Atualizada às 22h37 do dia 23 de janeiro de 2020
SALVADOR – O formato geométrico remete à pomba símbolo da bandeira soteropolitana. Não por acaso. Construído todo em alumínio e vidro autolimpante, numa área de 103,2 mil m2 de frente para o mar, o novo Centro de Convenções Salvador Antônio Carlos Magalhães promete voltar a fazer o turismo de eventos e negócios alçar voo na cidade. Inaugurada nesta quarta-feira (22), numa cerimônia para dois mil convidados, a estrutura representa uma redenção para o setor, após cinco anos sem um equipamento de grande porte, desde que o centro de convenções estadual foi fechado em 2015 e desabou parcialmente em 2016. O novo espaço já nasce com pelo menos 20 eventos confirmados para 2020, entre mais de 100 prospectados.
Para o Recife, o Centro de Convenções de Salvador significa aumento da concorrência, já acirrada com Fortaleza, pelas grandes conferências e concertos internacionais, principalmente diante dos problemas de manutenção e da necessidade de requalificação que enfrenta o Centro de Convenções do Estado.
O prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) diz que será "agressivo" na captação dos eventos, embora "não pretenda subtrair turistas de outros lugares". “É um equipamento preparado para reposicionar a capital baiana como um dos principais destinos do turismo de negócios do Brasil", afirma, ressaltando que o centro foi construído no tempo recorde de 15 meses. "A presença dele fortalece a região como um todo e acredito que deve ser uma preocupação regional, inclusive dentro do Consórcio Nordeste, principalmente a atração do turista estrangeiro, com eventos internacionais", contemporiza.
De acordo com ACM Neto, a meta é recuperar o terceiro lugar que Salvador já ocupou no ranking de destinos de negócios, logo após São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2013, a cidade havia caído para a nona posição e hoje está em quarto, junto com Florianópolis, segundo dados da Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA). Recife, por sua vez, ocupa o 10o. lugar nos critérios da ICCA.
Entre outras autoridades, prestigiaram a inauguração o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM) e o procurador-geral da República, Augusto Aras.
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Já considerado um dos mais versáteis e charmosos do País, o novo centro multiuso de Salvador incorpora tecnologia de ponta para receber até 14 mil pessoas simultaneamente em congressos e feiras, além de 20 mil em shows na arena externa. Uma mostra dessa capacidade é a apresentação da cantora Maria Bethânia no pavilhão A, que ocorre na noite desta quarta (22) utilizando projeções a laser de alta resolução e sonorização surround 5.1, fazendo a voz da cantora ecoar ainda mais límpida e potente. No próximo domingo, ocorre a abertura para o público geral, com shows gratuitos de Cláudia Leitte e Lore Improta, desta vez ao ar livre, com vista para a orla da Boca do Rio, onde o centro se localiza.
ESTRUTURA DO CENTRO DE CONVENÇÕES DE SALVADOR
De surpreender até organizadores experientes de feiras, a estrutura contempla dois andares totalmente climatizados divididos em duas alas, separadas por foyers centrais, além de um terceiro andar com restaurante e terraço a céu aberto. Na parte de trás, está o espaço para grandes shows. Já o estacionamento conta com 1,46 mil vagas. No total, a área construída é de mais de 34 mil m², que demandaram investimentos de R$ 130 milhões do município.
Na avaliação da presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), Fátima Facuri, o novo centro reinsere Salvador na rota internacional das grandes convenções, feiras e shows, “com potencial de liderar o setor no Nordeste”.
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Um dos grandes diferenciais citados pelos especialistas da área é a gestão privada do equipamento, a cargo da empresa francesa GL Events, uma das maiores do setor no mundo e responsável também no Brasil pelo São Paulo Expo, RioCentro e Jeunesse Arena, os dois últimos no Rio de Janeiro. Para assumir o Centro de Convenções de Salvador, a GL pagou R$ 10 milhões de outorga fixa à prefeitura e aportou R$ 15 milhões tanto em equipamentos e mobiliário quanto em captação.
Em 25 anos de concessão, serão investidos R$ 50 milhões e o plano é realizar entre 70 e 100 eventos anuais. Entre os já contratados para este ano, segundo a GL, estão o Festival Afropunk, SuperBahia (feira de supermercados), Convenção da Polishop e Yes Show Room (feira de móveis). “Temos três agências internacionais em Londres, Nova York e Xangai para dar visibilidade a Salvador no mundo e atrair os eventos”, diz o CEO da GL Events no Brasil, Damien Timperio. Ainda para 2020, o executivo projeta uma receita de até R$ 9 milhões, que deve chegar a R$ 25 milhões em 2023. Já os custos de manutenção ficam em torno de 40% do faturamento. Timperio ainda destaca que o novo centro vai gerar 100 vagas de empregos diretas e até duas mil temporárias, a depender do evento.
