na costa, matando a fauna e exigindo o trabalho de um grande número de voluntários”, observa.
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Na última sexta-feira a Polícia Federal divulgou que o petroleiro de origem grega Bouboulina é o principal suspeito do derramamento de óleo na costa nordestina. A partir de agora será mais uma vez colocada em xeque a capacidade do Brasil de conclusão da investigação e punição dos culpados pelo maior desastre já ocorrido no Nordeste. Catástrofe ambiental semelhante aconteceu na Espanha, em 2002, quando o navio Prestige, navegando na costa da Galícia (no noroeste espanhol) sofreu uma rachadura no casco e poluiu 2 mil quilômetros de litoral, chegando até a França. O valor da multa só foi estipulada em 2016, no valor de 1 bilhão de euros, depois de um longo processo judicial, mas ainda não foi paga.