EMPRESÁRIOS AVALIAM NOVO EQUIPAMENTO
Presente à inauguração, o presidente do Grupo JCPM e do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), João Carlos Paes Mendonça, ressalta que um centro de convenções qualificado e moderno traz impactos para a cidade que vão além do seu espaço físico. "Insere o Estado na rota de grandes eventos, o que se reflete na geração de renda e influencia fortemente o turismo de negócios", diz.
O secretário municipal de Cultura e Turismo de Salvador, Cláudio Tinoco, corrobora. Segundo ele, estima-se um impacto em mais de 50 setores da economia e movimentação de R$ 150 milhões até 2022, chegando aos R$ 500 milhões a partir do sexto ano de operação (2026). “Todos estão otimistas, desde os donos de hotéis, bares e restaurantes até o taxista, o comerciante informal”, afirma, lembrando que o turista de negócios e eventos gasta quase cinco vezes mais no Brasil (em média, US$ 329,39 ao dia) que o turista de lazer (US$ 73,77), segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas e Embratur.
Para Paulo Marques, diretor de Novos Negócios do grupo Fera Investimentos, que administra o hotel Fera Palace, na região histórica de Salvador, o centro de convenções contribuirá para o combate à sazonalidade. “Vai complementar a demanda de lazer, trazendo um hóspede de maior poder aquisitivo durante toda a semana e todos os períodos do ano, o que é essencial para a hotelaria butique, com o nosso caso.”
MOVIMENTAÇÃO ECONÔMICA
Somente em 2020, espera-se um aumento da ocupação hoteleira em seis pontos percentuais, dos atuais 62% para 68%, chegando a 80% até 2023, de acordo com o presidente da seccional baiana da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), Luciano Lopes. Ele destaca que a localização estratégica é outra vantagem do equipamento, que está a 15 km do aeroporto. “Também é equidistante dos principais polos hoteleiros (Itapuã/Stella Maris; Centro; Barra/Ondina), o que favorece uma boa logística de deslocamento.” Atualmente, diz Lopes, Salvador conta com 404 hotéis e 40 mil leitos, apenas 16 deles com estrutura de pequeno e médio porte para receber de 500 a no máximo 3 mil congressistas.
Segundo Roberto Duran, presidente da Salvador Destination, responsável pela promoção e captação de eventos para a capital baiana, o novo momento é a “cereja do bolo” de um trabalho desenvolvido em parceria entre o trade e o poder público para preparar a cidade e despertar o interesse do público e dos líderes de entidades que realizam congressos. “Isso também inclui a requalificação do portão de entrada do aeroporto e agora o trabalho de capacitação da mão de obra e de retrofit do parque hoteleiro e de restaurantes, que contam com a possibilidade de reverter 40% do IPTU para essas ações”, detalha. Duran acrescenta que a Salvador Destination captou 51 congressos e convenções, alguns com feiras paralelas, para o novo centro de convenções. A perspectiva é trazer entre 1.500 e 10 mil congressistas à cidade por evento. “Outros 80 estão em fase de captação”, conta.
Em 2019, Salvador recebeu 9,9 milhões de turistas, contra 9,3 milhões em 2018. Com o novo equipamento e as demais ações de impulso ao destino, estima-se aumentar o fluxo em um milhão por ano, em média.
* viajou a convite da Prefeitura de Salvador
Perfil do turista em Salvador
Quantidade - 9,9 milhões em 2019 e 9,3 milhões em 2018
Brasileiros - 96,8%
Estrangeiros - 3,2%
Principal Faixa Etária: 36 a 50 anos - 40,6%
Renda Mensal (média) - R$ 6.922
Sexo Feminino - 33,4%
Sexo Masculino - 66,6%
Principal Meio de Hospedagem: Hotel - 49,6%
Tempo médio de permanência - 8 noites
Gasto Total na Viagem (média) - R$ 909,19
Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult)
O mercado de eventos e turismo
R$ 32 trilhões gerados por ano no mundo
R$ 936 bilhões por ano movimentados no Brasil
Participação de 12,93% no PIB brasileiro
25 milhões de empregos gerados no País, um de cada 4 empregos diretos ou indiretos
590 mil eventos por ano são realizados no Brasil, cerca de 1.600 por dia
Eventos são o terceiro principal motivo da visita de turistas estrangeiros ao País
Também são a razão principal das viagens de 60% dos passageiros em voos domésticos e internacionais
43% de todas de todas as viagens de negócios são estendidas por razões de lazer pessoal
As viagens de negócios cresceram 14,7% no primeiro semestre de 2019, comparado com o mesmo período de 2018
Gastos tiveram alta de 14,8%, saindo de R$ 4,85 bilhões para R$ 5,57 bilhões
Fontes: Abeoc; Ubrafe e Ministério do Turismo